Na fala de Lula, a estética vale mais do que o erro da linguagem escolhida
Lula finalmente se manifestou a respeito da morte de Thiago Menezes, mais uma vítima da fictícia "guerra às drogas" promovida pelo Estado brasileiro.
Nos últimos três anos, 2.215 crianças e adolescentes foram mortos pela polícia. São dois por dia. Quase 70%, negros.
Era obrigação de Lula se manifestar.
Ele demorou, mas quando se manifestou o fez em grande estilo: em evento público e olhando dentro do olho do governador Claudio Castro, que comanda a polícia do Rio de Janeiro, estado onde Thiago vivia.
Lula foi grande e corajoso. Foi firme e sensível.
Mas Lula também disse a seguinte frase em seu furioso discurso: "A polícia tem que saber diferenciar bandido de pobre". Aqui temos um problema na linguagem.
Do jeito que foi colocado fica parecendo que matar bandido é do jogo. E não é.
No Brasil não existe, pela lei, pena de morte ou licença para matar.
Dito como Lula optou por dizer abre-se espaço para as leituras de que 1: matar bandido é aceitável e 2: na favela tem muito bandido.
Nenhuma das duas coisas é verdadeira.
Há bandidos em todos os lugares, para começar. E matar, mocinhos ou bandidos, não é opção válida dentro de uma democracia.
Tudo isso considerado, a estética da manifestação de Lula, o tom apaixonado, o olho no olho de Claudio Castro, o fato de estarem presentes, lado a lado, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o governador do Rio, além do prefeito (que aliás aplaudiu efusivamente Lula), conta mais do que o deslize semântico.
Mas seria importante Lula ajustar o conteúdo à forma da próxima vez.
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