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Musa Plus Size do Santos: 'Superei violência doméstica virando modelo'

Elaine Ribeiro, 45, de Santos (SP), é modelo plus size e passista - Karen Salles
Elaine Ribeiro, 45, de Santos (SP), é modelo plus size e passista Imagem: Karen Salles

Elaine Ribeiro, em depoimento a Ed Rodrigues

Colaboração para Universa

26/07/2021 04h00

"Desde os oito anos de idade queria ser modelo. Mas precisei escapar de dois relacionamentos abusivos e superar uma depressão para me encontrar. Hoje, aos 45 anos, me amo por completa, sou musa plus size em Santos (SP) e feliz.

Mas até chegar a esse estado de felicidade, enfrentei muitos obstáculos e sofri bastante.
Minha história como modelo começa logo após fazer balé no centro comunitário do meu bairro. Estar no palco me deixava muito feliz, foi meu primeiro contato com o mundo artístico.

Alguns anos se passaram e o desejo de virar cresceu. Já era década de 1990, eu adolescente me tornei fã de Xuxa, Monique Evans e Luíza Brunet. Não tive alguém ao meu redor que fosse modelo, então vi nelas minha inspiração.

Eu dizia que queria fazer aquilo, mas as pessoas riam de mim, não levavam a sério. Acho que acreditavam que eu não poderia chegar lá porque parecia um sonho distante.

miss - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Elaine criou a ala das passistas plus size da Baixada Santista
Imagem: Arquivo pessoal

Não desanimei. Comecei a participar de concursos escondida de todos, porque sempre acreditei que alguma coisa iria acontecer. Foi então que eu ganhei o Miss Chorinho da Baixada Santista em 1995. Em seguida, virei a Garota Camiseta Molhada no Guarujá (SP), concurso que teve foto minha publicada na revista 'Playboy' e que deixou minha família sabendo de tudo.

Meu pai ficou chocado. Ele tinha comércio e as pessoas foram levar a revista para eu autografar. Ele ficou espantado, mas depois se orgulhou. Naquela época, eu era modelo fashion e, certa vez, recebi elogios da Luana Piovani. Ela chegou a dizer que eu tinha uma beleza exótica.

'Desisti de tentar carreira por causa do meu ex-marido'

Me casei aos 22 anos. Eu trabalhava como modelos em alguns eventos na cidade, mas meu marido não gostava e larguei tudo.

Mas aí começaram a falta de respeito e as humilhações. Ele começou a ficar bem ignorante, me humilhava com palavras que faziam eu me sentir um lixo. Nós tínhamos um comércio e, certo dia, ele me disse que eu só prestava para ficar atrás de um balcão.

Aquilo mexeu comigo de uma maneira brutal. Eu sabia das minhas qualidades. Eu estava ali, mas minha escolha era minha carreira, da qual desisti para construir uma família. Então percebi que a gente não estava dando mais certo e nos separamos.

'No segundo casamento, apanhava e sofri ameaças'

Já fazia seis anos que eu estava separada, quando conheci um homem simpático, trabalhador, que me tratava como uma princesa. Tudo ia muito bem até que resolvemos ir morar juntos.

Ele passou a ter atitudes diferentes, um certo ciúme infundado. Ele dizia que não iria me buscar no serviço e, de repente, estava escondido me observando. Depois, chegou a colocar gravador no meu carro para escutar minhas conversas com amigas. Queria saber quanto eu recebia, quais as datas do meu pagamento. Ele queria fazer sexo bêbado, mas não conseguia e dizia que a culpa era minha. Como eu o amava e não enxergava isso como um relacionamento abusivo, relevava.

Mas começaram as agressões físicas e ameaças. Foi muito difícil de me separar, sofria ameaças, vivia encarcerada. Consegui me separar dele quando minha família percebeu como estava minha vida e me apoiou. Nos separamos uma semana antes de minha filha com ele nascer. Também tenho um menino, do primeiro casamento.

'Comecei a vencer depressão quando decidi ser modelo plus size'

Aos 38 anos, me vendo separada de dois maridos, com um filho de cada pai, me imaginava velha. E tive depressão e Síndrome do Pânico, imaginava que ele estaria me seguindo.

Eu não queria ser aquela mulher. Um dia resolvi comprar um espelho de corpo inteiro e, ao me ver, senti que não era eu. Mas foi na frente desse espelho que decidi que era a hora de ser feliz. Eu tinha que procurar ser feliz comigo mesma, não queria mais me machucar.

Fui ao salão de beleza de um amigo e pedi que ele mudasse meu visual radicalmente. E aí ele disse: 'Por que você não volta a modelar?'. Uma cliente dele então sugeriu que eu tentasse ser modelo plus size, eu nem sabia da existência dessa categoria.

Fiquei com meus cabelos loiros, me achei poderosa e e fui procurar saber o que era ser modelo plus size. Aos 41, me inscrevi no concurso Miss Santos com muito medo e ganhei.

Virei miss aos 41 e não parei mais: saí como destaque em escola de samba e criei a ala das passistas plus size da Baixada Santista. Hoje, aos 45 anos, estou me superando mais uma vez e invadindo o mundo do futebol: sou Musa Plus Size do Santos Futebol Clube.

Comecei a ser inspiração e motivar várias mulheres da minha idade a correrem atrás dos seus sonhos. Afinal, os sonhos não envelhecem."

*Elaine Ribeiro, 45, é modelo e miss plus size e vive em Santos (SP)

Como denunciar a violência doméstica

Em flagrantes de violência doméstica, ou seja, quando alguém está presenciando esse tipo de agressão, a Polícia Militar deve ser acionada pelo telefone 190.

O Ligue 180 é o canal criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo Whatsapp. Neste caso, o telefone é (61) 99656-5008.

Os crimes de violência doméstica podem ser registrados em qualquer delegacia, caso não haja uma Delegacia da Mulher próxima à vítima. Em casos de risco à vida da mulher ou de seus familiares, uma medida protetiva pode ser solicitada pelo delegado de polícia, no momento do registro de ocorrência, ou diretamente à Justiça pela vítima ou sua advogada.

A vítima também pode buscar apoio nos núcleos de Atendimento à Mulher nas Defensorias Públicas, Centros de Referência em Assistência Social, Centros de Referência de Assistência em Saúde ou nas Casas da Mulher Brasileira. A unidade mais próxima da vítima pode ser localizada no site do governo de cada estado.