Luciana Bugni

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Opinião

'Gastei mais que ela': a injustiça da medida do dinheiro com Samara Felippo

Acho muito triste que Samara Felippo precise vir a público expor o pai de suas filhas para obter de volta seu próprio patrimônio. A cada vídeo da atriz — inteligente, eloquente, bonita e sofrendo — uma parte de mim se quebra em relação ao ser humano. Como alguém pode achar justo negar ao outro o que é da pessoa? O argumento do rapaz, perante o barulho feito pelas postagens da atriz é ainda mais triste: "eu gastei mais que ela". E daí, gente?

Se a conta do restaurante deu R$ 100, mas um dos dois pediu suco e sobremesa, talvez não seja justo dividir R$ 50 para cada. Mas quando o almoço foi bom, a conversa proveitosa e eu até ganhei uma colherada da musse de chocolate, a gente acaba dividindo meio e meio. Normal. Em um casamento também é natural que as cifras se percam. Quanto se ganha, em espécie, pode ser menos importante do que quando se perde em tempo, por exemplo. Passou quatro horas no fogão, mas o outro pagou a Netflix? O que vale mais?

Penso nessas contas inestimáveis quando leio a argumentação de Leandrinho, sobre a exposição da disputa do ex-casal. Com duas filhas pequenas, ele vendeu, após o divórcio, a casa que o casal construiu junto. Construir junto e sonhar com o outro já tem um peso gigante, mas não foi só isso: Samara afirma ter vendido sua casa própria para ajudar na construção do imóvel. Mais tarde, descobriu que o então marido havia colocado a casa no nome do irmão — estranho, nunca coloquei minha casa no nome de meu irmão. E depois da venda, o dinheiro ficou na família dele. Samara não viu R$ 1, brigou na Justiça e segue brigando sem sucesso.

Nos trâmites de um divórcio, se tem algo que derruba a lógica do respeito é dinheiro. Alguém que coloca a casa em nome de outro, sem informar a própria mulher, já deve ter entrado no relacionamento sem respeito algum. Mas então argumenta que ganhava mais que ela. Hey, cara, isso não é exatamente a conta a ser feita...

Acompanhei Samara pelo Instagram na pandemia e essa menina ralou para cuidar das filhas em casa, sob os conselhos da OMS. Quanto ela ganhou por isso? Quanto ela ganhou ao engravidar duas vezes, amamentar, se preocupar com a educação das meninas? Que conta é essa de quem ganha mais? E mesmo que não haja esse respeito aos bens adquiridos junto (que está na lei, inclusive, só escapou pela maracutaia de colocar no nome do irmão, como Samara conta), não deveria haver o respeito pela propriedade dela? Se a ideia era construir uma casa só para si, talvez fosse o caso de avisá-la para não vender a sua e antever futuras questões como essa, que virou assunto do país inteiro?

A mim pareceria mais inteligente. Mais leal. Atitude de gente bacana mesmo.

A violência financeira que Samara afirma estar sofrendo se mistura com a desonestidade de uma pessoa a quem você amou. É triste, dá raiva, mas não pode dar tanta raiva porque é o pai de seus filhos. Como faz para equilibrar essa equação toda? Quanto Samara deveria estar ganhando para passar essa dor de cabeça com um problema que ela não criou?

E mesmo sem ter criado, vai ter gente julgado o sutiã que ela usou na festa, o jeito que ela saiu na foto, a maneira como criou as filhas. Que canseira danada.

Um homem pode dizer que ganha mais, que gastou mais, que fez mais por aquele patrimônio, e isso pode até ser verdade. Mas a matemática nem sempre é uma ciência exata. O respeito é: se sacaneou alguém, recue, repense, refaça. Bem mais fácil do que fazer um papelão em praça pública.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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