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Preço 'estratosférico' faz favoritos desistirem de arrematar Interlagos

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12/02/2020 04h00

As principais empresas a demonstrar interesse na concessão do autódromo de Interlagos desistiram de apresentar ofertas por considerarem que a prefeitura de São Paulo exagerou ao pedir R$ 198,6 milhões como valor mínimo de outorga fixa, valor que precisa ser pago ainda em 2020, om incidência de juros. O governo municipal já adiou duas vezes o prazo para apresentação de ofertas, que inicialmente era 8 de janeiro. Agora, esse prazo é 28 de fevereiro.

Durante o Procedimento Preliminar de Manifestação de Interesse (PPMI), momento em que a prefeitura pede ao mercado ideias para modelar o edital de concessão, apenas duas empresas apresentaram estudos de viabilidade do negócio: a RNGD Consultoria de Negócios Ltda, que recentemente assumiu a gestão do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, e a WPR Parcipações, do grupo WTorre, que planejava assumir Interlagos junto com a SuperBike Brasil.

Esses dois grupos afirmam publicamente que desistiram do negócio. "Na fase pré-edital, eles (a prefeitura) fizeram consultas para entender a capacidade produtiva, quanto o autódromo vale e quanto é possível empreender naquela área. A gente mostrou tudo que era possível construir, quanto custaria e quanto era possível retribui. O valor de outorga tinha que oscilar ente R$ 20 milhões e R$ 40 milhões, no máximo. Para nossa surpresa saiu aquele valor estratosférico e nós declinamos", contou, ao Olhar Olímpico, o Bruno Corano, diretor da SupeBike Brasil.

O mesmo tom é utilizado por Richard Debois, presidente da RNGD, que recentemente assumiu o Mané Garrincha em sociedade com a Amsterdam Arena e que foi o vencedor da PPP para reconstruir o autódromo de Brasília. "Quando vieram com esse valor, um pouco antes da licitação, avisamos que vamos ficar de fora. A gente não blefa. O valor é fora do razoável. Não vamos fazer investimento sem equacionamento. Qualquer um que sentar e fizer conta, vê que não paga", afirmou ele, ao blog.

A prefeitura de São Paulo foi elogiada pela modelagem do edital de concessão, que assegura que o autódromo será cedido sem custos ao poder público municipal durante o período de realização do GP Brasil de Fórmula 1 (caso este se mantenha na capital paulista). Em troca, o concessionário poderia construir um shopping center e um hotel, entre outras estruturas menores, tirando daí o retorno do investimento.

Esse modelo torna o negócio mais atraente para administradores de complexos comerciais e/ou de entretenimento e afasta operadores de autódromos, que não poderiam faturar com a principal corrida do circuito. O edital exige pontual que o licitante tenha experiência como operador de autódromo ou kartódromo que tenha recebido ao menos uma prova oficial da FIA, CBA, FIM ou CBM (entidades brasileiras e internacionais de automobilismo e moto) e que tenham explorado economicamente, gerido empreendimento multiuso ou realizado eventos com capacidade de atendimento de, no mínimo, dez mil pessoas.

As principais administradoras de shopping centers do país, porém, também já teriam declinado de participar do edital, pelo que apurou o Olhar Olímpico. A Aliansce Sonae chegou a se reunir com a prefeitura em agosto, mas disse que não tem interesse em assumir um autódromo. A BR Malls também chegou a ser cotada, mas não avançou nas conversas.

Uma das maiores empresas de entretenimento do país e dona da Stock Car, a Time For Fun (T4F) chegou a apresentar um estudo simples sobre a viabilidade de ampliar o número de festivais no autódromo no PPMI, mas também teria desistido de apresentar oferta. Nem ela, nem a Aliansce Sonae, nem a BR Malls quiseram comentar a reportagem.

Já a prefeitura diz que as empresas que reclamam da outorga mínima cobrada "talvez não possuam os recursos necessários para participar da licitação" ou que as mesmas são "interessadas na redução do valor pretendido". "A prefeitura de São Paulo tem sido procurada e tem se reunido com interessados e nada foi dito a respeito da outorga", disse a gestão Bruno Covas (PSDB), em nota, sem detalhar os interessados. Além dos citados na reportagem, também se reuniram oficialmente com a prefeitura durante a PPMI uma loja de peças (cujo dono é um ativista pró-autódromo), a Porshe GT3 Cup e os atuais organizadores do GP Brasil de F1, apenas.

Ainda de acordo com a prefeitura, o valor mínimo exigido "foi calculado levando em conta as potencialidades do equipamento, tanto as atuais e como as futuras, por sua vocação como centro do esporte a motor na América Latina, além de ser um local multiuso e propulsor de investimentos privados na região sul da cidade, incentivando o surgimento de polo gerador de emprego tanto pelas obras a serem realizadas como também pelas possibilidades de atividades a serem implantadas na área", destacando que o cálculo é "complexo".

A prefeitura afirma que o prazo para apresentação das propostas foi adiado duas vezes porque "ainda não foram concluídas as discussões com o Tribunal de Contas do Município (TCM)" e que acredita que a licitação será concluída com sucesso.

Quando Covas apresentou o edital, em novembro, a prefeitura infirmou que além da outorga fixa calculada em no mínimo R$ 198 milhões, o concessionário deveria pagar R$ 177 milhões em outorga variável. Além disso são previstos investimentos de R$ 466 milhões. Como comparação, o Pacaembu foi privatizado com uma outorga fixa de R$ 111 milhões.