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Brasil tem 1 estupro marital a cada 40 minutos: 'Me calava com travesseiro'

De Universa, em São Paulo

18/07/2023 11h00

Abuso sexual pode acontecer de uma pessoa muito próxima da mulher: o próprio marido. Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 40 minutos há um caso de estupro marital no país.

"Meu ex-marido forçava tanto que eu acordava sangrando", diz a autônoma Juliana Rizo, 34, que foi vítima de violência sexual praticada pelo companheiro enquanto estava dopada com antidepressivos —os episódios foram filmados por câmeras de segurança, e ele foi preso. "Ele colocava um travesseiro no meu rosto para eu não gritar", diz. O caso dela será discutido durante o programa.

Juliana conta que, no começo do relacionamento, era "tudo perfeito", pois estava na fase da conquista. Durou um ano. O comportamento do ex mudou após ela engravidar. "Passei a sofrer agressões verbais, físicas e psicológicas", diz.

Além da situação abusiva com o companheiro, a qual ela não tinha forças para deixar, Juliana também perdeu a mãe. Foi quando começou a ter sintomas de depressão. Na época, o companheiro a levou em sua psiquiatra para que ela tivesse ajuda.

"Comecei a tomar medicamento e ficava dopada. Foi aí que começaram os estupros. Não tinha noção, ele me arrastava pela cama. Cheguei a acordar com dor e sangue", disse Juliana.

Filmagens de câmeras de segunça mostravam estupros

Ela conta que o ex havia instalado câmeras de segurança no quarto do casal para monitorar o comportamento da filha dele. "Eu tinha acesso às imagens no meu celular", diz Juliana. "Um dia, voltei as filamgens da noite anterior e vi o que tinha acontecido. Comecei a pegar nojo dele como homem, mas ele não me permitia trabalhar, controlava tudo. Me agredia fisicamente. Eu não podia nem ter opinião própria que era agredida e ofendida."

Dois anos depois do início do tratamento da depressão, Juliana sentiu que estava melhorando. Foi quando decidiu fugir com os filhos só com a roupa do corpo. Como ainda se sentia ameaçada, arrumou forças para ir a delegacia fazer um boletim de ocorrência —algo que não teve coragem de fazer antes. "Relatei para a delegada que eu sofria estupro, que tinha até imagens, mas que achava que o crime tinha prescrevido. Ela me disse que não", conta. O agressor está preso. Hoje, Juliana é ativista pelos direitos das mulheres.

Um relato parecido foi feito por Jullyene Lins, 48, a Universa. A ex-mulher do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, o acusa de ter sido agredida e estuprada por ele, mas diz que, ao denunciá-lo, não citou a violência sexual. "Travei ao chegar à delegacia. Era um lugar cheio de homens, eu ia falar de uma pessoa conhecida, que era deputado estadual, falar que tinha sido violentada sexualmente e me responderiam: 'Mas ele é seu marido. Qual o problema?'", diz. Lira foi procurado pela reportagem para falar sobre as acusações, mas disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "não está respondendo a qualquer veículo sobre esse assunto de ordem familiar".

"Há falsa noção que violência sexual é parte do casamento", diz promotora

"A maioria das mulheres entende que só há violência quando há marcas físicas, sequelas. Quanto à sexual, ainda há uma falsa noção de que faz parte do repertório do casamento e, se houver um eventual excesso, não seria realmente um estupro", disse a promotora de Justiça de São Paulo Valéria Scarance, professora de direito da PUC-SP e especialista em violência de gênero.

Livro - Divulgação - Divulgação
"A Vida Nunca Mais Será a Mesma", de Adriana Negreiros
Imagem: Divulgação

Ela explica que estupro marital não chega a ser um crime. "Mas essa violência configura estupro, já previsto no Código Penal. E a pena variará de acordo com as circunstâncias", diz Valéria, referindo-se à punição que pode ir de seis a 30 anos.

Para quem quiser se aprofundar mais sobre o tema, o livro "A Vida nunca mais será a mesma", de Adriana Negreiros (Ed. Objetiva), traz reflexões sobre a cultura do estupro no Brasil.

Como denunciar se você for violentada por seu parceiro?

Cristina Fibe, jornalista, especialista em cobertura de gênero e colunista de Universa, aconselha, se for possível, procurar atendimento especializado, como uma delegacia da mulher ou um núcleo de atendimento à mulher. "Também dá para denunciar e procurar ajuda pelo telefone, no 180, que também conta com serviço de WhatsApp (61) 9965-65008. Em caso de emergência, pode ligar no 190, porque violência contra mulher é caso de polícia, sim", explicou ela durante o "Sem Filtro".


Seguem aqui os outros temas que foram destaque nesta edição do "Sem Filtro":

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Assista ao Sem Filtro

Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.

Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal UOL.

Veja a íntegra do programa: