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Sérgio Chapelin: 'Nunca fui militante, mas sempre fui de esquerda'

Sérgio Chapelin, 83, viralizou recentemente com o novo visual de barba branca e cabelo comprido. Em entrevista à Veja, ele disse passear todos os dias no calçadão de Copacabana sem ser reconhecido.

Vida de "velhinho" em Copacabana. "A minha vida mudou muito em pouco tempo. Desde 1974, eu tinha propriedade no Sul de Minas. E eu estava morando no interior desde 2019, mas, de repente, me desfiz de tudo. Vendi o sítio em Itanhandu, e hoje vivo em Copacabana, o paraíso dos velhinhos. Sou um velhinho que caminha no calçadão e que ninguém dá bola. É uma maravilha".

Minha barba branca e meu bonezinho são hoje o meu disfarce. Quero entrar no mercado, padaria, caminhar tranquilamente. Copacabana é uma confusão. E quero ser mais um na multidão. Sérgio Chapelin

Questionado sobre o posicionamento político, conta que sempre foi de esquerda. "Minha situação me obrigou a estar do lado da classe trabalhadora. Sou um cara de origem humilde, meus pais nunca tiveram casa própria, não recebi herança. Nunca fui militante, mas sempre fui uma pessoa de esquerda. Votei a primeira e a segunda vez no Lula, depois não votei em ninguém de um lado ou de outro. Estou esperando um candidato".

Ele conta que assistiu "Ainda Estou Aqui", e define como "um filme necessário". "Falo com os meus netos que a ditadura não era brincadeirinha, não. Eu trabalhei na Rádio JB com censor do meu lado no estúdio. Dava o texto para ele, e depois dele aprovar eu podia ler o noticiário. Não podia dormir no ponto, porque durango kid pegava".

Privacidade

Chapelin valoriza a privacidade. "Antigamente, as pessoas me paravam pedindo para tirar foto. E, agora, imagina com todo mundo tendo celular. Então, é uma loucura [...] Com essa polarização, fico pensando como meus companheiros estão se virando".

Mas o jornalista sabe que a voz grave denuncia sua identidade. "É por isso que minha mulher fala: não abre a boca! Realmente, quando eu falo, as pessoas olham e dizem: 'ah, você é aquele repórter?'"

Ele revela rotina simples: caminhar na praia de manhã e assistir séries e filmes à noite. "Todo dia caminho na praia enquanto minha mulher rema de canoa havaiana no Posto 6. Escolhemos morar em Copacabana porque a Regina diz que é a praia mais linda que existe. Depois de caminhar, fico pesquisando no iPad. Após o jantar, vejo um filmezinho ou uma série. Agora estou assistindo à série policial sueca 'A grande descoberta'. E ponto. Estou feliz da vida. Já ralei bastante".

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A voz segue perfeita, apesar de o jornalista dizer não cuidar. "Agora tomo uns vinhos e uns uísques de vez em quando. Mas a preocupação era grande. Se pegava uma gripezinha era um drama colossal, porque tinha que preservar a marca, que era o apresentador, a voz. Hoje não é mais assim".

Jornalismo

Chapelin acha que hoje seria "reprovado" no jornalismo de TV. "As pessoas improvisam muito, têm muita liberdade e têm que ter informação e formação muito grande. Passei a minha vida lendo textos. Hoje o jornalista de televisão tem que ser mais versátil. E isso é uma coisa que eu admirava no Léo Batista".

Ele está feliz, envelhecendo com qualidade de vida. "Tenho uma mulher maravilhosa que me ajuda e me apoia em tudo. São mais de 50 anos de relacionamento. Outro dia, fomos fotografados de mãos dadas no Shopping da Gávea, onde vimos o último filme do Almodóvar. Tenho 3 filhos e um de afeto, que é o meu enteado, e mais seis netos. E eu e Regina mantemos uma relação muito boa. Isso aumenta nossa capacidade de enfrentar os problemas".

Chapelin diz estar "surpreso" por viralizar ao aparecer Fantástico, e brinca: "Mas vai que resolvem me chamar para voltar a trabalhar? Não quero, não, obrigado!"

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