'É um Frankenstein de muito mau gosto': Lobão detona sertanejo atual

Lobão, 67, um dos nomes mais ativos e influentes da música brasileira, completou 50 anos de carreira e celebra esse meio século com o show "50 Anos de Vida Bandida", apresentando-se em formato de power trio —ao lado de Guto Passos (baixo e vocal) e Armando Cardoso (bateria).

Em entrevista ao programa No Tom, Zé Luiz e Bebé Salvego mostram por que ele é considerado um ícone do rock brasileiro, sempre polêmico e inquieto, desafiando a indústria musical e inovando ao longo dos anos. No papo, ele criticou o sertanejo atual: "Frankenstein de muito mau gosto", disse.

O compositor detonou o perfil dos cantores sertanejos do Brasil. "Você não precisa fazer uma coisa cafajeste, vagabunda, como o sexismo grotesco, onde a coisa assim, realmente é uma coisa muito de mau gosto. E ficou uma caricatura, o cara bota uma tatuagem, bota um topete, tipo ''sou do rock'."

Um som horroroso. É um Frankenstein de muito mau gosto. Lobão

Lobão acredita ter um interesse político por trás do sucesso do sertanejo no país. "E isso fatalmente tem algum interesse econômico e político por trás disso. Não é possível isso se sustentar por tanto tempo. É uma aberração, uma deformidade estética, uma deformidade comportamental."

O músico falou que as pessoas não querem ouvir a música no show, mas sim buscar por relações passageiras. "Aí dizem que isso pegou muito porque a mulherada vai ver e os playboys vão querer ganhar as piriguetes."

Tá todo mundo ali com terceiras e quintas intenções. Ninguém tá ali para sentar e ouvir a música. É muito frívolo, muito miserável em termos de experiência de vida. É uma poluição, uma toxicidade tá ouvindo aquele tipo de som, Lobão

O cantor ainda elegeu Elena Meirelles, Almir Sater e Renato Teixeira na sua lista de cantores sertanejos favoritos. "Tem coisas do sertanejo que são tão sofisticadas, modernas no sentido de bom gosto, de várias outros voos criativos"

'Quebrei violão no meu pai'

O cantor e compositor lembrou de quando quebrou um violão na cabeça do seu pai e falou da origem da família. "Eu quebrei um violão em meu pai, na cabeça assim do meu pai e eu saí de casa. Mas isso foi bem depois. Eu já era veterano. Na verdade, a minha família é uma família de automobilistas."

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Meu avô construiu o primeiro ferro de Fórmula 1. O Brasil ganhou um prêmio de 1936 da Auto Union que era nazista. Meu pai fez um carro que agora tá numa exposição de automóveis lá no Rio. Minha mãe ganhou o campeonato brasileiro de kart disfarçada de meu pai porque meu pai teve um acesso de asma, então todos eles eram do automobilismo e eu nunca me adaptei, Lobão

Lobão contou que o primeiro contato com a música foi no sítio do avô holandês. "Ele fez um boliche no sítio e o meu primo, com os amigos dele, foram montando uma bateria. Eu fiquei todo animado e comecei a tocar uma marchinha de Carnaval. Com 6 anos eu ganhei a primeira bateria."

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'Jabá das plataformas é muito mais casca-grossa'

O cantor explicou por que as plataformas de streaming não ajudam no crescimento do artista. "No streaming não é melhor por vários motivos. Por exemplo, na época da gravadora a coisa mais legal que tinha é que eles cuidavam da carreira do artista. Por isso que no nosso consciente, o Roberto Carlos existe, o Tim Maia existe, eu existo.."

Hoje em dia tem artistas que às vezes vendem 500 mil vezes mais do que a gente, mas aí morre de avião, tem milhões de seguidores e ninguém sabe quem é, Lobão

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O compositor falou como funciona as plataformas para os artistas. "O jabá existe em tudo que é lugar. Agora o jabá nas plataformas é muito mais casca-grossa e o retorno [...] Se você tocar um milhão de vezes, você só ganha R$ 0,4 centavos."

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No Tom

No novo programa de Toca, Zé Luiz e Bebé Salvego entrevistam artistas de diferentes vertentes num papo cheio de revelações, lembranças e muito amor pela música. Assista ao programa completo com Lobão:

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