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Luciana Bugni

Duda tinha 16 anos, Borel, 25: o incômodo papo sobre a diferença de idade

Duda Reis e Nego do Borel: ela tinha 16 anos quando o conheceu - (Foto: Instagram/Reprodução) - Reprodução / Internet
Duda Reis e Nego do Borel: ela tinha 16 anos quando o conheceu - (Foto: Instagram/Reprodução) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

19/01/2021 04h00

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A midiática relação de Duda Reis, com 19 anos, e Nego do Borel, 28, acabou. O rompimento, no fim do ano passado, foi seguido de acusações por parte da garota sobre ter sido abusada, ameaçada e até estuprada. Ele nega. Ela diz nas redes sociais que, depois de três anos, despertou e teve força para dar um basta na relação.

Duda tinha 16 anos quando começou a namorar com o cantor. Ele era seu segundo relacionamento e deve ter ensinado para ela tudo sobre assunto. Do jeito dele, claro. Hoje, a modelo afirma que sofria agressões físicas e verbais. Famoso e independente, certamente o cantor exercia sobre a menina uma influência grande e despertava muita admiração. Por isso, ela admite em vídeos na internet, não queria acreditar nas evidências de traições, relevava brigas e se afastava da família. É o desenho do que acontece em relações abusivas.

Namorar com mais velho é cilada?

A pergunta que se faz meio pelos cantos é: como uma menina tão nova se envolveu com um homem adulto? As próprias mulheres evitam esse questionamento, porque é muito comum que tenham tido relacionamentos com grande diferença de idade.

Perguntar se essas histórias de amor nos colocaram em condição de vulnerabilidade é questionar a veracidade da nossa própria história - de como lembramos que ela aconteceu e de como queremos contar que fomos. Mulheres fortes, independentes que tomavam decisões a respeito de tudo. Será?

A maioria dos meus relacionamentos estáveis foi com homens sete a oito anos mais velhos que eu. Não consigo nem imaginar como seria, aos 19, já trabalhando e fazendo faculdade, ficar com colegas da minha idade, que ainda jogavam videogame. Enquanto eu pensava em ir para festas open bar com a molecada, meus namorados já moravam sozinhos, eram formados na faculdade, já tinham morado em outros países. E o fascínio era justamente esse.

Tive sorte, os caras eram legais e, diferentemente de Duda, tenho memórias felizes desses romances da adolescência. Mesmo assim, vale o questionamento: eu era uma garota um pouco mais madura que a maioria, mas ainda bem imatura diante de um adulto. Que tipo de influência esses homens exerceram sobre mim? Por que eles escolheram ficar com uma menina que estava preocupada em matar aula da faculdade para beber cerveja em copo de plástico? O que isso diz sobre a maturidade deles?

Mas homem demora para amadurecer...

Maturidade não tem a ver com gênero. Isso é só mais uma desculpa que usamos via machismo para perdoar os homens pelas bobagens que eles fazem como se o "eu sou assim" fosse uma desculpa que serve para tudo.

Adolescentes podem ser mais imaturos que as garotas da mesma idade. Não por diferença física ou de desenvolvimento. O moleque de 18 anos está vendo o pai chegar do trabalho e não fazer nada na casa, não tratar a mãe bem, ligar a TV e ver jogo bebendo cerveja sem dialogar? É possível que ele cresça achando que não precisa dividir o trabalho de casa, ser carinhoso ou dialogar. Ele é paparicado a ponto de nunca ter arrumado a própria cama? Pode ser que a vida ensine, mas ela não tem muita pressa para fazer isso.

E outra: o homem maduro e viajado que beira os 30 anos, pode, por exemplo, enfiar a roupa suja num saco todo sábado e levar para a mãe lavar. Pode fazer cenas de ciúme que afastem a mulher de seus amigos. Pode se achar no direito de sair para jogar bola e voltar duas noites depois, como se nada tivesse acontecido. Pode seguir mandando foguinho a torto e a direito no Instagram como se estivesse acima de tudo.

E aí o que acontece quando a pessoa que você ama, admira e com quem você está aprendendo tudo sobre um relacionamento é um abusador? O mesmo que pode ter acontecido com Duda: a gente demora a perceber que está sendo abusada.

Pode passar a vida toda sem se dar conta, pois aprendeu que um relacionamento era assim justamente como ele queria que fosse.

"Ah, pronto, agora vai cancelar meu casamento de 20 anos"

Quando a gente levanta esses questionamentos doloridos, a primeira reação é fugir da discussão pensando: "mas deu certo comigo, sou feliz assim e não faria nada diferente". Eu não estou sugerindo mesmo que mude nada que não esteja machucando. Até porque, quando mais a gente envelhece, menos faz diferença quem viveu mais ou menos.

Há inúmeros casamentos longevos e respeitosos com pessoas de idades diferentes. E há gente que se conheceu no colégio e cresceu junto abusando um do outro e se desrespeitando também — não tem regra.

A pergunta que vale a pena fazer o tempo todo é: eu sou feliz assim ou só estou nessa porque dá muito trabalho pensar que não sou feliz?

Duda não conseguiu mais fingir que estava tudo bem e hoje, semanas após o rompimento, parece um mulherão bem diferente daquela chorosa e desesperada que vimos nos vídeos no Instagram ou nas prints das conversas do casal expostas por Borel. A liberdade é muito poderosa.

Tem muito casamento com vários anos de diferença de idade e felicidade plena, mas tem muita Duda tentando se reerguer e sofrendo, em posição de completa vulnerabilidade diante de um algoz a quem admira muito. É importante olhar para isso com critério, mesmo que seja dolorido analisar a nossa própria história com olhos de distanciamento. Duda aguentou fazer isso com 19 anos. Dói demais, mas a gente aguenta também.

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