Andropausa não existe: entenda por que a 'menopausa masculina' é um mito
Você já deve ter ouvido que os homens também têm a sua "menopausa masculina", a chamada andropausa. Acontece que esse é um grande engano, e a andropausa não é um conceito reconhecido pela comunidade médica em sua totalidade.
Andropausa não faz sentido do ponto de vista fisiológico, e não deveria ser um termo usado para fazer um paralelo com a menopausa.
"Andropausa não existe. Não existe porque não há uma pausa. Não há uma parada da produção dos hormônios masculinos. O homem não tem uma parada fisiológica do funcionamento dos testículos. O que acontece é que essa palavra foi usada há uns 20 anos para chamar atenção porque alguns homens poderiam ter a testosterona baixa. Ela vem sendo resgatada agora por médicos pouco ortodoxos que querem justificar dar testosterona para os homens a qualquer preço. Nenhum homem naturalmente tem parada da produção de hormônios", diz o médico Alexandre Holh, médico, professor de endocrinologia e metabologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e ex-presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Ele explica que, a partir dos 40, 45 anos, a testosterona masculina é reduzida, na taxa de 1,2% ao ano. "Ela cai, mas não significa que precisa repor para todo homem ou que todo homem vai ter sintoma. Alguns homens podem ter sintomas. Nesse caso, pode ocorrer o que é chamado de hipogonadismo masculino, que acontece numa parcela pequena dos homens e pode ser tratado."
No caso da menopausa, a mulher terá a pausa total da produção do estrogênio, e os ovários inclusive atrofiam no período após a última menstruação. "Menopausa não é doença, mas a queda hormonal da mulher pode causar muitos sintomas a ponto de ser necessário repor hormônio para ela. Quando o homem tem queda da produção de hormônio é preciso avaliar a necessidade ou não de tratamento, e a reposição hormonal pode ser feita com diferentes formas", diz Holh.
O principal sintoma no caso de hipogonadismo masculino é na esfera sexual, e esse muitas vezes acaba sendo o motivo da busca por ajuda médica. "Pode ocorrer queda de libido, piora da ereção. Mas esse é um quadro que também pode ser causado por outros motivos, como depressão ou até obesidade. Por isso é preciso uma avaliação completa e aprofundada."
O grande problema, segundo o especialista, é que, nas últimas duas décadas, houve um crescimento de clínicas, especialmente nos EUA, oferecendo tratamentos a todos os homens com queixas desse tipo com testosterona, sem avaliar o quadro completo e sem investigar outras causas.
"Isso é um erro grave", diz o médico. "Alguns profissionais passaram a dar testosterona para melhorar cansaço, massa magra. Mas testosterona não é para 'dar um up' é para ser usado em quem tem diagnóstico de hipogonadismo. Porque excesso do hormônio pode aumentar o risco cardiovascular em homens mais velhos."
Testosterona, portanto, não deve ser usada para emagrecimento, nem para aumento de massa magra ou para melhorar o ânimo em quem não tem hipogonadismo.
Em vez de concentrar-se em um termo controverso, é mais benéfico abordar a saúde masculina de maneira holística.
Estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada, exercícios regulares e a busca de apoio médico quando necessário, são cruciais para manter a vitalidade e o bem-estar ao longo da vida. Testosterona não é poção mágica. Pior: pode causar graves consequências pelo uso inadequado.
Repensando a linguagem da saúde masculina
A andropausa, como termo, carece de uma base científica sólida e pode contribuir para uma visão simplista e estigmatizada do envelhecimento masculino.
Em vez de nos apegarmos a essa narrativa, é fundamental adotar uma abordagem mais abrangente e informada sobre a saúde dos homens, reconhecendo a complexidade dos fatores que afetam o bem-estar ao longo do tempo.
Ao desmistificar a andropausa, estamos capacitando os homens a compreenderem melhor suas próprias necessidades de saúde e incentivando uma conversa mais significativa sobre o envelhecimento masculino.
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