Gustavo Cabral

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Opinião

Os surtos virais do século 21 e estratégias para combater novas epidemias

Sars, gripe A H1N1, covid-19, gripe aviária, dengue... Neste século 21, vírus já provocaram surtos, epidemias e uma pandemia que abalaram a humanidade.

Um aspecto preocupante disso é a capacidade dos vírus zoonóticos (transmitidos entre animais e seres humanos) de se espalharem entre diferentes espécies, incluindo nós. Esses vírus frequentemente encontram refúgio em reservatórios animais, antes de saltar para os humanos, sublinhando a importância de uma abordagem integrada de saúde que considere os vínculos entre os seres humanos e o meio ambiente.

Recentemente nos Estados Unidos, a gripe aviária emergiu como uma preocupação, destacando a constante ameaça que os vírus zoonóticos representam. Aproveito para citar a incrível capacidade de mutação do vírus da gripe, e o risco constante dele para a humanidade.

Como já expliquei, esses vírus têm uma ampla gama de hospedeiros, incluindo várias espécies de animais, além dos seres humanos. Ao infectar esses hospedeiros, os vírus influenza têm a capacidade de reorganizar seu material genético, resultando em cepas que podem ser substancialmente diferentes das anteriores.

Historicamente, os vírus influenza causaram pandemias devastadoras, como as de 1918, 1957, 1968 e, mais recentemente no século 21, a que ocorreu em 2009.

A cepa H1N1, por exemplo, emergiu de rearranjos genéticos entre vírus de suínos, aves e humanos. Essas recombinações genéticas ocorrem quando um hospedeiro é infectado por diferentes cepas ao mesmo tempo, o que pode resultar em cepas virais completamente novas e potencialmente mais perigosas. Dessa forma, é natural a preocupação e alerta sobre surtos de gripe aviária nos Estados Unidos e outros países americanos.

Além da gripe, a dengue continua a ser uma preocupação no Brasil —e também outras doenças provocadas por flavivírus, como o zika e o vírus do Nilo Ocidental. Esses vírus transmitidos por mosquitos têm o potencial de causar epidemias devastadoras, com impactos significativos na saúde pública.

Outros vírus relacionados com a dengue são os alfavírus, como o chikungunya, que se mostraram capaz de desencadear epidemias em diferentes partes do mundo, ressaltando a necessidade de vigilância contínua e preparação para surtos iminentes.

Além disso, os surtos de coronavírus, como o Sars em 2002, o Mers em 2012 e a atual pandemia de covid-19, destacam a ameaça persistente que esses patógenos representam para a saúde global.

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Em um mundo cada vez mais interconectado, a propagação de vírus zoonóticos é facilitada por diversos fatores, entre eles, o aquecimento global e o aumento das viagens internacionais, tornando crucial a colaboração global na detecção precoce e resposta eficaz a surtos emergentes.

Diante dos desafios inerentes, a contínua pesquisa sobre esses vírus, o avanço no desenvolvimento de vacinas e estratégias de controle são cruciais para reduzir os riscos à saúde pública e assegurar a segurança global no século 21.

A história nos mostra que somos capazes de unir esforços interdisciplinares para desenvolver formas e salvaguardar a saúde global contra futuras pandemias.

Porém, precisamos realmente entender que essa luta requer estratégias de controle de forma interdisciplinar.

Por exemplo, a interseção entre mudança climática e surtos virais tem se mostrado cada vez mais preocupante, ampliando nossos contatos com potenciais viroses e patógenos.

À medida que as espécies vetoras migram de seus habitats naturais devido aos efeitos das mudanças climáticas, somos confrontados com um aumento nas interações com agentes infecciosos, destacando a necessidade urgente de estratégias de controle eficazes.

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O investimento significativo na preparação para surtos globais de agentes infecciosos é crucial. Isso inclui um investimento sistemático no diagnóstico e tecnologias de intervenção em saúde pública, compreendendo todo o contexto histórico e as mudanças naturais que vivemos, como previamente citado. A pandemia de covid-19 destacou a importância de antecipar e preparar, em vez de apenas reagir a novos patógenos emergentes.

A vigilância viral desempenha um papel fundamental na monitorização da circulação de cepas. Isso envolve a observação de populações humanas e de reservatórios de animais selvagens e domésticos. Morcegos, mosquitos, aves e gado doméstico são alguns dos principais reservatórios zoonóticos que requerem vigilância constante.

A vigilância genômica é uma ferramenta essencial nesse contexto. Durante a pandemia de covid-19, o sequenciamento genômico tem permitido aos pesquisadores rastrear a evolução do vírus e entender melhor sua propagação e mutação. Essa abordagem fornece informações cruciais para identificar novas cepas e variantes, informando as estratégias de controle e prevenção. É crucial que a vigilância viral seja realizada globalmente, garantindo uma ampla cobertura de informações.

Além da vigilância, estratégias de saúde pública direcionadas podem ser implementadas imediatamente para identificar e proteger populações de alto risco. Isso inclui a modelagem para identificar áreas geográficas e grupos demográficos vulneráveis, permitindo intervenções terapêuticas direcionadas e eficazes.

Por fim, em um mundo onde os surtos virais são cada vez mais frequentes, a preparação e a vigilância são fundamentais. Somente com esforços coordenados e investimentos significativos podemos enfrentar os desafios impostos pelos vírus zoonóticos e garantir a segurança global da saúde pública.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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