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Periferias apontam com clareza caminho no combate à pandemia

Edinelde Silva é dona de casa, confeiteira e presidente de rua em Paraisópolis - Gloria Maria / UOL
Edinelde Silva é dona de casa, confeiteira e presidente de rua em Paraisópolis Imagem: Gloria Maria / UOL

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

18/05/2020 17h13

"Estamos confinados, de quarentena, mas a cidade continua vindo para o território, então, fazemos uma luta para dizer que o Estado precisa montar uma barreira sanitária de defesa para que a cidade não venha ao território. Se o estado não tem condições de dar uma assistência de saúde, de base pro território, eles deveriam tentar fazer essa proibição dos outros chegando ", pontua, com preocupação, a marisqueira, pescadora e quilombola Eliete Paraguassu, da Comunidade Porto dos Cavalos. A matéria completa está publicada no portal Nós, Mulheres da Periferia, dica de conteúdo jornalístico da Milo Araújo, que, em sua coluna de hoje debate "Por que consumir informações de portais de notícias periféricos"?

O boletim de Boas Notícias de hoje ecoa a coluna de Milo. Além das ações de auto-organização que vêm sendo noticiadas como exemplo quase que diariamente, as comunidades periféricas, principalmente, mas também de povos originários e outras, têm sido muito claras em comunicar suas necessidades para resistirem à pandemia.

Na manhã desta segunda (18), cerca de 500 moradores de Paraisópolis (SP), devidamente paramentados com EPIs como máscaras, escudos faciais e luvas, se dirigiram à sede do governo paulista para cobrar um plano específico e eficaz para as comunidades — que, como previsto, já são as maiores vítimas do coronavírus. A favela de Paraisópolis se destacou desde o início da pandemia pelas ações "nós por nós", ou seja, em que a própria comunidade trabalha para ocupar o espaço que deveria ser do poder público. Mas o alcance dessas ações não tem como atingir a escala que os recursos do governo podem, especialmente na eventualidade de um lockdown.

No começo da pandemia, a comunidade de Paraisópolis contratou ambulâncias, médicos e enfermeiros. Além disso, foram escolhidos 420 "presidentes de rua", voluntários que são responsáveis por zelar por trechos de vias predefinidos, cada uma com cerca de 50 casas. A favela também criou centros de isolamento social para moradores que não têm como fazer isso em seus próprios lares.

Saúde mental

Um novo documento das Nações Unidas destaca a "necessidade de aumentar urgentemente o investimento em serviços de saúde mental ou arriscar um aumento maciço de condições de saúde mental nos próximos meses". Falamos aqui na semana passada do enorme estudo brasileiro ELSA, que começa a fazer exatamente essa avaliação. Mas existem, também, ações imediatas.

A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, por exemplo, anunciou hoje um serviço de apoio psicológico à distância aos estudantes durante o período de quarentena. O site http://naapa.com.br promove um bate-papo coletivo entre os jovens participantes que queiram falar sobre suas angústias nesse período, e tem atendimento personalizado, prestado por educadores que atuam no Núcleo de Apoio e Acompanhamento.

Outras cidades também têm iniciativas nesse sentido. A Prefeitura de Sorocaba (SP), por exemplo, acaba de lançar o Escuta Acolhedora, serviço telefônico destinado a atender pessoas impactadas emocionalmente pela pandemia. Os cidadãos são ouvidos por psicólogos e terapeutas ocupacionais, e cada atendimento tem duração média de 30 minutos, já que trata-se de uma assistência em saúde mental e há necessidade de vínculo.