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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Medo constante: publicitária é alérgica a remédios, cosméticos e maquiagens

A publicitária carioca Mariana Freitas, 29, tem alergia a diversos medicamentos e produtos de beleza - Arquivo pessoal
A publicitária carioca Mariana Freitas, 29, tem alergia a diversos medicamentos e produtos de beleza Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

25/07/2022 04h00

No começo deste ano, a publicitária carioca Mariana Freitas, 29, não conseguiu escapar do coronavírus. O diagnóstico, no entanto, trouxe uma preocupação: Mariana é alérgica a muitos medicamentos —inclusive a dipirona, que é bastante indicada para dores que a doença pode causar.

O único que ela poderia tomar para aliviar os sintomas é o paracetamol de 500 mg —uma dosagem maior do que essa pode causar uma reação alérgica em Mariana. "Não tive complicações", conta a publicitária, aliviada por não ter desenvolvido um quadro grave de covid-19 e não ter precisado recorrer a outros medicamentos.

A lista de remédios que ela não pode consumir é longa e, por isso, ela anda com um papel dobrado na carteira onde se lê uma série de substâncias que ela não pode nem chegar perto: aceclofenaco, diclofenaco, cetoprofeno, flurbiprofeno, loxoprofeno sódico, naproxeno, cetorolaco, meloxicam, ácido acetilsalicílico, entre muitos outros. De tanto consultar o documento, o papel está gasto e remendado com fita adesiva.

Mariana quer tatuar o nome de algumas classes de medicamentos mais comuns, como dipirona e ácido acetilsalicílico, que ela não pode tomar para alertar qualquer pessoa que precisar socorrê-la caso ela sofra um acidente e precise ser medicada. Mãe de uma menina de 5 anos, ela já ensinou a filha onde encontrar seus remédios permitidos, e a ligar para os parentes que moram mais perto caso aconteça uma emergência.

Hoje, Mariana sabe melhor como controlar uma crise alérgica, tem sempre uma cartela de Allegra na bolsa —já que também não é qualquer tipo de antialérgico que ela pode tomar e esse ela tem certeza de que pode—, mas sempre precisa avisar quem sai com ela, seja amigo ou familiar, que ela pode até morrer se tomar certos tipos de medicações.

Lista de medicamentos que Mariana Freitas, 29, não pode tomar porque geram reação alérgica - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lista de medicamentos que Mariana Freitas, 29, não pode tomar porque geram reação alérgica
Imagem: Arquivo pessoal

Além de alergia medicamentosa, a publicitária tem alergias respiratórias, como a ácaros e pólen, e alergia de contato, que se manifesta na pele. Mariana não pode usar várias marcas de cosméticos, maquiagens, hidratantes, protetores solares e até mesmo sabonetes.

"Quando viajo, sempre levo o meu sabonete, porque não sei se aqueles de hotéis podem me dar alergia", conta. Brincos, anéis, colares e outros acessórios que não sejam de ouro ou prata também causam reação alérgica em Mariana, além de roupas de lã. "Quando morei no Rio Grande do Sul, usava roupas térmicas", afirma.

"Ganhei um hidratante, passei um pouco nas costas e fiquei toda vermelha", recorda. Ao passar desodorante, ela precisa prender a respiração e sair do ambiente depois de espirrar o aerossol. "Roll-on me deixa com a pele irritada", lamenta. "Não tenho costume de passar produtos na pele, fazer skincare e não uso maquiagem todos os dias, porque pode me dar alergia. Não uso muitas coisas porque tenho medo."

Antes de comprar qualquer item, ela precisa olhar a lista de ingredientes. "No geral, produtos veganos, livres de parabenos ou hipoalergênicos não me fazem passar mal e ainda ajudam o meio ambiente", comemora. "O único problema é o preço, tudo o que eu uso não é difícil de encontrar, mas é sempre mais caro", diz.

Às vezes, ela não precisa nem encostar em um produto, basta sentir o cheiro que ela começa a espirrar, como no caso de alguns itens de limpeza.

Lista de medicamentos que Mariana Freitas, 29, pode tomar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lista de medicamentos que Mariana Freitas, 29, pode tomar
Imagem: Arquivo pessoal

Origens

Mariana tinha 12 anos quando descobriu sua primeira alergia. Durante um passeio pela Urca, no Rio de Janeiro, ela teve uma reação alérgica ao pólen de uma flor. Essa alergia respiratória virou uma bronquite, que se tornou asma —doença que ela faz tratamento até hoje com uso de bombinhas. Em consulta com um alergista, a publicitária fez um teste e descobriu que, além de uma série de medicamentos, ela tem alergia até mesmo a baratas.

Com 16 anos, surgiram manchas roxas em seu corpo, como se fossem hematomas. Na época, Mariana tomou dipirona para dor, e usava um descongestionante nasal de forma contínua. "Tive alergia a um dos dois, ou aos dois juntos", relembra. "Fiquei um ano e meio com manchas e sem tomar remédio, sem tomar nada. Do mesmo jeito que elas apareceram, sumiram", conta.

Um dos maiores sustos que ela tomou foi quando estava grávida e foi para o pronto-socorro por conta de um mal-estar. "Me deram um remédio na veia que não podia tomar e comecei a passar mal, ninguém me perguntou das alergias e tiveram que me colocar no soro", diz Mariana. Aos 18 anos, ela fez uma cirurgia de redução de mamas que também gerou uma reação alérgica por conta de um medicamento no pós-operatório.

A automedicação é uma prática bem comum no cotidiano brasileiro. Quando bate qualquer tipo de dor, recorremos a um comprimido vendido sem receita, uma pomada. Mas não é o que acontece quando Mariana tem qualquer tipo de sintoma. "Fico com dor por medo de me medicar", conta. "Vai que tomo alguma coisa que não sei se tenho alergia e morro?"

O único tipo de alergia que Mariana não tem é a alimentar. "Posso comer de tudo", comemora. Inclusive, a única fonte de vitamina C que ela pode consumir é aquela encontrada nos alimentos, já que suplementos também podem gerar uma reação alérgica.

Por enquanto, a filha de Mariana não manifestou nenhum tipo de alergia, mas Mariana sabe que, provavelmente, herdou de sua avó os tipos mais inusitados de alergias.

Tratamentos

"Normalmente existe uma base genética", explica Leonardo Medeiros, alergista do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro. "Existe o componente ambiental, se o paciente nunca entrar em contato com uma substância que pode dar alergia, ele nunca vai saber que é alérgico. É o contato que dá o gatilho no comportamento genético", completa.

Cada tipo de alergia pode ter um tratamento adequado com uso de antialérgicos ou corticoides em casos graves. "Se você consegue identificar a causa, é preciso suspender o contato com ela, não se expôr mais àquilo e tomar alguns cuidados, como se manter hidratado e tomar antialérgicos", diz o médico.

Para alguns casos, existe a opção de tratar por meio de imunoterapia, que vai fazendo com o que o corpo entre em contato com a substância alergênica aos poucos e permite que ele "se acostume" sem reagir com sintomas de alergia. "Pode funcionar bem com alergias respiratórias, como asma e rinite, e dermatite atópica de fundo alérgica", afirma Medeiros.