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Vacina não implanta chip magnético: é falso braço "grude" moeda ou celular

Em vídeo postado no Twitter, o médico Ricardo Parolin mostra que para grudar itens no braço só é necessário um pouco de umidade - Reprodução/Twitter/@parolin_ricardo
Em vídeo postado no Twitter, o médico Ricardo Parolin mostra que para grudar itens no braço só é necessário um pouco de umidade Imagem: Reprodução/Twitter/@parolin_ricardo

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

13/06/2021 13h24Atualizada em 14/06/2021 15h42

Esta semana, o brasileiro, para variar, passou dos limites. Em um vídeo que circulou pelas redes sociais e grupo de WhatsApp, uma mulher prende um celular no braço de dois idosos, alegadamente seus pais, e diz: "É suspeito... Ou seja, a vacina vem com microchips e são magnéticos". Outros vídeos que demonstram o "poder" de grudar objetos metálicos na pele após a imunização contra covid-19 também apareceram para dizer que a vacina contém "partículas magnéticas" ou "implantaria um microchip" em nosso organismo. Mas nada disso faz sentido. É balela, e Tilt explica por quê.

Os primeiros vídeos mostravam pequenos objetos, como chaves, moedas e grampos de cabelo presos ao corpo. A explicação para isso é mais simples: nossa própria oleosidade ou umidade pode causar a aderência.

Lembre-se de dias de muito calor, em que a pele fica pegajosa devido à transpiração e nós grudamos até em cadeiras e objetos de qualquer material —não quer dizer que viramos o Magneto, personagem do X-Men..

"O suposto magnetismo pode ser reproduzido se a pessoa estiver com a pele úmida ou se ainda tiver resquícios de cola deixados por curativos no local onde a vacina foi aplicada", explica Fernando Kokubun, professor de física da FURG (Universidade Federal do Rio Grande).

Vacinas não possuem qualquer nanopartícula ou ingrediente com propriedades magnéticas. "Se fosse assim, até as ampolas ficariam grudadas umas nas outras."

Em um vídeo do canal "Nunca Vi 1 Cientista", Ana Bonassa, pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), explica que algumas vacinas contam com uma quantidade mínima de hidróxido de alumínio, mas que a substância não oferece nenhum tipo de magnetismo.

"Um comprimido de antiácido tem 1.000 vezes mais hidróxido de alumínio que o presente na vacina. Se você acha que pode ter um efeito magnético, aproxime a moeda de um comprimido para ver o que acontece", ironiza.

Implante de chip controlador?

Mas e um biochip, pode ser implantado por uma agulha? Só se for uma de grande diâmetro interno, como um cateter de furar piercing; jamais passaria por uma fininha como a de vacina.

Sem contar que um chip tem mais ou menos o tamanho de um grão de arroz (11,5 mm) e não é transparente ou líquido, então conseguiria ser visto a olho nu dentro da seringa.

Mas vamos supor que, ignorando as leis da física e a nossa visão, um chip de fato tenha sido implantado. "Mesmo se ele fosse de metal maciço, e o ímã usado fosse o mais forte do mundo, não sustentaria nem o próprio peso através da pele", calcula Mário Alexandre Gazziro, professor da Universidade Federal do ABC e da USP (Universidade de São Paulo).

O smartphone do vídeo, se for real, pesa entre 150 g e 200 g, de acordo com as especificações dos principais fabricantes. O que parece um disco imantado na traseira, usado para prender o celular em acessórios como suporte de carro, tem um diâmetro de cerca de 3 centímetros.

"O mais provável é que seja um simples adesivo autocolante, que associamos a um ímã pela cor e formato. Mas o vídeo é totalmente falso, pois não atende às leis da física. Nem forçando as contas isso consegue ser explicado", diz Gazziro.

Ele, que foi o primeiro brasileiro a ter um microchip implantado, em 2011, para fins de pesquisa, até fez cálculos que desmascaram a mentira.

"Supondo que tenha sido utilizado no celular um ímã permanente de neodímio (categoria N52, que são os mais fortes do mundo), com as dimensões percebidas no vídeo (3 cm de diâmetro e 0,5 cm de espessura), o campo magnético gerado seria de cerca de 1.000 gauss a uma distância de 1 cm, que seria a suposta distância até onde o eventual chip estaria implantado, em relação a um grande objeto metálico", explica.

"Mas o referido chip, com área de 2 mm quadrados, exerceria uma força de interação magnética mil vezes menor com o ímã, se comparado a, por exemplo, uma porta de geladeira (com 2 m quadrados e elétrons livres compatíveis com essa área). Então o peso suportado seria também mil vezes menor, ou seja, aproximadamente 1 grama. Portanto, o ímã não suportaria seu próprio peso, de 2 gramas".

Se quiser tentar fazer os cálculos por si só, o professor indica este site.

De tanta repercussão, até o governo do Estado de São Paulo teve de fazer uma postagem explicando que os vídeos são falsos - para evitar que a população deixe de se vacinar ou de tomar a segunda dose da vacina.

"Esse é o perigo das fake news. Elas tangenciam coisas quase plausíveis às vezes. Mas tudo que acontece de estranho na natureza a gente já estudou em laboratório. Se não foi feito em uma universidade, muito provavelmente não é possível de se fazer em casa", conclui Gazziro.

Crédito ou débito? Passa na Pfizer!

Se, por um lado, há aqueles que acreditam em tudo que chega no WhatsApp, muita gente debochou desses vídeos ou está decepcionado por ainda não ter um "microchip" implantado.