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Uber x motoristas: como queda de braço afeta preços e opções dos usuários

Paula Gama

Colaboração para o UOL

04/11/2021 04h00

O cenário do transporte individual via carros de aplicativo é composto por três lados: a plataforma (Uber ou 99), os motoristas e o consumidor. A grande questão é que, atualmente no Brasil, uma verdadeira queda de braço entre os dois primeiros elementos da equação impacta seriamente a experiência do terceiro.

Enquanto as plataformas tentam equilibrar o lucro, o preço final e o número de carros disponíveis, os motoristas gritam: não aguentamos mais as atuais condições de trabalho.

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As reclamações de consumidores sobre falta de motoristas têm crescido a cada mês. Muitas vezes, além da demora em encontrar um motorista, a corrida é cancelada. A aposentada Maria Mendonça, que não dirige e utiliza os carros de aplicativo para ir ao médico, ao mercado e à igreja, é firme ao dizer: "não tenho mais como contar com o Uber".

"Já perdi consulta médica devido à demora em conseguir uma corrida. Quando você acha que encontrou um motorista, ele cancela e você toma outro chá de cadeira. Agora faço o pedido horas antes do meu compromisso para chegar a tempo", afirma a moradora de Vitória, capital do Espírito Santo.

Para resolver a vida do consumidor, as plataformas passaram a penalizar o motorista que faz muitos cancelamentos, chamando atenção ou até mesmo banindo do sistema. A Uber chegou a criar a modalidade "Fura-Fila", em que consumidores que têm hora marcada podem escolher pagar cerca de 20% a mais para ter prioridade na fila de corridas.

Do outro lado, os colaboradores reclamam das taxas pagas e afirmam que o Uber, por exemplo, não dá detalhes sobre o destino exato do passageiro, omitindo bairros que são considerados "zona de risco". Então, a única forma é cancelar depois que o trajeto já foi aceito.

O que dizem os motoristas

Uber - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Para a Associação de Motoristas Particulares Autônomos (Ampa-RJ) e a Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (AMASP), os sucessivos aumentos do preço do combustível só escancaram uma situação que está sendo empurrada com a barriga há anos: desde 2014 não há um reajuste na tarifa cobrada pelos aplicativos.

Segundo eles, com combustível caro e baixa remuneração, muitos motoristas começaram a verificar que não estava sendo viável trabalhar aceitando todas as corridas, e outros simplesmente deixaram de trabalhar com aplicativos.

"Às vezes é preciso percorrer altas quilometragens para encontrar o passageiro, além do fator segurança, muitos não se sentem à vontade de entrar em comunidades. Isso fez crescer as taxas de cancelamento que, por sua vez, fez com que o Uber cancelasse o cadastro de, pelo menos, 1.600 colaboradores", afirma Eduardo Lima de Souza, presidente da AMASP.

Denis Moura, diretor executivo da Ampa-RJ, afirma que, para não desistir de vez do ofício, os motoristas que seguem atuando nos aplicativos estão deixando a segurança de lado. "Para a conta fechar, eles deixam de fazer manutenção no carro, não trocam pneus, não ajustam a suspensão e por aí vai... Enquanto isso, o aplicativo faz propagandas para novos motoristas entrarem na plataforma, não tem um trabalho para manter os antigos. A maioria fica por seis meses e desiste."

O que dizem os aplicativos

Sobre o cancelamento, a Uber diz que "motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas."

Já a 99 diz, por meio de nota, que "é a única empresa do setor a apresentar as informações da corrida antecipadamente ao motorista parceiro. São informações importantes, como valor aproximado, origem, destino e dados sobre o passageiro, que permitem ao motorista tomar decisões sobre aceitar ou rejeitar a viagem antes de efetivá-la. O resultado dessa prática reflete em um baixo índice de cancelamento, que na 99 é de menos de 5%. A 99 também é a única companhia em seu segmento a permitir que os motoristas parceiros rejeitem, sem limites, corridas antes mesmo de serem confirmadas para os passageiros."

Incentivo

As duas empresas também afirmam que oferecem incentivos e benefícios para os motoristas enfrentarem a crise do preço elevado do combustível.

A Uber tem iniciativas para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos - com parcerias que oferecem desconto em combustíveis, faculdades, academias, entre outros -, além de ter feito uma revisão e reajustado os ganhos dos motoristas parceiros em diversas cidades.

A empresa também afirma que, em conjunto com o programa de vantagens Uber Pro, lançou em outubro um pacote de iniciativas para impulsionar os ganhos dos motoristas parceiros no último trimestre do ano, como a campanha Grana Extra, que proporciona ganhos adicionais de R$ 150 a R$ 500 por semana, e a promoção Indique-e-Ganhe, que oferece até R$ 1.500 pela indicação de novos parceiros.

Já a 99 oferece aos seus motoristas desconto de 10% em todos os postos da rede Shell. Além disso, a empresa lançou um pacote de ações para reduzir o impacto do aumento dos combustíveis e oferecer maior ganho para os parceiros. Entre as iniciativas, destaca-se o repasse integral do valor da corrida aos parceiros em localidades e horários específicos - que já representou ganhos extras de mais de R$ 10 milhões para os condutores.

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