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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pelo título, Bucks primeiro precisam de solução contra o ataque dos Suns

Chris Paul, do Phoenix Suns, durante jogo contra o Milwaukee Bucks na final da NBA - Chris Coduto/Getty Images/AFP
Chris Paul, do Phoenix Suns, durante jogo contra o Milwaukee Bucks na final da NBA Imagem: Chris Coduto/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL

08/07/2021 04h00

O Jogo 1 das Finais da NBA foi tudo que poderíamos ter desejado como fãs do esporte: divertido, bem jogado e cheio de idas e vindas que prenunciam uma série longa e disputada. Com os Suns acertando o primeiro golpe, os Bucks se encontram em situação familiar: perdendo a série de 1 a 0 e precisando responder no Jogo 2, principalmente do lado defensivo.

No Jogo 1, os Bucks entraram fazendo o que era esperado na defesa. Usaram a mesma estratégia contra os Hawks nas partidas decisivas: troca da marcação em todas as ações, em especial pick-and-rolls, para impedir que os Suns gerassem espaços para rodar a bola e obrigando Phoenix a atacar no um contra um. PJ Tucker começou o jogo como defensor primário de Chris Paul, para que, ao trocar no pick-and-roll, ainda mantivesse um defensor mais físico em Ayton e evitasse criar um mismatch.

A princípio, eu achava essa a defesa correta para se usar contra Phoenix - semelhante ao que os Clippers, até agora o time que chegou mais perto de segurar o ataque dos Suns nesses playoffs, fizeram com tanto sucesso. Essas trocas constantes impedem que Phoenix gere os espaços que querem, seguram sua movimentação de bola e forçam o jogo individual. Só que, na prática, os Bucks esbarraram em quatro problemas.

O primeiro é que os Suns entraram muito preparados para contra-atacar essa defesa de trocas usando DeAndre Ayton, seu grande trunfo nessa pós-temporada. O pivô fez um trabalho excelente alterando seu timing no corta-luz para confundir a defesa dos Bucks, saindo um pouco mais cedo do que o normal para se colocar nas costas da defesa, conseguir espaço e se posicionar em situação de receber um passe fácil, anulando a efetividade das trocas:

Ou mesmo aproveitando para atacar as trocas no poste baixo:

Isso para mim é muito mais mérito dos Suns do que algo errado que os Bucks tenham feito. O Phoenix tem os jogadores certos para executar esse tipo de estratégia - ótimos passadores, um pivô que se especializou nesse trabalho sujo - e uma química espetacular no pick-and-roll. Contra um time que ainda não é tão confortável com tantas trocas, os Suns levaram vantagem.

O segundo problema é mais complexo. A resposta natural de um ataque contra tantas trocas é usá-las a seu favor para caçar os elos defensivos mais fracos e gerar mismatches que possam atacar. Para a defesa sobreviver, esses jogadores precisam segurar a barra defensivamente. Claro, ninguém espera que Brook Lopez vá anular Chris Paul em isolação, mas ele precisa pelo menos não ser destruído... e ele foi. Os defensores dos Bucks em geral sofreram contra Booker, o que é de se esperar, mas foi Lopez que tornou essa estratégia insustentável. Entre o começo do jogo e o meio do terceiro quarto - quando Milwaukee finalmente abandonou essa tática enquanto Lopez estivesse em quadra - os Suns atacaram o pivô em isolação após trocas onze vezes. Nessas posses, eles anotaram 20 pontos.

Milwaukee eventualmente desistiu de dar essa vantagem para os Suns e voltou a usar Lopez na sua tradicional defesa recuando para o garrafão - que Phoenix previsivelmente atacou e conseguiu várias cestas fáceis.

O interessante é que isso não fez com que os Bucks - a meu ver, corretamente - abandonassem por completo a defesa de trocas. Lopez foi para o banco e não voltou mais quando ficou claro que não seria possível sobreviver nesse jogo com ele. Com Portis em quadra (e depois com Giannis de pivô), o time voltou a usar as trocas. Phoenix ainda caçou Portis, mas ele foi mais competente do que Lopez defendendo em isolação. Veja essa cesta de Booker: ele acerta, mas você vive com esses chutes. A defesa é boa, o arremesso é difícil, e ao longo do tempo a matemática desse tipo de lance volta a seu favor.

Isso nos leva ao terceiro problema defensivo dos Bucks e é onde começamos a falar dos erros de Milwaukee - e também dos possíveis ajustes a serem feitos para o Jogo 2.

Como já dito, o propósito da defesa por trocas é evitar que o adversário gere espaços com suas ações, que por sua vez abram linhas de passe para movimentação de bola e chutes. Como os Suns são um time espetacular nisso, a defesa de trocas faz sentido. Só que se você começa a enviar ajuda contra as isolações, isso volta a abrir todas as opções de passe e espaços para o adversário rodar a bola - anulando assim todo o propósito das trocas em primeiro lugar.

