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Paulista - 2020

Pesquisa ouve 511 jogadores de SP: maioria quer voltar, mas por necessidade

Fernando Moreno/AGIF
Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

11/05/2020 04h00

A maioria dos jogadores de futebol do estado de São Paulo apoia a volta do futebol, mas tem como principal motivo a necessidade financeira, e há temor e receio pela saúde em meio à pandemia do novo coronavírus. Esta foi a conclusão de pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Atletas de Futebol do Município de São Paulo (Siafmsp) à consultoria Esporte Executivo. O trabalhou ouviu 511 atletas de times masculinos e femininos das Séries A1, A2 e A3 do Campeonato Paulista - entre os homens, foram ouvidos representantes de todos os clubes que disputam as três divisões.

De 6 a 9 de maio, os jogadores puderam responder se são favoráveis ou contrários à retomada das atividades do futebol. Depois, puderam apontar as razões principais de cada resposta dentre uma série de itens oferecidos, podendo escolher uma ou mais alternativas. O índice de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro é de 4%.

Do total dos entrevistados, 64,2% se disseram favoráveis à retomada do futebol, enquanto 35,8% foram contrários. Entre os que votaram a favor, o principal motivo escolhido (52,2%) foi "preferiria não voltar, mas precisa financeiramente desse retorno". Atletas também afirmaram que acreditam que haverá uma estrutura montada para preservar sua saúde - 49,4% assinalaram essa opção. Apenas 9,6% afirmaram que "a Covid-19 não é tão preocupante como a sociedade e a mídia têm apresentado". Os jogadores puderam assinalar mais de uma razão para cada resposta.

Dentre os 35,8% dos jogadores que se posicionaram contra a retomada das atividades, o motivo mais apontado (76,4%) foi "não acredito que haja segurança suficiente para a saúde dos atletas". 51,7% disseram que, com a pandemia, não é o momento de pensar em futebol. Com salários atrasados, 24,2% afirmaram que se sentem desrespeitados ao serem forçados a enfrentar a doença. 9,6% se dizem pressionados por suas famílias para não retornarem.

Cenário é de temor, mas apoio à volta por necessidade

O cenário geral da pesquisa mostra temor pela saúde em grande parte dos jogadores, mas um apoio à volta por necessidade financeira. "Ao longo do trabalho, pudemos observar que existe uma clara preocupação com a saúde para a maioria deles. Mas o desamparo de uma profissão com carreira curta e pouco rentável para a maioria faz com que critérios outros para a subsistência, como o financeiro, se sobreponham ao medo da possível contaminação. Temos, ao fim, no futebol, um retrato da sociedade", diz Vinicius Lordello, CEO da Esporte Executivo.

Esse cenário é reforçado por variações nas respostas entre a elite e as divisões inferiores do futebol paulista. Na Série A1, onde estão os principais clubes e os maiores salários, há um número mais elevado de jogadores que não querem a volta do futebol: 44,88% são contra a retomada das atividades, citando como principal razão o fato de não acreditaram que haja segurança suficiente para a saúde dos atletas. 55,12% apoiam a volta do futebol na elite paulista.

Nas séries A2 e A3 o cenário é bem diferente, com 72,18% dos jogadores favoráveis à volta do futebol. Quase 60% deles, entretanto, dizem que preferiam não voltar nesse momento, mas precisam fazê-lo por motivos financeiros.

Para o presidente do Siafmsp, o ex-centroavante Washington Mascarenhas, os números podem mostrar uma maioria de atletas defendendo o retorno do esporte, mas é importante também que os motivos para isso sejam analisados na tomada de decisões.

"Nos cabe sempre representar o desejo dos atletas. Nesse sentido, obviamente precisamos levar em consideração os números, mas é igualmente fundamental nos atentarmos às justificativas que eles nos trazem" explica o ex-jogador, com passagens por Vasco, Palmeiras e Sport.

"Ouvir o que querem é muito importante, mas entender porque querem ou não é essencial para fortalecermos as conversas com todas as partes envolvidas no negócio e estruturar nosso trabalho", completa.

Segundo Washington, os dados serão enviados à Federação Paulista de Futebol e à Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), entidade sindical federal que representa jogadores. A ideia é que a pesquisa ajude a instruir uma decisão sobre o retorno do futebol em São Paulo e possa levar até à realização de um trabalho similar no âmbito nacional.

"Vamos passar para a Federação Paulista a pesquisa, e também passar para a Fenapaf os dados de São Paulo. Isso pode incentivar outros sindicatos a fazerem também, e incentivar uma pesquisa no nível nacional, federal", declarou o ex-jogador.