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Tribunal vai ouvir técnicos e dirigentes sobre racismo no Pinheiros

Ângelo Assumpção, ginasta - Ricardo Bufolim/site de Ângelo Assumpção
Ângelo Assumpção, ginasta Imagem: Ricardo Bufolim/site de Ângelo Assumpção

08/09/2020 17h00Atualizada em 10/09/2020 13h28

Os supostos casos de racismo e de maus-tratos na ginástica artística do Esporte Clube Pinheiros serão analisados de forma concomitante por dois tribunais. Em São Paulo, pelo Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) ligado à Federação Paulista. Em Aracaju (Sergipe), onde fica a sede da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), pelo STJD da modalidade.

Na quinta-feira da semana passada, a presidente da CBG, Luciene Resende, encaminhou à STJD cartas encaminhadas pelos técnicos do Pinheiros e pelo próprio clube da elite paulistana respondendo a questionamentos feitos pela entidade. Demitido em novembro do ano passado, o ginasta Ângelo Assumpção já havia procurado a confederação antes mesmo da reportagem do Esporte Espetacular que revelou as alegadas práticas racistas no clube.

Na ocasião, a CBG enviou ofício ao Pinheiros cobrando por esclarecimentos, que nunca foram prestados. Quando o caso se tornou público, a confederação voltou a questionar o clube e os treinadores, que agora enviaram suas alegações. Todo o material foi distribuído ao procurador-geral do STJD da ginástica, Alessandro Kishino, que é quem vai decidir o que será feito.

A tendência é que ele peça a instauração de um inquérito. Em 2015, quando Ângelo foi alvo de ofensas racistas durante um treinamento da seleção brasileira, o auditor Felipe Bevilacqua entendeu que o caso não era de competência do tribunal, cuja jurisdição só incluía competições nacionais e interestaduais. Por isso, naquela ocasião, Arthur Nory, Fellipe Arakawa e Henrique Flores sequer foram denunciados. Os três só cumpriram, antes, 30 dias de suspensão provisória.

Agora, existe a possibilidade de ocorrer o mesmo. As denúncias de racismo e maus-tratos constam em um relatório de auditoria do Pinheiros, produzido no ano passado e obtido pela reportagem da Globo, que exibiu trechos no Esporte Espetacular. Paralelamente, Ângelo alega que foi demitido do clube no ano passado por levar denúncia de racismo à diretoria.

Além do processo que corre no STJD, há também outro, mais célere, no TJD da Federação Paulista de Ginástica (FPG). A entidade é presidida por Roseane Zanetti, mãe do ginasta Arthur Zanetti e que chegou ao cargo vencendo a então vice-presidente Ana Paula Adami em eleição realizada no final de 2016. Ana Paula, que se apresenta como diretora de comunicação do Pinheiros (o que o clube nega), teria sido, pelo que apurou o Olhar Olímpico, a responsável por produzir a auditoria que ouviu relatos de racismo e maus-tratos e não puniu ninguém.

Em São Paulo, as oitivas já estão inclusive marcadas. Foram intimados a depor os técnicos Cristiano Albino (chefe da equipe do Pinheiros), Hilton Dichelli (o Batata, técnico de Ângelo durante quase toda a carreira), Lourença Ritli, Danilo Bornea e Felipe Polato, o coordenador de ginástica do Pinheiros, Raimundo Blanco, e o presidente do clube, Ivan Castaldi.

Também foram intimados Ângelo, Arthur Nory e Henrique Medina Flores, envolvidos no episódio de racismo de 2015. Medina é enteado de Marcos Goto, técnico de Zanetti, e não escapou da convocação, feita pela auditora Tarsila Machado Alves. A procuradora responsável pelo caso é Carolina Danieli Zullo. Por envolver supostos menores de idade, ouvidos pela auditoria do Pinheiros, o caso corre em segredo de Justiça.

Após a publicação desta reportagem, o Pinheiros informou que Ana Paula, diferente do que informa no Instagram, não é diretora de comunicação, mas diretora adjunta de redes sociais. O clube também diz que ela "não participou direta ou indiretamente da auditoria realizada no departamento de ginastica artística". A auditoria é sigilosa.

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