Não tem nada de errado em misturar coberturas secundárias para confundir o ataque e minimizar o estrago nos mismatches. Ficou claro, porém, que Milwaukee estava fazendo isso como reação ao estrago causado pelos ataques em isolação de Phoenix, o que deixou a equipe presa entre duas coberturas diferentes e no pior dos mundos. Agora os Bucks estavam dando aos Suns os mismatches para atacar e gerar mais espaço para iniciar a jogada - permitindo a Phoenix ditar os termos do ataque e portanto da ajuda. Além disso, dava aos Suns todo o espaço do mundo para rodar a bola e achar bons chutes.

Seja por design ou erro pontual, é algo que os Bucks precisam limpar. Se vai apostar nas trocas, tem que ir até o fim e aceitar as isolações como consequência. Essa mistura apenas deixa o time preso em um limbo que cai nas mãos do excelente ataque de Phoenix.

Por fim, temos o quarto problema, que é o mais interessante por ser onde os ajustes dos Bucks para o Jogo 2 devem se concentrar: o que acontece após a ação inicial. Seja recuando Lopez para o garrafão ou fazendo a troca, Milwaukee foi extremamente passivo nesses momentos, e isso é a morte contra um ataque tão adaptável como o dos Suns, que consegue pegar o que a defesa oferece e imediatamente usar isso a seu favor. Veja dois exemplos:

Aqui, Lopez recua contra o PnR, e os Suns - Paul em especial - gostam muito de fazer o chamado "snake" ao contornar um corta-luz, quando driblam de volta na direção oposta para ganhar o meio da quadra e manter as opções em aberto. Parte do que fez a defesa dos Clippers contra os Suns tão boa é que eles trabalharam para tirar esse "snake", obrigando o armador a continuar o drible em uma mesma direção e mantendo Paul desconfortável. Os Bucks, no entanto, não fazem nada a esse respeito.

O mesmo se viu em casos de isolação.

A troca acontece, mas depois os Bucks simplesmente dão a Paul espaço para ele fazer o que quiser, e isso é a morte. Não existe um plano de tirar o step back de Paul nem forçar ele a infiltrar em uma direção específica - na da ajuda de Giannis, por exemplo - deixando CP3 ditar os termos do ataque e conseguir o chute que ele prefere.

Esse é, a meu ver, o maior ponto de ênfase dos Bucks do lado defensivo para os próximos jogos. O time fez um trabalho sólido no ponto de ataque inicial, mas contra os Suns isso não é suficiente - você precisa manter a pressão e o controle por todos os 24 segundos do relógio. Se isso soa difícil e exaustivo é porque é. Mas esse é o tipo de dilema que você encontra em um nível tão alto como as Finais da NBA. Milwaukee tem os defensores para conseguir executar esses esquemas mais complexos e agressivos - e vai precisar disso caso queira ter chance de virada.

Alguns outros pontos defensivos valem ser destacados também. É verdade que os Bucks defenderam e trocaram melhor sem Lopez em quadra, mas não usar o pivô não é uma opção. Milwaukee precisa achar uma alternativa para os minutos dele. Para isso, terá que misturar mais suas coberturas e achar mais meio termos entre a defesa drop e as trocas.

Essa jogada é um bom exemplo: Milwaukee evita a troca a princípio, Lopez marca o corta-luz mais alto e acompanha Booker para tirar a bandeja, mas Jrue acompanha por trás e impede que Book use seu step back, contestando o chute pelas costas sem ceder completamente o passe para o perímetro.

É algo que eu gostaria de ver mais no Jogo 2.

Também preciso falar de novo sobre a importância dos Bucks de usarem Giannis como pivô, formações que têm dominado a pós-temporada e foram +4 no Jogo 1. Não só é a melhor formação do time e uma forma de manter Lopez no banco, como é de longe o quinteto que mais vai conseguir trocar a marcação sem expor mismatches óbvios a serem atacados. Os Suns ainda vão caçar Connaughton, mas esse é dos males o menor, especialmente se fizerem um trabalho melhor direcionando as isolações para a ajuda de Giannis - que vai ter mais liberdade de ação nesses minutos marcando Ayton.

O erro de Bud com esses minutos de Giannis no Jogo 1 foi manter Forbes em quadra, o que oferecia um alvo claríssimo para ser atacado e que os Suns exploraram bem. Obviamente eles são dependentes da saúde de Giannis, que teve minutos limitados na terça-feira e talvez não aguente fisicamente essa carga extra, mas é uma carta na manga que os Bucks precisarão usar bastante daqui para frente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL