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Atenção, Flamengo! A culpa não é da ciência

Tite deixou claro, em sua última resposta da entrevista coletiva, que toma decisões e pode ser responsabilizado por elas.

Trata-se exatamente disso. Tite decidiu preservar sete jogadores com base nos relatórios de seus departamentos médico e físico.

Tudo na vida tem ônus e bônus. O técnico é pago para isso, decidir. O ônus são as críticas e, em última análise, demissão.

Nada foge a esta regra não escrita.

Daí que não faz sentido o negacionismo e o discurso de que a ciência é uma novidade para o torcedor rubro-negro.

O torcedor... Esta entidade, "o torcedor", é contemplada em conferências de imprensa.

É um ser abstrato, porque nenhum torcedor é igual. Mas é citado em referência ao sentimento do próprio inquisidor, bravo e em busca de engajamento.

O Flamengo perdeu apenas primeira partida do ano.

A culpa não é da ciência. É de Tite, que decidiu jogar com três zagueiros, com apenas três titulares. É do time, que não sustentou a posse de bola. É do posicionamento na hora do segundo gol, quatro jogadores do Bolívar contra apenas três zagueiros do Flamengo. Com tudo isso, no terceiro jogo de sua história em La Paz, perdeu pela terceira vez.

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A ciência não tem nada a ver com isso, muito menos é uma novidade no futebol.

Em 1992, o São Paulo ganhou sua primeira Libertadores com exaustivos testes para conhecer limiares aeróbios de seus atletas. Cafu, um fenômeno, tinha 13 km/h, ensinavam Moracy Sant'Ana e Turíbio Leite de Barros, do departamento científico do Tricolor.

Os testes em túneis de oxigênio comprovavam que Palhinha se daria bem na altitude. Macedo, nem tanto. Em Oruro, o São Paulo venceu por 3 x 0, com três gols de Palhinha.

Dez dias antes, em Criciúma, Telê Santana escalou reservas e levou 3 x 0 do Criciúma. O calendário com estreia na Libertadores no Sul do país, na sexta-feira, seguido de clássico, no domingo, obrigou a esta decisão. O São Paulo levou 4 x 0 do Palmeiras dois dias depois dos três do Criciúma.

Ônus, Telê correu risco de ser demitido ao somar cinco derrotas seguidas, antes de ganhar em Oruro, com o apoio dos testes de oxigenação.

A ciência não fere a tradição do Flamengo. Em 8 de abril de 1983, na manhã de Bolívar 3 x 1 Flamengo, matéria do jornal O Globo, contava: "Somente hoje à tarde, depois de sentir a reação dos jogdores à altitude de La Paz, Carlinhos anunciará a escalação para o jogo contra o Bolívar... Pelo menos quatro alterações podem ser feitas."

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Foram duas. Carlinhos trocou o zagueiro Marinho e o ponta-direita Robertinho por Figueiredo e Felipe. Perdeu.

Tite deve ser cobrado por suas decisões. A ciência, não.

Mas o futebol brasileiro é tão peculiar e pode ser capaz de criar a Santa Inquisição para treinadores.

Tite, então, pode ser obrigado a desmentir a ciência, como se fez com Galileu Galilei.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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