'Ovelhas terapeutas' visitam hospitais e ajudam no tratamento de pacientes

Quando Côco, Marshmellow, Alecrim e Cookie chegam viram o centro das atenções. Afinal, um minirrebanho de ovinos em instituições de saúde e salas de aula é uma situação, no mínimo, curiosa. Denominado de InspiraSheep o trabalho de intervenção assistida por animais consiste na visita de ovelhas "terapeutas" a hospitais e escolas especiais.

"Como o próprio nome já diz, queremos inspirar as pessoas a ter experiências novas, positivas, a esquecer por um momento suas dores e aflições, levar o espírito de rebanho (acolhimento) e mostrar que elas não estão sozinhas", explica a médica veterinária Maria Christine Rizzon Cintra, idealizadora e criadora do projeto.

Sonho antigo

Lançada em maio deste ano, a iniciativa é inédita, mas o sonho é antigo. Com interesse por ovelhas desde a faculdade, Maria teve uma vivência pessoal com elas quando foi diagnosticada com esclerose múltipla em 2014.

Estar com as ovelhas era motivo de paz, tranquilidade, eu simplesmente esquecia da doença. Hoje após nove anos realizo um sonho que é levar esses animais a pacientes.
Maria Cintra, idealizadora do InspiraSheep

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Imagem: Divulgação

A primeira atuação do projeto aconteceu em uma escola de crianças com deficiência. A interação com os pequenos, lembra Maria, foi positiva. "Após esse encontro me encantei com a ideia. Outras escolas entraram em contato querendo agendar visita. Por meio da minha irmã Ana Carolina, que é voluntária na ONG Amigo Bicho, fizemos a primeira ação em um hospital e o projeto foi ganhando espaço".

Internado no hospital Ônix Batel, em Curitiba, Pedro Henrique Nascimento Siqueira, de 7 anos, foi um dos impactados pelo programa. "Pedro ficou correndo atrás das ovelhinhas no corredor e passou a escovinha na lã de uma delas. Após a visita, ele disse que vai pedir uma ovelha de Natal para o Papai Noel", conta a avó do menino, a cabeleireira Elizabeth de Souza, de 53 anos.

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Trabalho voluntário

Com duração de 40 minutos, as visitas são guiadas por voluntários treinados pela veterinária Maria e seguem um protocolo sanitário. Durante a interação, as ovelhas são levadas até os pacientes ou alunos, os menores podem pegar no colo e os maiores podem passar a mão e escovar a lã.

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Hospitalizada para tratar uma infecção, Laura Buzatto Bonfante da Silva, de 6 anos, também teve contato com os animais.

Foi um momento de alegria, felicidade e harmonia para a minha filha. Sinto que isso contribuiu para o tratamento dela e ajudou a aliviar a parte psicológica.
Isomar José Ozório, pai da Laura

Ozório conta que sabia desse tipo de ação com cães e palhaços, mas desconhecia a intervenção assistida com ovelhas, e disse que se surpreendeu positivamente.

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Atuando com pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) desde 2015, Maria sempre apreciou o trabalho voluntário - ela tem uma cachorrinha que faz visitas a hospitais — e acreditava que as ovelhas poderiam contribuir de alguma forma nesse tipo de iniciativa.

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Imagem: Divulgação

"As ovelhas são animais dóceis, sensíveis, gregários (que vivem em rebanho) e que aprendem rápido. Elas não oferecem riscos aos pacientes, não mordem, não latem, não arranham, não dão coices, só soltam balidos (fazem bééh) quando estão estressadas. Elas estabelecem uma relação única com o ser humano, foram um dos primeiros animais a serem domesticados pelo homem", relata Maria.

Bem-estar para pacientes

De acordo com ela, a intervenção assistida por animais é uma prática que traz inúmeros benefícios aos pacientes, libera hormônios do bem-estar, promove relaxamento e transforma o dia deles.

São necessários mais estudos para afirmar se os benefícios com as ovelhas são diferentes ou iguais aos de outros animais, mas nossos projetos pilotos têm demostrado resultados enriquecedores.
Maria Cintra, idealizadora do InspiraSheep

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Côco, Marshmellow, Alecrim e Cookie, as quatro ovelhas do projeto InspiraSheep são cuidadas pelos integrantes do GEER (Grupo de Estudos de Equinos e Ruminantes) do curso de Medicina Veterinária, da universidade UniCesumar, no campus Curitiba, onde Maria é professora.

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