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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Prévia da primeira rodada dos playoffs na Conferência Oeste da NBA

LeBron James, do Los Angeles Lakers, encara a marcação de Kawhi Leonard, do Los Angeles Clippers - Harry How/Getty Images/AFP
LeBron James, do Los Angeles Lakers, encara a marcação de Kawhi Leonard, do Los Angeles Clippers Imagem: Harry How/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL

21/05/2021 04h00

Com o Lakers vencendo o Warriors em um clássico instantâneo no play-in, já temos o nosso sétimo classificado da Conferência Oeste, então podemos começar a dar uma olhada nas séries dessa primeira rodada de pós-temporada da NBA.

#4 Los Angeles Clippers vs #5 Dallas Mavericks

Essa série é uma reedição do confronto da primeira rodada dos playoffs do ano passado; na ocasião, o Clippers venceu a série por 4 a 2, mas não sem antes passar sufoco nas mãos de Luka Doncic e do ataque de Dallas.

O Clippers, que chega nos playoffs deste ano, é um time melhor que o do ano passado; mais completo e profundo, muito mais entrosado, com um entendimento melhor da própria identidade. A diretoria adquiriu mais jogadores capazes de impactar dos dois lados da quadra e evitar o cobertor curto que foi seu time muitas vezes em 2021, confiando em Paul George e Kawhi Leonard para liderar o time nos momentos decisivos.

Já do lado de Dallas, é difícil dizer exatamente o que esse time é. Na offseason, Dallas sacrificou poder de fogo em nome de reforçar sua defesa, mas os resultados à primeira vista não foram dos melhores: o time perdeu o que era o melhor ataque da NBA, e sua defesa conseguiu ser ainda pior que no ano anterior. Apesar do ano caótico, marcado por lesões e covid, o Mavs encerrou o ano jogando em bom nível. Neste ano, o time possui uma versatilidade que o de 2021 não tinha - algo chave nos playoffs. Dallas também pode se beneficiar de um Kristaps Porzingis saudável, depois de o pivô perder três jogos da série de 2020 por causa de lesões.

Mas, no fim do dia, as esperanças de Dallas dependem de uma coisa: de Luka Doncic ser o melhor jogador da série. Luka é uma superestrela, um dos 10 melhores jogadores da NBA na atualidade. Do outro lado, o Clippers tem dois dos melhores defensores da NBA em Kawhi e PG, e nós sabemos muito bem o que Kawhi é capaz de fazer nos playoffs. Um ano atrás, Luka foi absolutamente espetacular, mas Kawhi foi quem acabou decidindo a série a favor do Clippers. Se neste ano Luka puder inverter os papeis e carregar um pouco da mágica que mostrou na bolha ano passado, Dallas pode sonhar com a vitória.

Palpite: Clippers em 7

#3 Denver Nuggets vs #6 Portland Trail Blazers

Existe um senso comum neste ano de que o Blazers é o mais fraco nos playoffs do Oeste - o time que todo mundo gostaria de enfrentar na primeira rodada para fugir dos bichos-papões da conferência.

Mas será que é verdade? Tirando o Nets, nenhum time da NBA teve um ataque melhor que o do Blazers; a defesa do time foi a segunda pior da liga, é verdade, mas muito disso tem a ver com a ausência prolongada de Jusuf Nurkic, seu pilar defensivo. O Blazers tem números de elite quando seu pivô está em quadra, e tem em geral sido uma defesa média desde seu retorno. Se o Blazers conseguir manter esse ataque de elite com boa defesa pelos 36 minutos que Nurkic passar em quadra, essa é a receita para um time perigosíssimo - especialmente se os minutos de defensores horrendos como Carmelo ou Enes Kanter cairem na pós-temporada. E, se você acredita em momento, vale lembrar que o Blazers terminou a temporada com 10 vitórias nos seus últimos 12 jogos.

Do outro lado, o Nuggets também aparece como uma certa incógnita. Eu já escrevi muito sobre Denver aqui, pois era um dos mais interessantes da NBA. Um time que veio de uma aparição nas finais de conferência, viu seu melhor jogador dar um salto e se tornar o MVP da NBA, e parecia ter adquirido o jogador perfeito em Aaron Gordon. Tudo indicava que Denver era um legítimo candidato ao título... até Jamal Murray estourar o joelho.

Eu escrevi na época sobre a lesão e sobre como não esperava que isso atrapalhasse Denver na temporada. Dito e feito: Denver venceu 13 jogos e perdeu apenas cinco depois da lesão. Mas eu também escrevi que esperava que a lesão fosse muito mais sentida nos playoffs. A pós-temporada é um animal diferente, e que depende mais de variações e adaptabilidade. O jogo a dois de Jokic e Murray tem respostas para tudo que encontra pela frente e funciona como a base para todo o resto do sistema. Denver ainda tem poder de fogo para ser competitivo, sem dúvidas, mas precisa reencontrar respostas que já tinha descoberto nos últimos dois anos.

Mas, no fim do dia, ter o melhor jogador da série ainda é um fator de extrema importância - e a NBA não tem ninguém capaz de parar Nikola Jokic nesse momento.

Palpite: Nuggets em 6

#2 Phoenix Suns vs #7 Los Angeles Lakers

A última vez que o Suns tinha ido aos playoffs foi em 2010, quando o time comandado por Steve Nash chegou nas finais do Oeste. O torcedor esperou onze anos para ver seu time voltar à pós-temporada... e sua recompensa vai ser enfrentar LeBron James e os atuais campeões logo na primeira rodada. Funhé.

Essa é uma série que eu não faço ideia do que esperar. O Lakers saudável e jogando a 100% ainda é o time a ser batido na NBA, e se estivesse nesse ponto eu apostaria nele com alguma confiança. Mas não parece estar: LeBron teve um excelente segundo tempo contra Golden State no play-in, mas o primeiro foi desastroso, e o rei pareceu bastante limitado fisicamente. O tornozelo ainda está atrapalhando, e embora ele seja LEBRON JAMES, foi possível notar uma falta de explosão em diversos momentos do jogo.

Davis também vem de um jogo péssimo e, embora no caso dele não pareça envolver lesões, o segredo do Lakers campeão de 2020 foi o quão bem Anthony Davis arremessou de fora do garrafão na arrancada - uma sequência que está totalmente fora da curva da sua carreira. Se ele puder reproduzir essa eficiência, o Lakers é praticamente imbatível. Mas as dúvidas são legítimas, especialmente se o técnico Frank Vogel insistir em jogar com o garrafão alto e Andre Drummond de pivô - uma mudança que Vogel finalmente fez contra Golden State no segundo tempo.

Do lado do Suns, uma temporada dominante mostrou algumas rachaduras na reta final. Uma das grandes dúvidas para Phoenix nessa temporada era sua defesa, e o Suns terminou o ano com a sexta melhor da NBA, uma marca excelente. Mas ela foi também a oitava pior da liga na segunda metade da temporada. Normalmente, o agregado diz muito mais do que como um time encerrou a temporada, mas esse ano foi tudo menos normal. Os times liderados por Chris Paul também têm um certo histórico de não jogar seu melhor na pós-temporada, mas pode ser injusto julgar o Suns com base nisso. Este talvez seja o ponto: nós nunca vimos esse time antes nos playoffs para nos basearmos. De certa forma, é uma incógnita - uma excelente incógnita e liderada por um dos grandes armadores da história da NBA. Contudo pegar logo de cara o atual campeão talvez seja um pouco demais.

Palpite: Lakers em 7

#1 Utah Jazz vs #8 TBD

Antes de mais nada, quero deixar uma coisa clara: o Utah Jazz é bom. Muito bom. Eles tiveram a melhor campanha da NBA, e o melhor saldo de pontos. Gobert é um monstro, Mitchell vinha muito bem antes da lesão, e o time domina perfeitamente sua identidade de jogo. Mas também é verdade que times como o Jazz - que dominam a temporada regular com consistência em torno de uma identidade específica - tendem a cair de produtividade nos playoffs, quando os adversários estão mais bem preparados para te tirar da zona de conforto e forçar ajustes.

Utah teve um ataque espetacular na temporada regular, mas depende de pequenos ganhos que se acumulam ao longo de uma posse de bola para gerar bons chutes. Nos playoffs esses espaços e vantagens tendem a ficar cada vez menores, e as posses ficam mais estagnadas. Nessas horas, as equipes precisam de um criador individual capaz de criar para si e para os companheiros por conta própria. Esse era o ponto fraco do Jazz. Mitchell já mostrou que consegue fazer isso até certo ponto, mas não o suficiente. Será que Conley, em ótimo ano, vai conseguir adicionar o suficiente para que isso deixe de ser um problema? É possível, e é possível que o time seja tão profundo que nem importe, mas é algo a se observar.

A questão defensiva também é interessante, e vai ficar ainda mais caso seja o Warriors a sair do play-in. Utah gosta de defender recuando seu pivô e fazendo Gobert proteger o garrafão sozinho, mas Steph Curry faz a festa contra esse tipo de defesa. Vimos isso contra o Lakers, e como LA só conseguiu equilibrar o jogo quando deixou Anthony Davis de pivô e jogou com um time mais baixo. Utah não vai tirar Gobert de quadra para se equiparar ao Warriors, e nem deveria, mas é um exemplo de como o Utah vai ter que lidar com variações que desafiem sua zona de conforto e exijam adaptações.

Outro problema do Jazz é a falta de jogadores físicos capazes de defender os alas criadores do Oeste como LeBron, Luka ou Kawhi, mas a boa notícia é que nem Warriors nem Memphis tem esse tipo de jogador, e tampouco especialistas em pick-and-pop para tirar Gobert do garrafão, talvez Jaren Jackson Jr, mas só se o Grizzlies tirar Valanciunas de quadra, e ele tem sido talvez o melhor jogador da franquia nos últimos jogos. Utah provavelmente deve estar torcendo para não ver Curry e o Warriors pela frente na primeira rodada, mas ainda será favorito independente de quem seja o adversário.

Palpite: Jazz em 6