Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Pequeno manifesto em defesa do fut-mesa nos CTs

Quando o ping-pong cruzou com o futebol nasceu o fut-mesa e os jogadores de futebol, assim como todos aqueles e aquelas que amam brincar de dominar uma bola com os pés, se encantaram. O fut-mesa passou então a ser usado em alguns centros de treinamento como uma mistura de brincadeira e aquecimento. Até Abel Ferreira, sempre bastante comprometido com a preparação física e mental de seu elenco, já foi visto jogando.

Qual o problema então?

O problema parece ter sido criado por um certo conservadorismo que mandou que se retirasse o fut-mesa do CT do Flamengo. José Luiz Runco, um dos mais renomados médicos-ortopedistas dentro do futebol e que agora volta à Gávea, teria dito logo na chegada que aquele troço não fazia sentido, não continha função, seria um risco, tirem daqui.

O corpo de jogadores teria ficado bastante desgostoso e então a erupção em torno do fut-mesa ganhou o noticiário.

Uma matéria bem amarrada publicada pelo UOL traz a opinião de especialistas sobre o fut-mesa. Queria alargar um pouco esse debate. Para além das questões de preparo físico, eu defendo que o fut-mesa carrega com ele a sagrada importância da brincadeira. O que é a brincadeira? É a gente voltar a ocupar um lugar em nossas infâncias. É a gente resgatar uma forma de arte que não está ligada a performance, a eficiência e que não nos enxerga como mercadorias.

Para além de questões fisiológicas, o fut-mesa me parece bastante importante nessa viagem no tempo. Ele promove um tipo de interação entre os praticantes que o treinamento em campo não pode alcançar. Ele lembra que futebol é lúdico e que, em algum lugar, ainda existe para além do negócio e da mercadoria. Ele lembra que quanto mais os jogadores forem capazes de resgatar a paixão de suas infâncias mais eles serão capazes de nos encantar e elevar.

Envelhecer é perder contato com essas pessoas que um dia fomos. Quanto mais lutarmos para refazer essa conexão, menos difícil fica atravessar o tempo. Runco é um profissional bastante renomado e alguém que trabalha há décadas com o futebol. Espero que tenha o jogo de cintura de enxergar algumas novidades com olhos de gentileza e lembrar que aqueles jogadores, por mais cínico que seja o mundo do futebol hoje, talvez tenham trocado boa parte de suas infâncias em nome de uma carreira de sucesso. Voltar a ela, nem que seja por 15 minutos, pode ser bom para todos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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