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Recife e Olinda

DJ no frevo e jazz! Festas fizeram o Carnaval de PE abraçar todos os sons

Fotos do Jazz Festival, em Gravatá, em 2019 - Divulgação
Fotos do Jazz Festival, em Gravatá, em 2019 Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, de Maceió

21/02/2020 15h39

Quem conhece o pernambucano sabe que ele é, antes de tudo, um bairrista defensor de sua cultura. Nem por isso o Carnaval do estado tem somente ritmos tradicionais. Ao longo dos anos, a ousadia de festas que surgiram pequenas cresceram, e hoje a agenda oficial do Carnaval inclui de jazz a música eletrônica, dando ao estado o justo rótulo de folia multicultural.

Este ano, uma das festas pioneiras nessa ideia da diversidade cultural, o festival Rec-Beat completa 25 anos. Ele surgiu como uma festa modesta, em Olinda, mas ganhou corpo e hoje ocupa todo o Cais da Alfândega, no Recife Antigo, atraindo grandes públicos.

"No início do festival, há 25 anos, a gente tinha uma certa resistência, porque soava como uma novidade para o Carnaval. Mas desde o início, quando a gente concebeu, foi como um complemento, nunca foi aquela coisa para quem não gosta da folia. Pelo contrário, quem curtia o dia em Olinda, tinha uma opção também para a noite", afirma o idealizador e realizador do Rec-Beat, Antonio Gutierrez, o Gutie.

Na época a gente tocava uma música, que era o mangue beat, e que a gente mostrava ao folião, para ele ter contato com essa cultura. Ele era meio que complementando

Com o crescimento, hoje o festival está na agenda oficial do Carnaval do Recife. "O Rec-Beat se tornou um destino turístico. O festival ganhou uma importância grande nesse contexto, tanto que a divulgação da programação é muito esperada, causa muita repercussão. Ele é uma experiência, dentro de uma experiência como é Carnaval", diz Gutie.

As atrações nesse aniversário de um quarto de século têm artistas como o rapper Emicida, a banda Liniker e os Caramelows, a multiartista Karina Buhr, a dupla Hot & Oreia, DJ Dolores, o músico Martins e as cantoras Flaira Ferro, Josyara e Ana Frango Elétrico —todos que levarão apresentação de discos inéditos ao Recife.

"A gente foi expandindo as fronteiras sonoras. Hoje o festival faz um recorte do que ocorre em Pernambuco, no Brasil e na América Latina. É um festival afro latino-americano, digamos assim", afirma.

Mais ritmos no Recife Antigo

Mas a folia não reserva apenas o Rec-Beat no Recife Antigo. O palco principal, no Marco Zero, por exemplo, já oferece há alguns anos shows gratuitos com ícones musicais de outros ritmos, que dividem espaço de forma harmônica com atrações de frevo, coco, maracatu...

Este ano, passarão atrações de diversos ritmos como Elza Soares, Cordel do Fogo Encantado, Gaby Amarantos, Pitty e Skank. Eles dividirão palco com nomes já tradicionais do Carnaval recifense como Almir Rouche e Maestro Spock.

Ainda no Recife Antigo, uma novidade este ano vai agradar quem gosta de música eletrônica: o festival Rec.DJ, que ocorrerá nas quatro noites com mais de 30 DJs de diversos estilos musicais.

Segundo o organizador do evento Anderson Santos, o DJ Big, 2020 será um marco para os DJs do estado e veio após uma demanda da classe artística. "Nós tivemos alguns espaços aqui durante o Carnaval, mas nunca um que se dedicasse aos DJs do estado. Temos dois convidados de fora, mas a prioridade são de dentro da esfera pernambucana", conta.

Para ele, a diversidade da música pernambucana ganha espaço a cada ano no Carnaval. Ele credita isso ao crescimento da festa, mas também ao espírito plural na essência da cultura estadual.

"Eu vejo esse aspecto multicultural junto com a própria história de Pernambuco, que foi sempre repleta de música eletrônica, intervenções e misturas, como o Mangue Beat. Acho que a inovação e a tradição precisam andar juntas, e o Carnaval do Recife é a chance de mostrar isso", pontua.

Jazz em Gravatá, brega em Olinda

Outra opção já no calendário oficial —e que ajudou a divulgar o aspecto diverso de Pernambuco— fica mais distante da capital e acontece em Gravatá (80 km do Recife), com a 13ª edição Jazz Festival. O festival, na verdade, nasceu em Garanhuns, mas em 2016 a cidade do Agreste desistiu, e Gravatá assumiu a programação.

A cidade de Gravatá é repleta de hotéis por conta do clima serrano, que atrai turistas do estado que buscam o frio —isso ajuda a receber visitantes nessa época do ano. "Hoje em dia o Jazz Festival é considerado, senão o maior, um das maiores alternativas ao Carnaval de Pernambuco", conta o idealizador e curador do Gravatá Jazz Festival, Giovanni Marino Papaleo Filho.

Segundo ele, a ideia de um festival de jazz (além, claro, de seu gosto musical) no Carnaval por causa de Pernambuco ser um estado multicultural, e o ritmo ter ligação com a cultura local.

"O frevo teve uma seríssima influência de jazz, tanto pelos instrumentos de sopro tocados, pelo fraseado, sonoridade. Além disso temos uma herança africana muito forte, e o jazz é uma união, um mix da cultura europeia com a africana. A música pernambucana tem muito a ver com isso, então ouve essa identidade", diz.

Ah, e este ano, até Olinda também abriu um polo para o brega-funk. Montado em Rio Doce, ele se chama Braziliano, e terá shows de nomes do ritmo como Michelle Melo, Kelvis Duran, Nêga do Babado e Banda Camelô.

Um detalhe importante para quem se interessou por uma das festas: todas são gratuitas.

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