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Renato Mauricio Prado

Do Caixa D'Água para Rubinho. Com admiração e carinho

22/06/2020 04h00

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Federação de Futebol do Céu, Inferno e Purgatório, 21 de junho de 2020.

Caro Rubinho, em agosto completarei 14 anos do lado de cá e, confesso, durante todo esse tempo, tenho acompanhado sua administração com orgulho. Como devotado aluno, que acompanhou de perto o meu trabalho, quando fui presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, vejo que você aprendeu bem as lições e tem feito o dever de casa com brilhantismo.

Confesso, nunca pensei que alguém fosse capaz de superar as lambanças que fiz, por exemplo, nos "Caixões de 1990 (aquele em que o Vasco deu uma volta olímpica, carregando uma caravela e não se sabia direito quem tinha sido o campeão), 1998 (o campeonato em que apliquei W.O em Botafogo, Flamengo e Fluminense), e 2002 (que foi solenemente ignorado pelas TVs e acabou decidido no tapetão)". Eram, até então, minhas obras-primas. Mas com esse torneio de agora, em meio a uma pandemia que provoca mortandade sem igual na história do país, admito, você está prestes a bater todos os meus recordes!

As confusões dos últimos dias, então, foram de se aplaudir de pé, como na ópera, diria o Nélson Rodrigues, com quem, aliás, me encontrei aqui hoje mesmo, na tribuna de honra do "Paraisão", pouco antes do jogo do Céu com o Purgatório. Lábio trêmulo e olho rútilo, ele bateu nas minhas costas e com sua conhecida voz rouca, me provocou:

- A criatura está superando o criador! Nunca o Campeonato Carioca foi tão desmoralizado! Parabéns, o Rubinho consegue ser pior que você!

De fato, você merece o "elogio". Se aliar ao Landim, como me aliei ao Eurico Miranda, e forçar a volta aos gramados muito antes do recomendado pelas determinações da medicina foi uma jogada de gênio. Do mal! Com pitadas de ironia, pois você é médico, bem como o Alexandre Campello, presidente do Vasco, que também fez parte do conluio. Às favas o juramento de Hipócrates! Viva a hipocrisia!

Sua perseguição ao Fluminense e Botafogo, que resistem a mergulhar de cabeça nessa insanidade desumana, me lembra dos bons tempos em que eu perseguia o Flamengo, para beneficiar o Vasco, e, claro, o Goytacaz de Campos, em prol do meu Americano. A ameaça de levar os jogos dos tricolores e alvinegros para Saquarema, para fugir do decreto do prefeito, foi supimpa. Você deveria tê-la concretizada.

Entendo, porém, que você não esteja disposto a bater de frente com o Crivella. Afinal, ele o tem ajudado a tornar ainda mais caótica a situação. Um decreto que só vale para dois clubes é do balacobaco, admita. E você respondeu à altura, com as diversas mudanças de datas e locais, em poucas horas, deixando a TV e os torcedores tontos. Assim que é bom!

Se puder, arrume ainda um jeito de não dar os 10 dias completos que Fluminense e Botafogo pedem. Assim arrumará um pretexto para dois W.O. Campeonato esculhambado tem que ter W.O, concorda?

Eurico, que acaba de aparecer aqui, pede pra dizer também que foi uma jogada de mestre adiar a partida entre Madureira e Resende para o dia seguinte ao de Vasco e Macaé. Afinal de contas, se o Gigante da Colina vencer (e sempre se pode dar uma ajudinha), um tropeço do tricolor suburbano, no dia seguinte (quando também se pode dar um jeitinho), manterá os cruz-maltinos ainda com chance de classificação. Eurico não toma jeito...

Ele me pede, ainda, para lhe alertar que sua parceria com o Landim tem que "melhorar" muito para ser como era a dele comigo. Sem pudor. A ponto de os jornalistas dizerem que éramos um só: um clone que ora chamavam de Eduardo Miranda, ora de Eurico Viana. Como vocês serão apelidados? Rubens Landim ou Rodolfo Lopes?

O ex-deputado está curioso em ver como vai acabar essa briga que o Flamengo resolveu comprar com a TV Globo. Ele recorda que também entrou nessa, chegando a jogar a final da Copa João Havelange de 2000 com o logo do SBT nas costas. Anos depois, entretanto, acabou sufocado financeiramente quando a turma do plim-plim resolveu cobrar todos os adiantamentos que ele já fizera dos direitos de campeonatos futuros. É uma luta e tanto. E não tem mocinho nesse filme. Nem tanto dinheiro sobrando no mercado. Ainda mais agora.

Bem, meu caro Rubinho, vai começar o jogo entre o Paraíso e o Purgatório e eu, como presidente da Federação daqui, tenho que me ater ao clássico. Um empate garantirá o título ao time do Inferno e já batemos um papo com "sua senhoria" que arbitrará o confronto. Preciso dizer para quem estamos torcendo?

Me despeço com o conselho de sempre. Apronte mais. Apronte sempre. Você sabe que quanto pior, melhor, pois assim, os pequenos continuarão na sua mão, em troca de migalhas, e com o apoio de ao menos um dos grandes, você se eternizará nessa magnífica cadeira de "dono de sauna", ganhando dinheiro com o suor dos outros.

Duro é esse negócio de portões fechados, né? De onde você vai tirar os seus 10%, limpinhos, da renda bruta das partidas dos grandes? Pede um troco aí ao Landim, vai...

Receba o abraço carinhoso do seu professor e mentor, ansioso pelas cenas dos próximos capítulos desse filme de terror de classe B.

Caixa D'Água.