Após confinamento, arte volta a Londres com exposição interativa de 'Alice'
Chapeleiro maluco, diálogos sem pé nem cabeça, um mundo que desafia as regras físicas... Para sua reabertura, o grande V&A Museum de Londres propõe ao visitante desorientado após um ano absurdo de pandemia entrar no universo de "Alice no País das Maravilhas".
Mais de 150 anos depois, esta obra-prima da literatura britânica publicada em 1865 por Lewis Carroll — cujo nome verdadeiro era Charles Lutwidge Dodgson — continua a inspirar artistas.
Numa exposição que reúne trajes teatrais, cenas de filmes, fotos, caricaturas, manuscritos originais e instalações diversas, o Victoria and Albert Museum explora a partir deste sábado "as origens, adaptações e reinvenções" desta história mítica.
Já na entrada, o visitante é conduzido a uma situação difícil: para chegar à exposição, "Alice: cada vez mais curiosa", deve subir uma escada escura com setas apontando em todas as direções, representando a queda da heroína na toca do coelho, para chegar ao porão mal iluminado do museu.
Uma experiência envolvente, combinando efeitos sonoros e visuais com cenografia muito avançada.
Um passeio marítimo vitoriano, o jardim de rosas da "Rainha de Copas", uma sala escura com o sorriso misterioso do "Gato Risonho", um tabuleiro de xadrez e, claro, a famosa mesa onde o "Chapeleiro Maluco" e a "Lebre de Março" tomam chá.
"Um mundo de loucos"
Os museus ingleses começaram a reabrir ao público na segunda-feira, emergindo de um longo sono forçado pela pandemia, que matou quase 128 mil pessoas no Reino Unido.
No V&A, máscaras, álcool em gel e distanciamento estão na ordem do dia. Está prevista a limpeza periódica dos pontos interativos, como o que permite jogar croquet contra a "Rainha de Copas" em realidade virtual.
Embora a ideia tenha nascido antes da pandemia, esta exposição, originalmente marcada para junho de 2020, chega em um bom momento, diz a curadora Harriet Reed.
Depois de um terceiro confinamento, "todos nos sentimos um pouco cansados, exaustos, sem inspiração", comentou à AFP, ao apontar no mundo imaginativo de Alice um possível remédio, graças a "sua enorme dose de otimismo e determinação".
Diante da pandemia, "todos podemos nos inspirar na viagem de Alicie, sua teimosia e seu desejo de superar circunstâncias muito difíceis", acrescenta.
Até porque, "neste momento, temos claramente a impressão de viver num mundo de loucos onde tudo está ao contrário", brinca.
Símbolo de emancipação
Dividida em cinco partes, a mostra primeiro analisa as origens do romance e a influência da sociedade vitoriana em seu mundo, antes de passar para as adaptações cinematográficas de Alice.
Inclui trechos do famoso desenho animado de Wall Disney e do filme de Tim Burton, bem como o primeiro filme mudo sobre a heroína e uma infinidade de animes japoneses inspirados nela.
As três últimas seções tratam da influência do personagem no surrealismo e nos anos 1960 — com uma edição original do clássico ilustrado por Salvador Dalí —, a transposição do mito em balés e peças, e o "fascínio contemporâneo" de Alice por meio de múltiplas reinvenções.
A exposição "tenta responder" à pergunta "impossível" de por que Alice continua a inspirar tanto depois de mais de um século, diz Reed.
"É em grande parte devido ao caráter forte da heroína", acredita, elogiando a "incrível determinação e coragem" da personagem que se tornou "icônica".
Alice "é forte o suficiente para enfrentar a autoridade e lutar pela justiça", acrescenta.
Em sua peça favorita, um espetáculo encenado por sufragistas do Reino Unido, essas ativistas voltaram à personagem de Alice para convencer as mulheres a exigirem o direito de voto. Na opinião de Reed, "Alice é um símbolo do empoderamento e emancipação feminina".
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