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Paulo Chaccur

5 pistas que os pés nos dão sobre possíveis problemas cardiovasculares

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

10/05/2020 04h00

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Nos últimos meses nossa rotina mudou radicalmente por conta do coronavírus. Exceto profissionais da saúde e aqueles que trabalham em serviços essenciais, grande parte da população está vivendo incontáveis dias em casa por conta da quarentena.

Nesse cenário, as atividades físicas ficaram mais restritas, as jornadas de deslocamento na rua praticamente cessaram e o tempo sentado em frente ao computador ou outras telas aumentou substancialmente. E isso tudo tem, claro, uma série de reflexos para a saúde, inclusive do coração.

Assim, para começar, te convido neste momento a dar uma olhadinha para os seus pés. Como eles estão: no tamanho normal? Inchados? Doloridos? Saiba que olhar para os pés de forma detalhada e atenta pode trazer pistas importantes sobre o funcionamento do seu corpo. Não apenas sinais de doenças preexistentes, mas também de problemas que podem surgir em decorrência da nossa realidade atual.

Pelos pés conseguimos descobrir indícios da existência de anormalidades no sistema cardiovascular, entre elas a hipertensão arterial, insuficiência venosa ou arterial periféricas, insuficiência cardíaca, a probabilidade de infarto e AVC (acidente vascular cerebral) e até doenças autoimunes e hematológicas.

O fato é que na periferia do sistema circulatório, os pés são um dos que mais sofrem as consequências de qualquer alteração ou obstrução na corrente sanguínea.

  • Meus pés não entram nos sapatos

O primeiro grande sinal é o inchaço. Se seus pés aumentam de tamanho com frequência e permanecem assim por dias, é preciso investigar o que está acontecendo. Primeiro, devemos avaliar se isso ocorre de forma uni ou bilateral, ou seja, em apenas um ou ambos os pés.

Quando é unilateral é afastada a possibilidade de o sintoma estar relacionado à insuficiência cardíaca, e partimos então para investigar alterações na circulação venosa (quando o sangue que já circulou pelo corpo retorna ao coração), como a existência de varizes ou até uma pequena trombose —que dificulta essa volta do sangue ao coração e, desta forma, desencadeia a edema no pé.

Porém, se o aumento de tamanho acontece de forma bilateral, a atenção primordial é dada ao coração em si, já que possivelmente o órgão está com sua dinâmica comprometida. Nesses casos, a recomendação é uma avaliação cardiológica completa para o diagnóstico do problema.

E pode parecer bobagem, mas se antes um inchaço era logo notado com o desconforto gerado pelos sapatos, agora, com as mudanças na rotina, esse sinal pode passar despercebido por algum tempo, uma vez que em casa muitos optam por calçados mais confortáveis, chinelos ou até dispensam o uso. Por isso, é preciso atenção, olhar e dar a verdadeira importância para as informações que seus pés podem transmitir.

  • Sinto dores nos pés

As dores agudas e crônicas de um modo geral estão relacionadas com alterações da circulação arterial de membros inferiores. As dores agudas se sucedem subitamente por um bloqueio na artéria como consequência de um coágulo que se instalou sobre uma obstrução arterial preexistente ou por uma embolização a partir do coração.

Já as dores crônicas, na maioria das vezes, são decorrentes da chamada insuficiência arterial periférica, que acontece por obstruções das artérias. Ambas podem ocorrer de forma uni ou bilateral.

É comum também ouvir relatos, principalmente entre pacientes diabéticos, do aumento da sensibilidade nos pés e dores contínuas, inclusive ao dormir, desencadeadas pelo contato do corpo com o lençol.

  • A cor da pele dos meus pés muda com frequência

Alterações da circulação arterial nos membros inferiores também são notadas com mudanças na coloração do dedo ou de vários dedos, inicialmente avermelhada que, com agravamento do caso, passam para uma tonalidade azul ou arroxeada, indício claro da má circulação do sangue para o pé, que pode evoluir, inclusive, para uma isquemia.

