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Remédios e Tratamentos

Um guia dos principais medicamentos que você usa


Paracetamol combate febre e dor, mas quem abusa do álcool deve evitá-lo

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para o VivaBem

11/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Paracetamol ou acetaminofeno é um Medicamento Isento de Prescrição classificado como Anti-inflamatório Não Esteroidal
  • Com ação analgésica e antipirética (combate a febre), ela é uma ótima aliada nos casos de dores leves a moderadas e febre
  • O paracetamol não trata doenças, mas sintomas, por isso deve ser usado por, no máximo, 10 dias --nos casos de dor; e 3 dias na presença de febre
  • Considerado seguro para a maioria das pessoas, em algumas situações específicas ele deve ser evitado

Na hora de controlar a dor moderada ou mesmo um estado febril, o uso do paracetamol é uma escolha bastante comum. Também conhecido como acetaminofeno, ele teve sua patente aprovada em 1951 nos Estados Unidos, mas sua origem data do final do século 19.

O que é paracetamol?

Trata-se de um MIP (Medicamento Isento de Prescrição) e, por isso, você pode comprá-lo na farmácia sem receita médica.

Nos livros de farmacologia esse medicamento é classificado como um Aine (Anti-Inflamatório Não Esteroidal), mas por ter um mecanismo de ação com baixo poder de combater as inflamações, o paracetamol é comumente definido como:

  • Analgésico (alivia a dor moderada a intensa);
  • Antitérmico (combate a febre).

Em quais situações você pode usá-lo?

Mesmo sendo uma medicação que não precisa de receita médica, lembre-se que nenhum medicamento é 100% seguro. Por isso, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo adequado. A instrução é da OMS (Organização Mundial da Saúde).

O paracetamol deve ser usado somente para aliviar temporariamente os sintomas (leves a moderados) a seguir:

Conheça as apresentações disponíveis

Os medicamentos de referência, cujo princípio ativo é o paracetamol, são conhecidos como Tylenol®, Vicky Pyrena®, Dorfen®, entre outros.

Ele também pode ser encontrado em apresentações que o associam a relaxantes musculares, outros anti-inflamatórios, antigripais e antipiréticos (remédios que combatem a febre), e as versões de marca ou genéricas terão as seguintes formatos:

  • Comprimidos mastigáveis (500mg ou 750mg);
  • Comprimidos efervescentes (500mg);
  • Suspensão oral (100mg/ml ou 32mg/ml);
  • Gotas (200mg);
  • Pó para suspensão (32mg)
  • Supositório (75mg).

É importante respeitar as dosagens indicadas pelo fabricante, médico, farmacêutico ou dentista e sempre iniciar o uso dessa medicação a partir das menores dosagens disponíveis, deixando as maiores para situações mais graves.

Entenda como ele funciona

O paracetamol possui excelente farmacocinética, ou seja, independentemente da apresentação, ele é rapidamente absorvido e distribuído pelos tecidos, até que chega a seu alvo, efetua sua ação, se transforma em um produto excretável (metabolização), termina sua tarefa e sai do corpo pela via renal.

Quanto à farmacodinâmica, ou mecanismo de ação, ele age bloqueando os processos orgânicos que causam a dor e a febre (enzima COX2).

"Geralmente, seu efeito se inicia entre 15 a 30 minutos após a ingestão, sendo que o pico do efeito se dará em 30 minutos e até 2 horas", esclarece Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo). "A duração desse efeito é de cerca de 3 a 4 horas", completa a farmacêutica.

Quais são as vantagens e desvantagens do seu uso?

O paracetamol é a primeira escolha para o tratamento da dor nos procedimentos odontológicos, especialmente entre as gestantes e os pacientes com anemia falciforme, um tipo de anemia rara e hereditária.

Outra vantagem do fármaco é que ele é de fácil acesso. Isso porque ele está na lista da Rename (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), que elenca quais são os medicamentos necessários para atender aos principais problemas de saúde da população. A informação é de Cláudia Cristina Pereira de Araújo, farmacêutica atuante na vigilância em saúde da Prefeitura do Estado de São Paulo.

"Isso garante que o medicamento seja obtido gratuitamente na rede pública, nas apresentações de comprimidos (500mg) e gotas (200mg/ml)", acrescenta a especialista.

A desvantagem, ao ser comparado com outros remédios do mesmo tipo, é que ele não é tão potente quanto outros fármacos usados para o mesmo fim, e assim não alivia dores intensas.

Além disso, o paracetamol é contraindicado para pessoas com insuficiência renal ou hepática, etilistas crônicos (pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool) —dado o seu alto poder de toxidade (hepatotoxicidade).

