Luciana Bugni

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Opinião

Secco diz o que gostaríamos de dizer sobre sexo mas nossa criação não deixa

Deborah Secco está com a maior naturalidade na internet explicando como procede a respeito de sexo oral. O debochado "cospe ou engole?" (aqui uma pausa para o leitor correr nos comentários reclamar da "baixaria") virou pauta do programa de Gioh Ewbank e Bruno Gagliasso, Surubaum. Quando o assunto é sexo, Deborah pauta a internet e as conversas — e que bom que tem alguém fazendo isso com essa segurança e controle da situação publicamente.

Eu, que tenho a idade de Deborah, aprendi que não posso sair por aí contando intimidades sexuais. Mais que isso, o começo da vida sexual é cercado de poréns e culpa. E se o cara contar para todo mundo o que fez comigo? E se eu ficar falada? E se as pessoas, meu Deus do céu, souberem que faço sexo? "Se valorizar", "esconder o jogo" e outras expressões para lá de datadas fazem parte do meu repertório desde a adolescência.

Deborah pega todas essas crenças e guarda delicadamente no bolso. Todo mundo transa (espero que transe), todo mundo faz sexo oral, toda mulher em relações heterossexuais já se viu diante do impasse de cuspir ou engolir. Falar disso de uma maneira leve libera outras pessoas para curtir o momento sem culpa. E, convenhamos, já tem muita culpa em todos os cenários com duas pessoas sem roupas para inventarmos mais problemas. Deborah não está nem aí: diz que gosta inclusive de sexo anal, tabu dos tabus quando o assunto é sexo.

Gioh e Bruno encabeçam essas discussões sem pudores na internet faz tempo. O clássico Eu Nunca, com João Vicente e Fê Paes Leme, era uma avalanche de sinceridade — tem coisa melhor do que poder falar sobre sexo com pessoas com quem você efetivamente fez sexo? No Quem Pode, Pod, Fepa e João Vicente também esmiuçaram a relação de amigos que transaram com a liberdade de serem quem são: amigos que transaram. Que que tem, gente?

Deborah, no mesmo podcast, sugeriu que até ménage com Gioh — a apresentadora abre seu espaço para conversas abertas assim, mesmo sendo tímida. O humor e jeitinho espontâneo de Deborah arremata o assunto. Uma mulher falando sobre sexo não quer dizer necessariamente que ela queira transar. E muito menos significa que ela quer transar com você. A menos que ela queira.

Cada vez que a gente fala publicamente sobre isso — e aqui o pudor do "e se minha mãe/ meu chefe/ meu cliente estiver lendo isso" me acomete — a gente fica mais livre para melhorar a vida sexual. E isso melhora a vida inteira.

Mais Deborah, menos leitores reclamando de baixaria, mais todo mundo falando do que quiser, menos segredos cheios de pudores. Ah, mais importante: a gente só pode falar de sexo com quem QUER conversar de sexo com a gente. Qualquer convite ou insinuação não solicitada pode ser violência. Então escolha bem o interlocutor. Deborah estava em um programa que fala sobre sexo — vê quem quer. O mesmo vale para esse texto — quem chegou até aqui foi porque quis.

E desculpa, mãe. A culpa é da Deborah Secco.

Você pode discordar de mim (com respeito) no Instagram.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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