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Rafael Reis

Racismo, Covid, Pantanal: Richarlison é o jogador mais politizado do Brasil

Richarlison não tem medo de falar sobre racismo, homofobia, coronavírus, estupro... - Lucas Figueiredo/CBF
Richarlison não tem medo de falar sobre racismo, homofobia, coronavírus, estupro... Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

15/11/2020 04h00

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Quando o negro George Floyd Jr. foi assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, em maio, fato que fez eclodir em todo o mundo o movimento antirracista "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam, em tradução para o português), Richarlison rapidamente se manifestou.

O atacante do Everton postou em suas redes sociais uma caricatura do norte-americano acompanhado do adolescente brasileiro João Pedro, também negro e igualmente baleado por forças policiais na mesma época, durante uma ocupação em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Além da luta pelo fim da desigualdade racial, o camisa 7 usou nos últimos meses suas contas no Twitter e no Instagram (mais de 3,3 milhões de seguidores, na soma das duas plataformas) para defender a importância da ciência no combate à pandemia do novo coronavírus, cobrar o fim das queimadas no Pantanal e pedir justiça por Mariana Ferrer (blogueira que acusa o empresário André de Camargo Aranha de tê-la estuprado) e Robson (ex-funcionário do volante Fernando que está preso na Rússia).

Enquanto boa parte dos jogadores de futebol fogem de falar com a imprensa e os torcedores sobre assuntos extracampo ou só se manifestam sobre esses temas depois de muita cobrança da opinião pública, Richarlison não perde uma oportunidade de apresentar suas opiniões sobre tudo.

Apesar de raramente citar nomes de políticos ou partidos em seus posts ou entrevistas, o atacante é hoje o jogador mais politizado da seleção brasileira e também aquele que mais se pronuncia sobre causas sociais.

"Quando tiver uma causa importante eu sempre vou botar a cara, ainda mais jogando na seleção e na Inglaterra. Eu tenho essa visibilidade e sei que as autoridades olharão com carinho", afirmou, durante entrevista coletiva da seleção, na semana passada.

Uma das principais inspirações de Richarlison é Marcus Rashford, seu adversário na Inglaterra. Apesar de ter só 23 anos, o atacante do Manchester United já é uma das vozes mais relevantes do Reino Unido em questões sociais e organizou uma bem-sucedida campanha que convenceu o Governo a desistir de cortar o fornecimento de merenda escolar para famílias carentes durante a pandemia.

"Existe muita ganância nesse mundo político. Pessoas fazem de tudo para ganhar as eleições, mas uma vez no poder elas só trabalham pelos seus próprios interesses. E quem acaba sendo o maior prejudicado é o Brasil. Gostaria de deixar claro para as autoridades, mais uma vez, que estamos preocupados com nosso país e a sua natureza", disse o jogador, ao "The Player's Tribune".

Mas enquanto Rashord concentra seus esforços na luta contra a fome infantil, o brasileiro tem um cardápio mais variado de causas que apoia. Além de todos os temas já citados acima, ele também entrou na briga pelo fim da homofobia no futebol.

"Não podemos ser uma bolha em relação ao mundo. Acho que não haveria problema aqui [no Everton] ou em nenhum lugar [se um jogador se assumisse homossexual]. Todos precisam ser tratados com respeito e igualdade. Eu li uma carta enviada à imprensa por um jogador gay da Premier League dizendo que a situação dele afeta sua saúde mental e que ele tem medo de dizer aos companheiros, por medo de que fique pior. Não deveria ser assim", afirmou o atacante, ao site oficial do que clube que defende.

Richarlison participou das três partidas da seleção nas eliminatórias da Copa do Mundo-2022. Contra a Bolívia, começou no banco de reservas e entrou já na metade final do segundo tempo. Mas foi titular ante Peru e Venezuela e até marcou um golzinho frente aos peruanos.

A equipe comandada por Tite é a única que ainda tem 100% de aproveitamento no qualificatório sul-americano. A campanha perfeita terá seu mais difícil obstáculo até o momento na próxima terça-feira, quando irá se deparar contra o Uruguai, em Montevidéu.

Já a situação do Everton não é tão boa quanto a da seleção. O time azul de Liverpool teve um início de temporada avassalador, chegou a emendar sete vitórias consecutivas e a liderar o Campeonato Inglês.

Só que tudo desandou nas últimas semanas. Richarlison e seus companheiros já não vencem há mais de um mês e foram derrotados nos três jogos mais recentes que disputaram. Com isso, caíram para a sétima posição da Premier League. A chance de reação começa no próximo domingo, quando enfrenta o Fulham.