Saiba quem deve evitar o paracetamol

Embora o paracetamol seja considerado bastante seguro, fale com o farmacêutico, seu médico ou dentista antes de usá-lo, especialmente se você já teve alguma reação alérgica relacionada aos Aines ou outro analgésico, ou mesmo tenha tido conhecimento de que alguém de sua família apresenta ou apresentou esse tipo de problema.

Indivíduos que se encaixem em algumas das condições abaixo também devem evitar o fármaco. Confira:

  • Pacientes com insuficiência renal ou hepática;
  • Etilistas crônicos (pessoas que ingerem grandes quantidades de álcool);
  • Tabagistas (fumantes);
  • Bebês com tempo de vida inferior a 3 meses.

Crianças e idosos podem usá-lo?

Sim, mas para cada grupo há recomendações específicas. No caso das crianças, há contraindicação para as menores de 12 anos. Entretanto, se houver orientação médica, o medicamento poderá ser utilizado. E esteja atento: somente esse profissional deverá indicar a dose e a apresentação mais adequadas para os pequenos.

A razão para isso é que há risco de superdosagem ou subdosagem. O cálculo é feito pelo peso da criança e isso, frequentemente, leva a erro de cálculo. A informação é de Renato Walch, médico de família e coautor do livro Medicina de família e comunidade: Fundamentos e prática (ed. Atheneu).

Já quanto aos idosos, sabe-se que os Aines são os medicamentos mais prescritos para pessoas acima dos 65 anos, porque são seguros e ainda apresentam bons resultados terapêuticos. A preocupação aqui se refere às mudanças fisiológicas naturais decorrentes do envelhecimento que, eventualmente, podem prejudicar a ação do medicamento.

Além disso, há a realidade da polifarmácia, isto é, "o uso de mais de 4 medicações diárias. A prática é bastante comum entre idosos, o que aumenta a chance de interação medicamentosa, bem como dos riscos que ela possa trazer", adverte Walch.

Estou grávida, posso usar o paracetamol?

Sim, mas somente orientada pelo seu médico. As evidências científicas até hoje disponíveis não mostraram efeitos sobre o feto nem sobre as lactantes. Para garantir ainda maior segurança no consumo do fármaco, a indicação é que ele seja feito por breve período de tempo e sob supervisão de um médico ou dentista.

Posso tomar paracetamol em caso de dengue?

Sim. Ele pode ser usado com segurança nos casos de dengue e outras arboviroses, como as doenças que são transmitidas pelo Aedes egypti.

A orientação dos especialistas é a de que você procure ajuda médica imediatamente quando houver suspeita da doença, e evite o uso de ácido acetilsalicílico (AAS), anti-inflamatórios e anticoagulantes sem a devida orientação do profissional da saúde.

Qual é a melhor forma de consumi-lo?

A recomendação é consumi-lo com água.

Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Como se trata de um medicamento para controle da dor e da febre, não há melhor horário para ingerir o paracetamol. Siga a posologia indicada por seu médico, farmacêutico, dentista ou do fabricante.

O mais importante é que o medicamento nunca deve ser utilizado por prazo prolongado e jamais deve ser consumido além da dose recomendada. A dose máxima admitida é 3.000/4.000mg por dia, fracionada em 3 a 5 vezes no período de 24 horas —ou seja, com intervalos de 4 horas ou 6 horas.

O que fazer quando esquecer de tomar o remédio?

Espere até a hora da dose seguinte e reinicie o uso do medicamento. É desaconselhado tomar dois comprimidos (ou gotas em dobro) de uma vez para compensar a dose que foi esquecida.

Se você é daqueles que sempre se esquece de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis riscos e efeitos colaterais?

"O paracetamol é considerado seguro e de boa tolerância para todas as faixas etárias, desde que ingerido de acordo com a posologia e por curto espaço de tempo", garante Fernanda Cristina Ostrowski Sales, farmacêutica e docente da disciplina de farmacologia do curso de Medicina da PUC-PR.

Quando ocorre o uso inadequado do medicamento, há risco de hepatotoxicidade. Ao contrário de outras medicações de sua mesma classe, há até a possibilidade de uso de um antídoto para tentar conter esse efeito adverso. Apesar disso, os principais e raros efeitos colaterais conhecidos são:

  • Alergia;
  • Distúrbios do sistema imunológico;
  • Hipersensibilidade;
  • Distúrbios da pele e tecidos subcutâneos: urticária, erupção cutânea pruriginosa (que coça), exantema (erupção na pele).

Como saber que sou alérgico ao paracetamol?

As reações alérgicas são respostas inadequadas do sistema de defesas do seu corpo a uma determinada substância. Esse sistema, também chamado de imunológico, reage de forma exagerada quando exposto a alimentos ou fármacos que, para a maioria das pessoas não causariam reações.