Eventos agudos de isquemia se manifestam quando subitamente o pé fica esbranquiçado e com temperatura baixa, o que caracteriza um quadro de avaliação imediata para diagnóstico e tratamento, buscando evitar o aparecimento de úlcera (principalmente em diabéticos, a chamada úlcera diabética), a necrose do pé e até uma possível necessidade de amputação.

  • Sinto que meus pés estão sempre gelados

Ainda que seja normal sentir frio nos pés sem que isso tenha uma causa mais grave, a sensação de frio crônico nos dedos pode ser mais um sinal de má circulação sanguínea. A doença arterial periférica e outros problemas cardíacos levam ao estreitamente das artérias, dificultando a circulação de sangue em todo o corpo. Assim, por serem especialmente sensíveis à má circulação, extremidades como mãos e pés, vão externar o problema com a sensação de frio.

  • Tenho a sensação de queimação e cansaço nos pés

Dores e coceira frequentes, sensação de queimação e cansaço nos pés e inchaço nos membros inferiores, principalmente no fim do dia, são alguns sinais indiretos que podem dar indícios de que o sangue não está voltando como deveria. Isso ocorre porque as valvas nas veias não conseguem transportar adequadamente o sangue venoso para o coração. O resultado é um acúmulo do sangue não oxigenado nas pernas.

O principal problema aqui é a insuficiência venosa crônica, caracterizada pelo surgimento das varizes. Há ainda o risco do surgimento de outras doenças, como trombose venosa e flebites (inflamação dos vasos).

O que fazer ao notar os sintomas?

Se o inchaço durar mais que um dia e for acompanhado de dores ou mudanças na cor da pele, ou, ainda, se o volume for tanto que te impeça de usar os sapatos, não hesite em consultar um profissional da saúde. Vale destacar ainda que esses sintomas são mais frequentes entre tabagistas e diabéticos, que devem ter atenção especial as alterações manifestadas através dos pés. Ficar atento aos sinais e se prevenir são o melhor caminho para evitar complicações cardiovasculares.

Todas estas situações trazem um alerta para a necessidade de avaliação cardiológica, com o objetivo de diagnosticar o mais rapidamente uma possível doença arterial coronária ou obstrução das artérias carótidas.

Outra recomendação é manter hábitos como a prática atividades físicas regulares, evitar o sobrepeso e a obesidade, manter uma alimentação equilibrada e ficar de olho nos níveis de gordura (lípides) e de glicose no sangue são fundamentais para a saúde do coração.

E como ficam os cuidados em tempos de quarentena?

Mesmo com todas as mudanças que tivemos que fazer na rotina por conta da pandemia do coronavírus, manter esses hábitos são essenciais. Se você está passando durante a quarentena longos períodos do dia sentado, sem exercer movimentos, saiba que isso pode ser perigoso, já que fica mais propenso a ter problemas circulatórios.

Ao ficar horas sentado, a tendência é o corpo inchar, especialmente os membros inferiores, uma vez que o fluxo sanguíneo até os pés fica reduzido. A posição faz as veias dilatarem e exercerem mais pressão para bombear o sangue. Nesses casos, o retorno do sangue dos pés ao coração será mais difícil. Além do inchaço, também é comum sentir desconforto nas pernas ao levantar, como se estivessem mais pesadas.

Portanto, é aconselhável levantar de tempos em tempos e dedicar alguns minutos do dia para um exercício simples, mas que ajuda a manter a circulação. Basta movimentar o pé como fazemos ao pisar no acelerador de um carro. Esse movimento ativa as panturrilhas imediatamente. Outra dica é sempre que possível intercalar o sentar e o andar. Deixar as pernas levantadas ao fim do dia pelo tempo mínimo de 15 minutos também pode contribuir.

Além disso, mantenha a prática regular de atividades que façam a contração e o relaxamento dos músculos das pernas, por exemplo, caminhar (mesmo que dentro de casa por alguns minutos), pular corda, correr ou pedalar na esteira, fazer aulas online como jump ou step e até ioga ou pilates, que ajudam a estimular a circulação, evitando as complicações vasculares e varizes.