Luciana Bugni

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Opinião

Guerra Civil: o mundo descobriu Wagner Moura e talvez eu esteja com ciúmes

Abro o Instagram e é Wagner Moura para tudo que é lado. Pronto, o mundo descobriu o que eu já sabia. Não satisfeitos com as imagens de Guerra Civil, que exibem o ator brasileiro de camiseta justa, cigarro no canto da boca, bigode e garrafa de vodca na mão, agora tem vídeos de 800 mil entrevistas que ele deu essa semana para veículos brasileiros sobre o filme. Quem consegue trabalhar se qualquer pausa inocente para uma procrastinadinha viram pelo menos 30 minutos paralisada assistindo o ator em looping?

Guerra Civil, que eu assisti há pouco mais de um mês na premiére mundial, nos EUA, finalmente estreou no Brasil. E eu juro que tentei avisar todo mundo o que estava por vir, mas vocês não prestaram atenção: não há caos, tragédia mundial, explosões e corpos caindo que roubem a cena de Wagner no filme. É Wagner e seu jornalista (a gente reclama, mas não é que a profissão tem seu sex appeal?) que comandam a direção dos olhares. Olha, tem alguém atirando de metralhadora na mocinha aqui... — ok, mas cadê o Wagner Moura nesse quadro?

Uma amiga disse que estava revendo os melhores momentos de Wagner em um vídeo ("todos desde que ele nasceu", ela explicou). Outra, aos 30 anos, afirmou que se sentiu um "velho assediador" ao dar de cara com ele tocando pandeiro com os amigos em um evento no Rio. Meu irmão enviou uma foto dele com Freixo, dizendo que a ideia era "fazer nosso dia mais feliz". Os amigos hétero estão em polvorosa, admitindo sem falsidade: o que tem esse homem, gente? A repórter desse Splash, Fernanda Talarico, postou em suas redes o fim da entrevista que fez com ele para a estreia do filme. Ele elogia a tatuagem dela. Os comentários abaixo do post são de mulheres indignadas: "será que ele queria te desestabilizar?", perguntam. E dá-lhe foguinho.

Wagner Moura, esse acontecimento midiático que anda mexendo com os hormônios de moças de todas as idades, é nosso velho conhecido aqui no Brasil. Os gringos estão descobrindo agora e enlouquecidos por causa da camisetinha "da sétima série" que ele usa no filme e o charme incorreto que pode dar em cima de uma garota 20 anos mais nova a qualquer momento.

A primeira vez em que o entrevistei foi no lançamento de Tropa de Elite 2 e nunca me esqueci do que ele disse sobre chegar em casa tremendo e perceber que ainda não tinha saído da pele do Capitão Nascimento. Ele conta coisas, às vezes dezenas de vezes seguidas, como na maratona de entrevistas dessa semana, com um profundo interesse em ser compreendido. É educado e gentil e sempre chama todo mundo pelo nome. Até a gente, jornalista com décadas de estrada e muita celebridade na bagagem, fica impressionada.

Na festa de lançamento do filme, em Austin, no Texas, fui abordada por mulheres curiosas para saber qual a palavra em português que descrevia o que o ator causava em nossos úteros. Borogodó, eu arrisquei, mas ainda insatisfeita. Não é bem isso. Na recepção, fomos apresentados (de novo) e eu até coloquei a tacinha de espumante sobre a mesa para discutir a cena final do filme — é jornalismo ou é deboche? Falei para ele que acho que são os dois, o jornalista obstinado acaba ficando meio engraçado mesmo, com risco de pender para o patético para quem não tem intimidade com o modus operandi. Wagner ouviu olhando nos meus olhos. "Pode ser."

Ele é tipo a gente: encosta no braço pra falar, abraça forte e chama pelo nome. "Foi bom te conhecer, Luciana". Eita, gente, o que está acontecendo aqui? O planeta inteiro, como eu há um mês, intrigado com o tal do borogodó. E eu, jornalista veterana, mulher casada, não costumo me impressionar com pouca coisa, não. Uma amiga me manda mensagem perguntando como está a festa do filme. Eu respondo, ela replica: "Eu, ele e um copo de água, dá para passar a noite inteira". Viramos todas caminhoneiras e partimos para a objetificação.

Realmente, o Joel de Moura atravessando a guerra é um lance. "Eu já sabia", penso com meus botões. Aquela tacinha de champagne foi um grande momento. Minhas amigas ruborizam e se abanam ouvindo a história.

Você pode discordar de mim no Instagram. Mas pra quê, né? Se abrir o Instagram, vai pular conteúdo de Wagner Moura no seu colo. Aí acaba ficando difícil lembrar o que ia fazer. O que eu ia fazer mesmo?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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