Paula Gama

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Moto por app injeta bilhões na economia e mostra um Brasil empobrecido

No último ano, um novo tipo de transporte se popularizou nas grandes cidades brasileiras: as motos via aplicativo. Existente em algumas regiões desde 2020, o modelo de negócio cresceu consideravelmente nos últimos meses, se tornando opção mais barata em relação ao carro por aplicativo e mais ágil do que o transporte público - como ônibus e metrô -, quase sempre deficitário.

Para se ter uma ideia, apenas a 99 moto, lançada em agosto de 2022, injetou R$ 5 bilhões no PIB brasileiro no ano passado, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A marca está presente em 3,3 mil cidades brasileiras e é a mais popular do segmento no Brasil, mas também tem grandes concorrentes, como o Uber Moto - o que significa que a injeção do segmento na economia pode ser bem superior.

A pesquisa apontou geração de atividade econômica por meio desta atividade em todos os estados. Os efeitos mais significativos foram nos setores de comércio, serviços privados e material de transporte. Outras atividades como agricultura, alimentos e vestuário foram beneficiadas indiretamente.

A FGV revelou que os impactos mais representativos no PIB local foram nos estados com maiores níveis de pobreza. Os locais onde a 99Moto tem maior impacto são Amapá (0,16% do PIB), Amazonas (0,16%) e Ceará (0,15%). Não dá para negar que o modelo de negócio é um sucesso e atende a uma demanda por transporte individual das classes C, D e E, mas mostra também como o transporte público do Brasil é falho e como os país está empobrecido.

Segurança x preço

Circulando de moto por aplicativo, é possível pagar R$ 27 por um trajeto que custaria R$ 53 na categoria mais barata de carro. A economia é grande, mas a redução do conforto e o aumento da exposição no trânsito também, a ponto que ninguém trocaria uma opção pela outra se não fosse pelo preço.

Por outro lado, se o transporte público brasileiro fosse eficaz, seria impensável gastar R$ 27 por um trajeto percorrido por menos de R$ 10 de forma mais segura.

Em todo o mundo, empresas como 99 e Uber investem em alternativas distintas de transporte, com oferta de carros elétricos, aluguel de veículos, viagens longas entre cidades, SUV de luxo para seis passageiros, carros adaptados para pessoas com deficiência, entre outras modalidades.

Mas, por uma questão de estratégia, o Brasil não é contemplado com essas opções. Talvez por falta de veículos e motoristas dispostos para executar as funções, ou porque não seria possível chegar em preço acessível à população, que garantisse lucro do condutor e da plataforma.

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É aí que fica claro o momento econômico do brasileiro médio. Em vez de ascender, com opções mais dinâmicas e confortáveis de serviços, precisa abrir mão de conforto e segurança para encaixar o transporte no orçamento.

Aumento da exposição

Ter à disposição opções de serviços mais baratos é sempre uma vitória, mas no caso da popularização do transporte de passageiros em motos o que assusta é o aumento da exposição das pessoas a acidentes. Desde a pandemia, o número de motos nas ruas aumentou devido à demanda por entregas, junto com o número de acidentes.

Segundo especialistas, acidentes envolvendo motos matam, por quilômetro rodado, 16 vezes mais do que os outros modais. Já as informações da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) mostram que os acidentes com motos representam 54% de todos os sinistros de trânsito do Brasil, mesmo que apenas 22,1% da frota seja composta por motocicletas.

Em 2020, último ano analisado, 79% das indenizações do Seguro DPVAT, pago a quem sofre acidente de trânsito, foram destinadas a vítimas de sinistros com moto. Foram cerca de 175 mil por invalidez permanente.

Além disso, cerca de 52 mil pessoas foram indenizadas para pagamento de despesas médicas e outras 17 mil famílias receberam pela morte de algum parente. A maior parte das vítimas tinha entre 18 e 34 anos, no auge da capacidade produtiva.

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