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Rafael Reis

Como o Qatar se tornou o vencedor da Liga dos Campeões antes mesmo da final

Neymar aperta a mão de Nasser Al Khelaifi, presidente qatariano do PSG - Lionel Bonaventure/AFP Photo
Neymar aperta a mão de Nasser Al Khelaifi, presidente qatariano do PSG Imagem: Lionel Bonaventure/AFP Photo

23/08/2020 04h00

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A final da Liga dos Campeões da Europa, entre Bayern de Munique e Paris Saint-Germain, só será jogada a partir das 16h (de Brasília) de hoje. Mas a competição interclubes do planeta já tem pelo menos um vencedor nesta temporada.

Afinal, independente do que aconteça no estádio da Luz, em Lisboa (Portugal) e de quem levante taça de time mais poderoso da Europa, os xeques do Qatar terão muitos motivos para sorrir.

O país asiático, que será sede da Copa do Mundo-2022 e há pelo menos 15 anos utiliza o futebol como ferramenta para melhorar sua imagem internacional, frequentemente abalada por escândalos de violações aos direitos humanos e utilização de trabalho análogo à escravidão, faz parte do cotidiano dos dois finalistas.

A conexão com o PSG é mais estreita. Desde 2011, o clube pertence ao QSI (Qatar Sports Investment), um fundo de investimentos bancado pelo governo da nação do Oriente Médio e que injeta dinheiro em atividades ligadas aos setores esportivo, de lazer e de entretenimento.

A parceria encheu os cofres do clube parisiense e o fez mudar de patamar dentro do cenário da bola. De time que de vez em quando ganhava algo na França, ele foi alçado ao posto de dono de uma hegemonia nacional e verdadeiro candidato a vencer a Champions.

Para isso, foram gastos ao longo dos últimos nove anos nada menos que 1,3 bilhão de euros (R$ 8,6 bilhões) só na compra de direitos econômicos de jogadores. Não à toa, os dois reforços mais caros que a história futebol já viu (Neymar e Kylian Mbappé) vestirão azul na decisão deste domingo.

Além da injeção inicial de capital, oriunda da compra das ações que fizeram dele o acionista majoritário e o colocaram no comando do clube, o Qatar continua colocando dinheiro anualmente no PSG por meio de inúmeros contratos de patrocínio.

São pelo menos cinco apoiadores qatarianos na equipe de Neymar: QNB, Qatar Airways, BeIN Sports, Ooredoo e Autoridade Nacional do Turismo. Todos pertencem integralmente ao governo ou são resultados de parcerias entre o poder público e o setor privado.

A estimativa é que eles coloquem pelo menos 55 milhões de euros (R$ 364,6 milhões) nos cofres por PSG a cada temporada.

O investimento no Bayern também existe, mas é bem menor. O Qatar se faz presente no cotidiano do clube alemão graças a um acordo com a empresa aérea Qatar Airways no valor de 10 milhões de euros (R$ 66,3 milhões) por ano.

A parceria foi firmada em 2018 e rendeu alguns protestos de torcedores bávaros, que ficaram incomodados com a aliança selada entre o clube e um país com um histórico controverso na questão dos direitos humanos.

Só que o vínculo entre a diretoria do Bayern e os xeques do Oriente Médio vai além desse patrocínio.

O time costuma viajar anualmente para o Qatar para realizar a pré-temporada (julho) ou a intertemporada (janeiro) por lá. Os valores dos cachês recebidos por essas visitas não são públicos.

A decisão deste ano é a primeira da história do PSG. Até então, o clube francês só havia atingindo as semifinais da Champions em uma ocasião, 1994/95, quando ainda não era um "novo rico" do futebol europeu. Sua intenção agora é entrar de vez para o grupo da elite da bola.

Já o Bayern, que faz parte desse primeiro escalão global desde a "era Beckenbauer", lá na década de 1970, quer levantar a "Orelhuda" pela sexta vez. Os bávaros ganharam a competição em 1974, 1975, 1976, 2001 e 2013.