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Renato Mauricio Prado

Brasileiro em agosto é piada. De péssimo gosto

Thiago Ribeiro/AGIF
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

25/06/2020 04h00

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Campeonato Brasileiro em final de julho, início de agosto? Sério? Com mais de mil mortos por dia e cerca de 40 mil novos casos a cada 24 horas, no país? Com todos os campeonatos estaduais (exceção feita ao esdrúxulo carioquinha) paralisados e ainda sem ter nem sequer data para recomeçar? Com cidades que começaram a reabrir e estão sendo obrigadas a fechar de novo, por causa do aumento considerável da contaminação? Brasileiro em final de julho, início de agosto? Sério?

Não. Não pode ser sério. Os campeonatos europeus só recomeçaram quando a curva de novos casos e mortes, em seus países, despencou significativamente durante três semanas. Três semanas! Por aqui, ainda estamos num patamar que nem nos permite saber se já atingimos o pico da pandemia. Os números não param de crescer e são sabidamente subnotificados - a quantidade de casos e de mortes é muito maior, segundo vários institutos médicos altamente confiáveis. Do Brasil e do exterior.

O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, autor da profecia apocalíptica, quer porque quer ser o líder da volta do futebol brasileiro aos gramados, em meio a uma mortandade sem igual na nossa história - já passamos de 50 mil mortos. Indiferente à tragédia (só falta dizer "e daí?"), assumiu, com gosto e especial interesse (vide a MP sobre os direitos de transmissão), o papel de vassalo do presidente da República, aquele que considerava a epidemia de coronavírus uma "gripezinha", e acredita piamente que a volta do futebol ajudará a reativar a economia, combalida por uma crise mundial sem precedentes.

Não há protocolo perfeito (como se gaba de ter o rubro-negro) que resista a uma série de viagens por um Brasil desigual onde o vírus ainda grassa e mata, sem dó, nem piedade, do Oiapoque ao Chuí. Aviões, ônibus, estádios, hotéis e restaurantes estarão enquadrados nos rígidos padrões de cuidados do rubro-negro? Claro que não.

Nem no Rio de Janeiro, onde o Flamengo prima pela segurança em seu CT, pode-se considerar que todos os outros clubes repitam seus cuidados. Não repetem. Numa vistoria básica, os centros de treinamento de Fluminense, Vasco e Botafogo foram reprovados. Imagine o que acontece nos clubes pequenos! Por acaso, o rubro-negro jogará sozinho?

Em sua arrogante obsessão, Landim acha que tudo é válido. Eufórico, está certo de que a nova Medida Provisória será a "Lei Áurea" do futebol brasileiro. Haja, otimismo. A única coisa que conseguiu até agora foi jogar pela janela os R$ 18 milhões da cota de TV do Estadual - dinheiro que, certamente, está fazendo muita falta agora, em meio à crise e sem a renda dos ingressos. De quebra, privou a sua imensa torcida de ver os jogos de seu time. Nem mesmo se conseguir transmitir as poucas partidas que faltam, pela Fla TV ou por qualquer outro canal, conseguirá ganhar um décimo do que perdeu. Grande negócio!

Ainda que a Medida Provisória dos direitos do mandante seja aceita pelo Congresso (onde já recebeu um zilhão de emendas que devem transformá-la num Frankenstein), o rubro-negro só tem a vender, até 2024, o Carioquinha. Sim, porque todos os outros campeonatos, já foram negociados. Com a Globo... E isso não há MP capaz de desfazer.

Agora, por favor, raciocinem. O Estadual do ano que vem deve ser drasticamente reduzido, porque o Brasileiro, com certeza, invadirá o mês de janeiro. Quanto valerá? E os dos anos seguintes, até 2024? Mais do que os R$ 18 milhões oferecidos agora? Duvi-de-ó-dó.

Resta a Landim torcer para que o trabalho de Marcos Braz, no comando do futebol, e o de Jorge Jesus, à frente do time, continue excepcional, ganhando tudo. Porque, fora isso, sua administração está começando a arranhar seriamente a imagem do clube Mais Querido do Brasil e a cometer erros até no que sempre foi o seu forte, a parte financeira - vide o que aconteceu no Estadual.

Moleque bom de bola

Vinícius Jr. está com a corda toda. Marcou três gols nos últimos cinco jogos, pelo Real Madrid, deu assistências e sofreu pênalti. O golaço que fez no Mallorca foi digno de aplausos de pé - pena que não havia torcida no estádio. O toque de classe, por cobertura, sempre foi sua marca no rubro-negro - beira o ridículo dizer que aprendeu isso com Zidane. É claro que ainda pode evoluir muito, mas tem tudo para se tornar, de fato, o supercraque que pintou na base do Flamengo. Voa, moleque bom de bola!

Madeirada

Sou fã de carteirinha de Novak Djokovic. Mas o que ele fez, ao organizar e patrocinar o Adria Tour, foi uma irresponsabilidade total. Ele próprio, sua mulher, Jelena, e mais três tenistas acabaram contaminados, além de outros membros do estafe dos torneios. Nole já reconheceu publicamente o seu grande erro, mas sua imagem sai bastante arranhada de todo esse lamentável episódio. Não levar a sério essa pandemia e o que dizem os médicos em geral e os infectologistas em particular dá nisso.