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Camila Queiroz: 'Sou bem resolvida com meu peito pequeno, mas já não fui'

"Sou julgada por não preencher um requisito do corpo perfeito. Vou fazer o quê?" - Reprodução Instagram
"Sou julgada por não preencher um requisito do corpo perfeito. Vou fazer o quê?" Imagem: Reprodução Instagram

Júlia Flores

De Universa

17/02/2022 04h00

"Várias vezes, me chamaram de louca; em algumas ocasiões, eu acreditei", diz a atriz Camila Queiroz em entrevista a Universa. Prestes a estrear a série "De volta aos 15" — em que interpreta a versão adulta da personagem Anita (Maísa vive a protagonista na adolescência) — Camila se afasta cada vez mais da figura de "Angel", de "Verdades Secretas" (papel que rendeu fama à artista), e se destaca em produções do streaming.

Na série, que será lançada dia 25 de fevereiro na Netflix, Anita é uma mulher de 30 anos, frustrada, que tem a chance de voltar aos 15 e refazer alguns episódios de sua caminhada. Na vida real, porém, Camila não quer nada disso. "Hoje, olho para trás e me orgulho de tudo que fiz. Não me arrependo de nada", diz.

Nem o conflito com o autor Walcyr Carrasco, que expulsou a atriz do elenco de "Verdades Secretas 2", parece abalar a sua confiança profissional. Pelo contrário, a atriz está em expansão. Além da nova série, ela se prepara para a gravação da segunda temporada do reality show "Casamento às Cegas".

Longe das telas, Camila também exala confiança. Recentemente, usuários do Twitter criticaram o tamanho dos seios da atriz, que não se rendeu às cobranças estéticas. "Sou padrão, branca, magra, alta, com cabelo liso. Mas não preencho um requisito do corpo perfeito. Vou fazer o quê? Em um mundo onde tanta gente muda o próprio corpo para alcançar um padrão inalcançável, eu tenho muito orgulho de ser natural."

A seguir, Camila fala sobre o passado, o presente e o que planeja para o futuro.

UNIVERSA: Em "De volta aos 15", Anita é uma mulher que cresceu no interior e se mudou para a cidade grande (assim como Camila, que nasceu e cresceu em Ribeirão Preto). Você também se sente "deslocada" quando visita sua cidade natal?
Eu saí de casa aos 14 anos. Era nova quando descobri São Paulo, parecia que um novo mundo tinha se revelado para mim. Com certeza isso me transformou. Percebi que o mundo não se limita só ao lugar em que você cresceu; existem outras línguas, outras culturas. Foi um choque também quando eu me mudei para um apartamento com 10 modelos de estados diferentes... quando eu voltava para casa, ficava com vontade de compartilhar isso com as pessoas de lá, queria que eles experienciassem as coisas que vivia. Hoje em dia, sempre que tenho a oportunidade de trabalhar fora do Brasil, levo alguém comigo; jamais imaginei que um dia faria piquenique na Torre Eiffel ao lado das minhas irmãs.

Na série "De volta aos 15", Camila Queiroz interpreta Anita, uma mulher de 30 anos frustrada com a vida profissional e amorosa - Divulgação Netflix - Divulgação Netflix
Na série "De volta aos 15", Camila Queiroz interpreta Anita, uma mulher de 30 anos frustrada com a vida profissional e amorosa
Imagem: Divulgação Netflix

A Anita é uma mulher empoderada que tenta salvar as amigas de roubadas e ciladas amorosas. Você se identifica com essa característica? Já se meteu em encrenca ao alertar uma amiga sobre o boy lixo?
Acho que todo mundo já se meteu em roubada tentando salvar amiga de boy lixo (risadas). Lembro que, aos 10 anos, tentei salvar uma amiga do colegial de um garotinho que dava em cima de todo mundo. No final, não adiantou, porque eles começaram a namorar. Hoje em dia, tenho a mesma sororidade da Anita, mas sou menos impulsiva. Sei que não posso decidir pelos outros, posso ajudar, dar dicas, sem forçar a barra, porque acho que é importante que a outra pessoa viva a experiência que ela quiser.

Não acho que quebrar a cara seja a melhor saída, mas quem nunca quebrou a cara? Ensina, amadurece, a gente aprende. Faz parte do nosso amadurecimento

A série aborda a juventude dos millennials e se passa no começo dos anos 2000. Você sente nostalgia da sua adolescência? Era do time 'popular' ou era mais reservada?
Eu vivi bastante a minha pré-adolescência, a adolescência nem tanto -- acabei pulando essa etapa da vida por causa do trabalho. Eu era descolada, não tinha Ipod, tinha MP3, Orkut. Eu era dançarina de hip hop,louca pela Avril Lavigne, amava Ciara. Tinha cabelo colorido, cada mês de uma cor. Era do time 'popular'.

Já teve algum paquerinha online?
Sim! (risos) Tive um namorado virtual que nunca conheci pessoalmente. A gente tinha uma amiga em comum que nos apresentou, nos paquerávamos pelo Orkut, MSN. Eu devia ter uns 13 anos. E, olha só: não era perfil fake não! Ele existe. Até hoje somos amigos no Facebook, porém nunca nos encontramos.

