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Pandemia de covid-19 pode favorecer o bruxismo

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Imagem: iStock

Priscila Carvalho

Da Agência Einstein

07/07/2021 11h56

O bruxismo, marcado pelo hábito repetitivo de ranger os dentes, pode se tornar mais comum (ou mais intenso) em decorrência da pandemia de Covid-19. Pesquisas e especialistas apontam que o estresse estaria por trás da associação.

Um estudo publicado no periódico científico Journal of Clinical Medicine, por exemplo, entrevistou quase 1.792 habitantes de Israel e Polônia, concluindo que pioras no bem-estar mental desencadeadas pela pandemia foram associadas a um agravamento dos sintomas do bruxismo e da disfunção temporomandibular (DTM).

Já um trabalho ainda em andamento na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) vem trazendo resultados semelhantes. Os especialistas entrevistaram um grupo de alunos da instituição e, com os dados disponíveis até o momento, notaram que a pandemia teria mais do que triplicado os casos de bruxismo (a incidência foi de 8% para 28%).

Mas é importante destacar que essa pesquisa ainda deve ser concluída e avaliada por outros cientistas antes de se tirar quaisquer conclusões.

Relatos vindos dos consultórios odontológicos também reforçam a ideia de que há um crescimento no hábito de ranger os dentes. "A gente teve um verdadeiro boom nos atendimentos. Observei uma alta de três vezes acima do normal", estima João Paulo Tanganeli, cirurgião-dentista e integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP). "Com o aumento dos transtornos mentais, o consumo de antidepressivos também cresceu, o que pioraria o bruxismo. Esse quadro pode ser um efeito colateral do medicamento", completa.

O que causa o bruxismo?

Esse é um distúrbio caracterizado pelo ranger e apertar dos dentes. Ele pode ser primário — sem uma causa aparente — ou secundário, quando é provocado por uma doença, pelo uso de certos medicamentos, por longos períodos de ansiedade...

Quando ocorre durante o dia e está presente nas atividades cotidianas, ganha o nome de bruxismo de vigília. Já se surge enquanto dormimos, é chamado de bruxismo do sono. Nesse último caso, muitas vezes a pessoa não sabe que está rangendo os dentes — quem está do lado é que percebe o problema.

A origem da condição é multifatorial, porém está fortemente ligada a quadros emocionais. "Estresse e ansiedade têm impacto no surgimento ou na piora da condição", reforça Samanta Pereira de Souza, cirurgiã-dentista e mestre em ciências da saúde do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). "Os novos estudos mostram um aumento de pacientes com dor na face e muscular com associação ao bruxismo", alerta.

Sinais mais frequentes do bruxismo

- Ranger os dentes
- Desgaste do esmalte dentário
- Dor de cabeça e mandíbula ao acordar
- Dores na face
- Estalos e crepitações
- Dor no ouvido

Qual o tratamento adequado?

Muitas vezes, o paciente recorre a uma placa estabilizadora, que o auxilia a não ficar movimentando a boca desnecessariamente. Como é um distúrbio ligado ao humor, também é indicado procurar um especialista em saúde mental para acompanhar o tratamento.

"O bruxismo primário não tem cura", afirma Tanganeli. Mesmo quando o quadro desaparece por um tempo, ele pode retornar, em especial diante de situações estressantes. Mas é possível estabilizá-lo com certos tratamentos e atitudes. Mais uma razão para procurar um profissional desde o início dos sintomas.

Já no caso do bruxismo secundário, a estratégia mais indicada é resolver o problema que está fazendo o indivíduo ranger os dentes. Um neurologista pode entrar em cena nessas situações. Também é recomendado evitar hábitos como mexer no celular antes de dormir, exagerar no álcool e fumar.

Quando o bruxismo não é tratado de forma rápida, há o risco de a disfunção temporomandibular (DTM) aparecer. Essa enfermidade é marcada por dores no maxilar e na cabeça, incômodo nas articulações da face e nos músculos da mastigação.
Há várias formas de combater a DTM, a depender do critério médico. "Podemos tratar com anti-inflamatórios, toxina botulínica, placas estabilizadoras e, em casos mais avançados, cirurgia", conclui Souza.