Topo

Luciana Bugni

Nego do Borel e desculpa nas redes: perdoar traição é fácil, mas e o resto?

Nego do Borel: traição é o menor dos problemas no contexto das acusações de Duda - Reprodução / Instagram
Nego do Borel: traição é o menor dos problemas no contexto das acusações de Duda Imagem: Reprodução / Instagram

Colunista do UOL

16/01/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Nego do Borel, um rapaz de 28 anos, ficou por três anos com Duda Reis, que hoje tem 19. Quando começaram a namorar, ela tinha 16 e ele já era adulto. O ex-casal está no topo das conversas na internet porque terminou o relacionamento. Depois do anúncio, no fim de 2020, começaram a aparecer novas questões: um áudio de um suposto caso dele contando em detalhes a traição, denúncias de Duda sobre violência e abusos e o pedido de desculpas de Borel.

Parece um padrão nos últimos casos de denúncia de violência contra a mulher: o homem vai às redes sociais e pede desculpas por ter traído. Num discurso que dá a impressão de formatado, eles negam as acusações graves e afirmam apenas que erraram ao serem infiéis. E bola pra frente, como se nada estivesse acontecendo.

O que houve entre Duda e Borel virou caso de polícia mesmo, com denúncias públicas e um relato muito emocionado da garota, que chorou nas redes sociais ao revelar que vinha recebendo muitas prints de conversas dele com outras mulheres. É muito dolorido mesmo.

Ele, em um vídeo editado, expõe a íntegra da conversa entre os dois do dia que ela saiu de casa com direito a áudios. E diz que não quer expor sua ex. Sim, contraditório.

Dá para gostar de quem agride?

Duda parece estar arrependida nas mensagens, mas sabe que eles têm brigado muito e que não dá para ficar junto nesse momento. No entanto, mostra ter esperança o tempo todo de voltar: fala de fé e de oração e mostra o quanto sente falta do ex.

Para quem leu sobre ou viveu um relacionamento abusivo, a conversa encaixa perfeitamente. Apesar de ter saído de casa por não tolerar mais o relacionamento, ela se sente incapaz de viver sem ele. Pós rompimento, podem estar entrando na fase da lua-de-mel, com direitos a juras de amor, fé em tempos melhores e muitas promessas de rezar para superar. Isso não diz nada sobre a intensidade da briga anterior. O ciclo abusivo, se for esse o caso deles, é assim mesmo.

Borel diz que errou ao trair a mulher, mas nega todo o resto. Em entrevista, disse que já apertou o braço dela "mas não com essa força toda", e que nunca a agrediu. Duda diz que era constantemente dopada e depois estuprada sem ter forças para reagir. Ele nega.

Nesse contexto terrível que a garota narra, a traição seria o menor dos problemas. É dolorido, sim. Mas é algo que pode superado com uma separação ou com a decisão de perdoar. Agora, as outras questões... mais complicado. Em um processo desse tipo, as orientações jurídicas são sempre para negar o que aconteceu anteriormente, evitando punição mais rígida perante a lei.

Como deve ser dolorido para Duda, tão jovem, ter vivido tudo isso e ter encontrado um pouco de vida em si para denunciar. Esse papel é de extrema importância para outras mulheres que estejam vivendo situações parecidas e não se deem conta, como parecia estar acontecendo com a modelo no momento em que se separou e enviou as mensagens amorosas que Borel se gaba de ter recebido.

A gente precisa falar do relacionamento abusivo todos os dias. E lembrar que uma garota (especialmente jovem e sem experiência) pode sofrer as maiores calamidades caladas e terminar o dia dizendo que tem esperança de um futuro melhor e feliz, coberto de bênçãos. Não haveria falsidade nenhuma nisso, se forem comprovadas as denúncias.

O que seria falso é ter abusado física e sexualmente de sua própria mulher, 9 anos mais nova, e ir às redes pedindo desculpa por uma simples traição. Isso, meu bem, é o de menos. Dor de cotovelo a gente cura com sorvete e comédia romântica. O resto fica para sempre.

A gente pode falar mais sobre isso no Instagram.