Assim como a Anita, você já se sentiu frustrada com as suas escolhas passadas e o destino da sua vida profissional?
Não, nunca me senti frustrada. E essa é uma das coisas que mais me orgulho. Tenho orgulho da minha caminhada, foi com muito suor e trabalho que cheguei aonde estou. Claro, eu vivi muitos momentos de incertezas, mas sempre tive tranquilidade.

Acho legal que a série aborda esse tema com os jovens. Atualmente não existe mais toda aquela pressão de estar com a vida resolvida aos 23. Você pode começar a faculdade e no meio descobrir que você não gosta do curso.

Hoje sei que não preciso estar casada e com filhos aos 30 anos de idade. Não preciso ser CEO de uma empresa aos 30. Posso, inclusive, mudar de profissão, se quiser. Hoje a gente tem liberdade de escolha, lidamos com isso melhor. Minha mãe aos 30 já tinha três filhas

Legal você tocar no assunto maternidade. Você se ofende quando, durante entrevistas, fazem questões relacionadas ao assunto?
Sou uma mulher jovem casada e sei que existe essa expectativa pública de que eu seja mãe. A mim, a pergunta não ofende porque eu tenho planos relacionados à maternidade. Eu desejo, o Klebber também. Mas é uma pergunta que ofende quem não deseja ser mãe - e ela está no direito dela.

"De volta aos 15" toca em temas sensíveis e atuais, como os problemas que uma masculinidade tóxica pode causar aos homens. O que você considera uma masculinidade saudável?
Quando o homem sabe respeitar o espaço da mulher. O homem tem que saber vibrar pela mulher (inclusive e principalmente dentro de um relacionamento). Além disso, outra coisa que acho importante para construirmos uma masculinidade saudável é acabar com o assédio; por que essa necessidade de fazer comentários sobre o corpo feminino?

Recentemente você fez um tuíte comentando a pressão que sofre por ter seios pequenos. Como a pressão pelo corpo perfeito te afeta?
Existe uma pressão estética muito grande em cima de nós, mulheres, e uma expectativa que a gente alcance todos os padrões -- eu sou uma mulher dentro do padrão, e sei disso. Sou branca, alta, magra, cabelo liso, sou modelo... mas me falta o seio, na visão de algumas pessoas. Fizeram comentários muito maldosos a respeito e decidi me pronunciar.

Hoje eu sou muito bem resolvida com o meu peito, mas já não fui. Na adolescência, isso era um problema para mim. Meu peito começou a crescer aos 12 anos e parou naquele tamanho. Usava um sutiã de bojo com enchimento para ter algum volume. Durante anos me questionei se devia colocar silicone. Não quer dizer que eu nunca vá colocar, mas, ao mesmo tempo, me distancio a cada dia dessa ideia... Tem tanta menina com pouco seio que me diz 'caramba, Camila, que importante é ter você representando as mulheres de pouco seio'.

A gente está acostumado com tantas mulheres sofrendo pressão e se rendendo a ela. Eu quero que essas mulheres de peito pequeno se sintam mais bonitas - não existe mais um padrão, todo mundo é bonito do jeito que é. Em um mundo onde tanta gente se 'mexe' tanto para alcançar um padrão inalcançável, eu tenho muito orgulho de ser natural

 Camila Queiroz abre álbum de fotos da final de Casamento Às Cegas e deixa os seguidores ansiosos   - Grupo CARAS - Grupo CARAS
Camila Queiroz abre álbum de fotos da final de Casamento Às Cegas e deixa os seguidores ansiosos
Imagem: Grupo CARAS

Você e seu marido (Klebber Toledo) comandaram a primeira edição brasileira do reality "Casamento às Cegas". O programa levantou vários debates sobre machismo. O que a experiência te ensinou sobre o assunto?
Quando assisti ao programa (não tínhamos acesso a tudo) fiquei bastante surpresa. A postura dos homens me decepcionou, mas ao mesmo tempo fiquei feliz das mulheres terem reagido. No episódio de reencontro, elas não se calaram, apontaram os problemas, a internet puniu. Eu espero que eles tenham apreendido. Não gosto da cultura do cancelamento, todo mundo tem direito a errar e recomeçar -- espero que eles recomecem. E que na segunda temporada a gente tenha menos ou quase nenhum episódio de machismo.

Para encerrar: em um episódio da série "De volta aos 15", Anita é chamada de "louca" (quando revela a traição do amigo da prima). Você sente que homens, quando querem ofender uma mulher, ou tirar seus créditos, dizem que ela não está sã?
Eu já fui chamada diversas vezes de louca e em alguns momentos acreditei nisso. Só que hoje, graças à disseminação do feminismo na internet, cada vez mais conseguimos enxergar que não somos loucas, não estamos pirando, e que o problema está no outro. Para mim, Camila, todo o movimento feminista foi muito importante. Me fortaleceu e espero que esteja fortalecendo outras mulheres. Espero que possamos estar cada dia mais unidas, porque isso é fundamental.