Diretor da CBF cogitado no Flamengo é demitido por assédio: veja mensagens
Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, foi demitido da entidade por justa causa, na última quarta-feira (18). Ao que me parece, não pela traição ao presidente Ednaldo Rodrigues por estar abertamente envolvido na campanha de Ronaldo Fenômeno. Pelo menos, não oficialmente.
A coluna teve acesso a trechos da sentença da 2ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, prolatada em agosto, que condenou Paiva e a CBF pelo assédio sexual cometido contra a ex-diretora Luísa Rosa. Algumas mensagens de WhatsApp ilustram o teor das conversas, que para muitas mulheres certamente será gatilho.
No dia 01/02/2023, o sr. Rodrigo Paiva convida a reclamante para se encontrarem longe do ambiente de trabalho. Já no dia 10/02/2023, ele afirma saber que amigo de trabalho não pode falar certas coisas, destacando, em seguida, tratar-se de coisa boa, para escrever, logo adiante, que naquele dia a reclamante "estava muito elegante e bonita". Algum tempo depois, no dia 13/04/2023, o sr. Rodrigo Paiva diz que a reclamante é "linda por dentro e por fora". [...]
No dia seguinte, 17/04/2023, o sr. Rodrigo Paiva escreve a seguinte mensagem: "Estava pensando em você aqui. Quando a conversa flui fica na nossa cabeça. Sou experiente, inteligente e do bem; além de modesto .. kkk Tudo o que você me falou serve para nos aproximarmos e nos ajudarmos. Fica tranquila, você confiou na pessoa certa. Ah também sou mais discreto do que imagina".
No dia 18/04/2023 ele manda um beijo e a chama novamente de "linda". No dia 25/04/2023, após o envio de um documento por parte da reclamante, o sr. Rodrigo responde à mensagem dizendo "Você é linda". No dia 28/05/2023 diz estar com saudades dela. No dia 31/05/2023 escreve "Vamos conversar no nosso bairro". E no dia 04/07/2023 a chama, mais uma vez de "anjo".
O juiz Leonardo Almeida Cavalcanti fecha a sentença com uma conclusão óbvia: "A fala do sr. Rodrigo Paiva reflete a misoginia da sociedade, na qual a mulher é objetificada e relegada a um papel que se presta apenas à satisfação do prazer do homem, a algo para sua apreciação e deleite, a um mero instrumento para atender os seus interesses."
Resta saber se Luiz Eduardo Baptista, o Bap, novo presidente do Flamengo, seguirá considerando Paiva para assumir a comunicação do clube. Se Ronaldo e tantos outros vão ou não se distanciar do parceiro. E se a CBF finalmente agirá para prevenir o assédio rampante na entidade, não se resumindo a cumprir ordens judiciais, depois que o estrago já está feito — e somente quando lhe é politicamente conveniente.
Até porque, curiosamente, quando se torna pública uma condenação por assédio sexual, quase nenhuma mulher se surpreende. Assédios raramente são isolados, contidos, únicos. Quase sempre há mais de uma vítima e quase sempre há bastante gente sabendo do padrão de comportamento. Apenas escolhem fazer vista grossa por motivos tão diversos quanto perversos.
Outro lado
Rodrigo Paiva enviou nota ao UOL e afirmou que não é réu nem parte do processo movido por Luisa Xavier. Ele disse que nunca teve um episódio de discriminação, assédio ou desrespeito e que vem sofrendo ataques sistemáticos desde que Ronaldo lançou candidatura à presidência da CBF.
O posicionamento da CBF é de que a entidade não comenta publicamente suas decisões administrativas. O UOL também buscou contato com a nova diretoria do Flamengo e o estafe de Ronaldo.
Confira a nota de Rodrigo Paiva na íntegra
Desde que Ronaldo Nazario - com quem tenho uma linda história de amizade e conquistas - lançou oficialmente sua candidatura à presidência da CBF, venho sofrendo ataques sistemáticos que visam manchar a minha reputação como homem e como profissional.
Tenho 35 anos de profissão e fui o primeiro assessor de imprensa de um clube de futebol, profissão essa que hoje vejo com muito orgulho ser trilhada por outros profissionais e que emprega milhares de jornalistas em um mercado tão dinâmico como o da Comunicação.
Tenho em minha trajetória 5 Copas do Mundo comandando a Comunicação da entidade e mais de 200 convocações à frente da Seleção Brasileira Masculina principal. Um número que poucos atingiram. Também faz parte da minha trajetória ter trabalhado com os maiores jogadores de futebol do Brasil.
Nesse período, convivi com homens, mulheres, pessoas de todas as raças, crenças e posicionamentos e nunca tive na minha vida nenhum episódio de discriminação, assédio ou desrespeito. Pelo contrário, sou conhecido pelos profissionais de imprensa por ser uma pessoa gentil, atenciosa e respeitosa com todos, algo que naturalmente é parte do que acredito nessa profissão.
As tentativas de propagar de forma recorrente notícias a meu respeito acontecem em sites criminosos, anônimos e ilegais, que causam danos a tantas pessoas sempre de forma irresponsável. Apesar disso, sigo tranquilo o meu caminho, porque sempre o trilhei corretamente.
Especificamente quanto à ação da ex-diretora Luisa Xavier contra a CBF, gostaria de esclarecer que não tenho lugar de fala sobre o tema em questão, uma vez que não sou e jamais fui parte desse processo ou de qualquer outro dessa natureza. A ex-diretora mencionada, assim como tantos outros profissionais da CBF, buscou os direitos que entendia ter na Justiça, em processo que ainda está em curso.
Como eu não conheço o teor do processo e nem tenho acesso ao seu conteúdo, pois tramita em segredo de justiça, não tenho como sobre ele me manifestar.
Destaco, no entanto, que minha trajetória profissional sempre foi marcada por incentivos à desconstrução da cultura do assédio presente no país, a fim de que as mulheres possam desfrutar de um ambiente de trabalho digno, igualitário e livre de discriminações.
Nunca em toda a minha vida fui alvo de investigação de qualquer espécie e muito menos réu ou condenado em qualquer processo de qualquer natureza.
Agradeço ao UOL, que me procurou e me deu o direito de resposta e defesa em relação a acusações tão levianas.
E a todos aqueles que insistirem em reproduzir de forma irresponsável os ataques estampados em sites duvidosos, cuja origem é de conhecimento de todos, deixo claro que serão tomadas as providências jurídicas cabíveis.
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