Alguns indivíduos são alérgicos a uma só substância; outros a várias. E pode ser que, na sua família, alguém já tenha tido esse tipo de reação. Por isso, é importante conhecer o histórico de saúde de seus familiares.

Alguns testes laboratoriais poderão ser feitos para descobrir se uma pessoa tem determinada alergia, mas muitas vezes a reação alérgica é o primeiro sinal que se tem dessa sensibilidade.

Nessas situações você poderá observar os seguintes sinais e sintomas:

  • Coceira;
  • Falta de ar;
  • Erupções na pele;
  • Dificuldade para respirar.

Paracetamol dá sono?

Sonolência não é uma reação esperada para quem faz uso desse medicamento isoladamente. Caso isso aconteça, procure o serviço de saúde.

Apesar disso, é preciso lembrar que existem no mercado alguns medicamentos que combinam o paracetamol com outras substâncias. Algumas delas, podem, sim, causar esse efeito.

Preciso evitar algum tipo de alimento?

Somente o álcool. Quando há consumo crônico de bebidas alcoólicas, o uso do paracetamol pode potencializar a toxicidade do fígado.

Interações medicamentosas

O paracetamol não combina com alguns medicamentos e com eles pode interagir seja reduzindo seu efeito, seja acarretando reações indesejadas.

Fique atento se você faz uso contínuo dos seguintes medicamentos:

  • Diuréticos - aumentam o volume da urina produzida, como a furosemida;
  • Anticonvulsivantes - utilizados como estabilizante de humor ou antiepilético. São exemplos os barbitúricos, a carbamazepina, hidantoína, rifampicina e sulfimpirazona;
  • Anticoagulantes - evitam a formação de coágulos no sangue, como a varfarina;
  • Outros Aines - analgésico, antipirético e anti-inflamatório.

E atenção: nenhum remédio é 100% seguro, inclusive os fabricados à base de plantas. É importante falar com um médico, farmacêutico ou até o dentista antes de usar o paracetamol, caso você faça uso contínuo de fitoterápicos ou mesmo de suplementos e vitaminas. A Erva de São João —utilizada como auxiliar no combate à depressão— e a Camellia sinensis (chá verde), podem reduzir os efeitos do fármaco.

Exames laboratoriais podem ser alterados pelo uso do paracetamol?

Sim. Por isso você deve comunicar ao responsável pela coleta da amostra sanguínea o uso do paracetamol nos dias anteriores aos seguintes exames:

  • Glicemia (que usam fitas reagentes);
  • Teste de função pancreática que usem bentiromida;
  • Teste de ácido úrico com o fosfotungstato;
  • Tempo de protrombina;
  • Concentrações séricas de bilirrubina;
  • Concentração de láctico-desidrogenase e transaminase.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Evite o uso do paracetamol se você tem alguma doença hepática;
  • Abstenha-se de usar o paracetamol se você faz uso contínuo de álcool (etilismo);
  • Preserve-se do uso de outro medicamento que contenha paracetamol na formulação enquanto estiver tomando paracetamol;
  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros, caso opte por esta apresentação. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta;
  • Evite o uso prolongado do medicamento. No caso do paracetamol, o tempo máximo de consumo é de 10 dias, em caso de dor, e 3 dias, nos quadros de febre. A exceção é a indicação médica de uso prolongado;
  • Quando o sintoma não melhora, apesar da medicação, é preciso investigar. Procure um médico sem demora;
  • Prefira comprar remédios nas doses justas para o uso indicado para evitar sobras;
  • Respeite o limite da dosagem diária indicada na bula. No caso do paracetamol há risco de toxicidade;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Cláudia Cristina Pereira de Araújo, farmacêutica atuante em vigilância em saúde da Prefeitura de São Paulo e bioquímica com especialização em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo); Danyelle Cristine Marini, diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu); Fernanda Cristina Ostrowski Sales, farmacêutica, bioquímica, mestre em tecnologia em saúde pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e docente atuando na disciplina de farmacologia dos cursos de medicina, farmácia e odontologia da mesma instituição; Renato Walch, médico de família, instrutor do curso de emergência da Unicid (Faculdade de Medicina da Universidade Cidade de São Paulo), plantonista de emergência nos Hospitais Sírio Libanês e Vila Nova Star (SP), diretor médico da Amparo Saúde. Revisora Técnica: Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP.

Referências: Ministério da Saúde; Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);FDA (Food and Drug Administration); OMS (Organização Mundial da Saúde); J. C. McCrae, E. E. Morrison, I. M. MacIntyre, J. W. Dear, D. J. Webb. Long?term adverse effects of paracetamol - a review. British Journal of Clinical Pharmacology. 2018. Valerie Gerriets; Thomas M. Nappe. Acetaminophen. Stat Pearls. NCBI. 2019.