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Importante estudo brasileiro medirá impacto da pandemia na saúde mental

Sob pressão e maior exposição ao vírus, profissionais de saúde podem desenvolver problemas de saúde mental de longo prazo - Reuters
Sob pressão e maior exposição ao vírus, profissionais de saúde podem desenvolver problemas de saúde mental de longo prazo Imagem: Reuters

Carina Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/05/2020 17h47

Não é preciso ser ou estar doente para ser abalado por uma alteração radical da realidade . Incerteza sobre o futuro, medo por si e pelos entes queridos, dificuldades concretas e estressantes como o desemprego e a diminuição de renda, luto. Tudo isso já é difícil o suficiente. Mas temos mais. Entre as coisas que não ajudam a saúde mental de ninguém está o estresse adicional de ser levado a uma sensação agravada de insegurança, deliberadamente, por seus líderes e representantes. Difícil imaginar, por exemplo, o estado emocional de uma família que, impactada por boatos e pela morte de um ente querido, chegam ao extremo de abrir um caixão.

É precisamente por conta desse cenário agudo e singular que um dos maiores estudos epidemiológicos do Brasil dará início a uma nova onda de pesquisas, dessa vez com foco no impacto da pandemia na saúde mental. O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil) é uma investigação que acompanha, desde 2008, aspectos da saúde de de 15 mil pessoas das regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil. Originalmente, a pesquisa tem o propósito de investigar a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares e a diabete. As doenças relacionadas à saúde mental são fatores indiretos de doenças crônicas.

Para acompanhar os impactos da pandemia, a estrutura ELSA dará início nos próximos dias a uma nova onda de exames e entrevistas dos milhares de participantes. Além dos dados, que serão usados para pesquisa e desenvolvimento de políticas públicas, haverá apoio aos casos mais graves. Em entrevista ao Jornal da USP, o médico psiquiatra André Russowsky Brunoni, professor associado da Faculdade de Medicina (FMUSP) e coordenador da pesquisa, diz que os que solicitarem auxílio psicológico, "pontuarem sintomas graves ou muito graves e apresentarem piora superior a 50% nas escalas de depressão, serão convidados a passar por até cinco intervenções psicológicas on-line, com duração de 45 minutos, com profissionais de saúde mental experientes no manejo desses sintomas".

Diariamente, Ecoa selecionará boas notícias como essas para te ajudar a ter um pouco de esperança e mais informação no meio da pandemia de Covid-19.

Anônimos on-line

Se o isolamento e a pandemia são duros para qualquer um, imagine para as pessoas que já têm que lidar com questões como alcoolismo e outras adições. O impedimento das reuniões presenciais é um enorme obstáculo para organizações como Alcoólicos Anônimos, que têm no encontro uma base importante de sua estratégia e rede de apoio.

Para contornar isso, estão sendo realizadas, diariamente, reuniões a distância, que podem ser acessadas pelo computador ou celular. Só nas primeiras duas semanas de maio, mais de 20 mil pessoas já participaram das reuniões virtuais.

Caminho mais suave

Sentir-se irritado, com medo, angústia, tristeza; perder o sono ou a paciência: tudo isso é considerado normal numa situação anormal como a que vivemos. Segundo a Fiocruz, estima-se que, numa situação como essa, se não houver intervenções, até metade da população pode vir a sofrer algum problema psicológico e social. Pensando nessa parcela - que, convenhamos, inclui basicamente todos os lares e na importância dos cuidados em saúde mental e psicossocial neste momento, pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes/Fiocruz) produziram uma cartilha sobre o assunto para o público geral.