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Olhar Olímpico

Após basquete, CBC ameaça base da natação

Largada de prova do Brasileiro Infantil - Divulgação/GNU
Largada de prova do Brasileiro Infantil Imagem: Divulgação/GNU

20/08/2020 04h00

O Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), que por anos se contentou em operar recursos públicos longe dos holofotes, subiu o tom na negociação com confederações olímpicas. Depois de reduzir o apoio às categorias de base do basquete, a entidade, que recebe cerca de R$ 70 milhões por ano da Lei Agnelo/Piva, das Loterias, ameaça cortar 100% do auxílio dado às modalidades aquáticas: natação, nado sincronizado, maratonas aquáticas, polo aquático e saltos ornamentais. A entidade já não distribuiu os 15% previstos em lei ao esporte paraolímpico porque, segundo ela, os clubes paraolímpicos não têm estrutura.

Diferente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) que, pressionado pela opinião pública, criou critérios objetivos para distribuir recursos entre as confederações, o CBC faz essa divisão sem critérios claros. Como seus associados são os clubes, não as Entidades Nacionais de Administração do Desporto (ENAD's), quando há edital é para "repartir" dinheiro entre os clubes, não entre as molidades. Entre aspas porque a maior parte desse dinheiro não vai para os clubes, sendo executado pelo próprio CBC.

No ciclo olímpico passado, o CBC fechou contratos com essas ENAD's para a realização os campeonatos brasileiros de base, que ganharam o nome de Brasileiros Interclubes. São os CBI's. Os torneios são organizados pelas ENAD's (confederações ou ligas) e o CBC paga hospedagem e aéreo dos atletas dos clubes associados, reduzindo custos. Mas esse modelo deixou o CBC com todas as cartas na mão e, as confederações, absolutamente dependentes.

O basquete é um exemplo. A CBB, em crise, em 2016 não organizava qualquer competição de base. Passou a realizar em 2017 e chegaria a 26 torneios em 2020 não fosse a pandemia. Quando o CBC decidiu tirar o investimento, bancando 10 torneios, a confederação lamentou. Ouviu a seguinte resposta, em nota pública: "Na visão deste Comitê não é possível levar a frente uma parceria com entidade que qualifica como lamentável as decisões tomadas de forma conjunta, negociada e amigável, em prol do desenvolvimento do basquete nacional".

Dirigentes de diversas modalidades, porém, dizem que a "negociação" tem ocorrido em tom de ameaça. Os esportes aquáticos são exemplo. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) tem uma dívida de pouco mais de R$ 8 mil com o CBC, causada por passagens canceladas em 2017 e 2018, e diz que não tem como pagar agora. A entidade passa por uma enorme crise financeira, tendo perdido todas suas fontes de recurso.

O CBC avisou que, se a dívida não for paga pela CBDA, não haverá dinheiro, em 2021, para a realização de competições de base das modalidades aquáticas. Na natação, o contrato de 2020 era para o CBC pagar todos os seis torneios de base nacionais. Sem o CBC não haverá dinheiro para realizar nenhum em 2021.

O comitê ameaça também cortar o financiamento do polo aquático, realizado através da liga Polo Aquático Brasil (PAB), e dos saltos ornamentais, apoio dado à confederação autônoma Saltos Brasil, apesar de essas duas entidades não terem nenhuma dívida com o CBC. A Saltos Brasil tem como presidente um dos líderes do Instituto Pro Brasil, clube de entrou na Justiça contra o CBC pelas regras do último edital lançado pelo comitê. O CBC só aceita repassar recursos a clubes que pagam lhe quase de R$ 50 mil em taxas por ano e tem ido às últimas consequências por essa regra.

O CBC não tem assessoria de imprensa e o porta-voz da entidade há anos é Arialdo Boscolo, presidente do Conselho Consultivo. De acordo com comunicado enviado ontem (19) aos clubes, é do ocupante deste cargo a atribuição de realizar a "interface com as entidades parceiras". Confederações que se sentaram com Paulo Maciel, ligado ao Tijuca Tênis Clube, foi recentemente eleito presidente do CBC, ouviram dele que é Arialdo quem toma as decisões.

Procurado pelo blog, Arialdo disse que os critérios de divisão dos recursos entre as modalidades seriam explicados em um comunicado, que foi publicado ontem (19) no final da noite, sem esses critérios. "Tudo planejado em conjunto de forma a qualificar a formação de atletas e o desenvolvimento de cada esporte, considerando suas especificidades, e acima de tudo, considerando as necessidades dos clubes formadores", diz o comunicado, que promete investir ao menos R$ 30 milhões ao ano nos campeonatos interclubes de base, mesmo patamar de 2019.

Entidades foram avisadas que as que fecharem contrato primeiro terão dinheiro. Quem demorar mais a aceitar as condições podem ficar sem nada. Além disso, o momento não é propício para os dirigentes olímpicos trucarem sem cartas na manga. Para cada um deles, perder a queda de braço e os campeonatos de base agora pode impactar nas eleições previstas para os próximos meses em praticamente todas as confederações.