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Ameaça de Trump a agência antidoping pode tirar os EUA de Olimpíadas

O presidente dos EUA, Donald Trump, no primeiro dia da convenção nacional do Partido Republicano - David T. Foster III/POOL/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, no primeiro dia da convenção nacional do Partido Republicano Imagem: David T. Foster III/POOL/AFP

04/09/2020 16h36

Os Estados Unidos podem ser barrados dos Jogos Olímpicos, dos Jogos Paraolímpicos e de muitas outras competições internacionais. A ameaça é da Agência Mundial Antidoping (Wada), que está em conflito aberto com o governo Donald Trump e com a agência antidoping norte-americana, a USADA, que ameaçam não pagar a parcela que lhes cabe no financiamento internacional do combate ao doping. A cota de 2020 no rateio já foi quitada.

A possibilidade de suspender a participação de atletas norte-americanos foi admitida em entrevista do presidente da Wada à agência Reuters, publicada ontem (3). "As consequências de uma retirada do financiamento da Wada pelos EUA podem ser mais graves e de longo alcance para os atletas americanos. Temos sido abordados por vários governos do mundo que ficaram chocados com as ameaças do governo dos Estados Unidos apoiado pela USADA", disse Witold Banka à agência de notícias.

"Esses governos querem que consideremos uma emenda às regras de conformidade determinando que o não pagamento por um governo de sua contribuição para a Wada pode levar diretamente a agência antidoping daquele país a ser declarada em não conformidade com o Código Mundial Antidopagem. Inevitavelmente, isso pode ter sérias repercussões para os atletas daquele país, incluindo sua participação em grandes eventos esportivos internacionais", continuou Banka. Países que não estão em conformidade como o código antidoping não podem disputar competições do chapéu da Wada.

Não é segredo que os Estados Unidos têm tentado usar, há anos, o combate ao doping como peça do xadrez geopolítico mundial, a ponto de a Câmara ter aprovado no ano passado um projeto de lei que poderia colocar na cadeia atletas do mundo todo que se doparem em competições com a presença de norte-americanos. Suspensa por um caso de doping no Pan, a brasileira Rafaela Silva, por exemplo, poderia ser presa nos EUA caso essa lei seja aprovada.

A isso se soma uma postura política do presidente Donald Trump de ameaçar retirar o financiamento de organismos internacionais para barganhar. Essa ameaça foi apresentada em uma carta do Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas (ONDCP), órgão federal ligado à Casa Branca, ao Congresso, em junho. Nessa carta, o governo Trump criticou a estrutura da Wada e questionou se o investimento do país na organização tinha uma boa relação custo-benefício. A Wada chegou a responder com uma carta aberta em que dizia que o órgão não está à venda.

Os EUA contribuem anualmente com US$ 2,5 milhões com a Wada, mas reclamam agora que deveriam ser mais representados nos órgãos de governança da agência. A divisão dos custos é discutível. O Canadá contribui com US$ 1,2 milhão (a sede da Wada é em Montreal), enquanto a China, que divide com os EUA o posto de potência olímpica, paga menos de meio milhão de dólares. A cada dólar pago por um governo, o COI dá outro.

O problema é que 14 de agosto, 74 países não haviam pagado a parte deles no rateio, a enorme maioria países pequenos da África e do Caribe, que fazem contribuições simbólicas. O Brasil se compromete com US$ 396 mil, mas só pagou US$ 240 mil até agosto. Só as dívidas da Espanha (US$ 530 mil) e México (US$ 405 mil) são maiores. No ano passado, 28 países deixaram de pagar, só dois com verbas relevantes: Cuba e Venezuela. Se a regra vier a ser aprovada, todos essas nações seriam barradas dos Jogos Olímpicos.

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