Scarlett Johansson é maior vítima de pornô: por que IA é risco a mulheres

Nesta semana, a propaganda de uma empresa de automóveis com a cantora Elis Regina acendeu a discussão sobre inteligência artificial e alterações de imagens em vídeos. No caso de Elis, tudo foi feito com a autorização da família —a própria filha, Maria Rita, participa da campanha. Mas e quando essas imagens são usadas sem o consentimento da pessoa e, pior, em situações que a expõe sexualmente?

Uma pesquisa feita pela empresa americana de segurança Deep Trace mostrou que 96% do conteúdo produzido com o uso de inteligência artificial na internet é pornográfico. O alvo desses conteúdos falsos são, em 100% dos casos, mulheres, ainda de acordo com o estudo.

É possível encontrar facilmente sites de conteúdo adulto que fazem essas alterações de imagem com o rosto de diversas famosas. A reportagem acessou alguns desses e a maior quantidade de vídeos são de montagens com as atrizes Scarlett Johansson e Emma Watson —essa última teve sua imagem aplicada em um vídeo que viralizou no Twitter, também com conteúdo erótico. Outras vítimas famosas são a cantora Taylor Swift, Jenna Ortega e Gal Gadot. Mas a lista é sempre atualizada rapidamente.

Relacionadas

Como PL das fake news vai combater o ódio às mulheres na internet

Ativistas britânicas pedem que pornô de vingança se torne crime sexual

Cantora diz que sofreu pornô de vingança aos 14: 'Pensei que podia confiar'

Mas anônimas também podem ser alvo, uma vez que fotos e vídeos em redes sociais são matéria-prima para as alterações. Em um mundo em que a maioria de nós já publicou posts ou mandou áudio por WhatsApp, o receio de que qualquer pessoa pode ser vítima desse crime é válido.

No Brasil, a pena para quem faz montagem com foto, vídeo ou áudio em cena de nudez ou de ato sexual sem o consentimento alheio é de um a seis meses de prisão, mais multa.

"As deepfakes podem se enquadrar em outras questões no âmbito criminal e civil: exposição da mulher, má utilização da imagem, conteúdo que fere a integridade física e mental. Tudo depende da estrutura dessa deep fake", diz Christian Perrone, coordenador de direito do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, referindo-se ao termo em inglês que define uma imagem manipulada por inteligência artificial para recriar movimentos ou voz de alguém.

Christian diz que, de acordo com o Artigo 21 do Marco Civil da Internet, as empresas que prestam serviços online têm obrigação de tirar esse conteúdo do ar. Por isso, ao se deparar com um vídeo desse, o primeiro passo é entrar em contato com a rede social onde ele está publicado e pedir para que seja retirado.

"O que se busca é que esse conteúdo não se espalhe. Por isso, antes de pensar em ações criminais, o ideal é entrar em contato com o servidor da rede social", explica Christian. As plataformas podem demorar até 24 horas para tirar esse vídeo ou foto do ar. O que é muito tempo quando pensamos em possibilidade de viralizar, mas é mais rápido do que um pedido na justiça. "Depois você pode ir na policia e fazer outro grau de denúncia", explica Christian.

Para a antropóloga Beatriz Accioly Lins, autora do livro "Caiu na Net: Nudes e Exposição de Mulheres na Internet" (ed. Telha), mesmo que seja uma cena manipulada, imagens que desnudam uma mulher ou que a colocam em versões nuas são tão graves, para elas, quanto se fosse real. "Os impactos na vida dessas mulheres que não consentiram é tão real quanto se fosse. A exposição pública é a mesma. Não faz diferença", explica.

Crime tem pena de seis meses a um ano de prisão

A jornalista e especialista em cobertura de gênero Cristina Fibe explica que usar a inteligência artificial para fazer conteúdo pornográfico é considerado crime. "Vale para vídeo, foto, áudio. Não pode, dá seis meses a um ano de detenção", esclareceu ela.

A colunista de Universa Cris Guterres contou que, em 2017, utilizaram uma foto dela sem permissão. "Não era inteligência artificial, mas usaram um post meu para fazer ataques racistas."

Existe lei para uso de imagem em conteúdos falsos?

Inteligência artificial pode criar imagens de pessoas sem consentimento. Dá para evitar?

Seguem aqui os outros temas que foram destaque nesta edição do "Sem Filtro":

'Agressor de mulher precisa ser responsabilizado penalmente e financeiramente'

Um juiz do Espírito Santo determinou que um homem pagasse o tratamento psiquiátrico da ex-mulher, que sofreu abalos emocionais após ser agredida por ele. "Essa é uma decisão obrigatória da Justiça brasileira", disse Cris Guterres.

Thaila Ayala se apoia em fé para superar doença da filha

A atriz Thaila Ayala contou que a filha Tereza, de dois meses, nasceu com um problema de malformação e teve que passar por uma cirurgia. A atriz disse que se apegou muito na fé em Deus para passar por esse momento. Cris Guterres contou que também se apega a sua fé para lidar com a maternidade. "Trouxe isso da minha mãe. Eu sou do candomblé e a religião, no meu caso, faz parte até da minha rede de apoio", disse.

'Sexo entre mulheres é cheio de possibilidades'

A atriz Bruna Linzmeyer falou sobre como a ideia de sexo ainda é focada em penetração e que, quando envolve duas mulheres, para o senso comum, não haveria uma relação sexual de fato.

Assista ao Sem Filtro

Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.

Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal UOL.

Veja a íntegra do programa: