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'Tentativa torpe de assassinar minha reputação', diz Ana Paula sobre Casão

Ana Paula Henkel, ex-jogadora de vôlei - Reprodução/Youtube
Ana Paula Henkel, ex-jogadora de vôlei Imagem: Reprodução/Youtube

Denise Bonfim e Leandro Pinheiro

Do UOL, em São Paulo

14/07/2021 04h00

A ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel se manifestou após a Justiça conceder direito de resposta a ela no processo contra o comentarista Walter Casagrande Jr. e a Rede Globo. Em fevereiro, Casão publicou um texto dizendo que a ex-atleta era "defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade".

Em nota publicada na Revista Oeste, na qual é comentarista política, Ana Paula Henkel classificou a publicação de Casagrande como "tentativa torpe de assassinar sua reputação".

"Participo do debate público já há bastante tempo e jamais me neguei a dialogar com meus interlocutores, sempre com respeito e fundamentadamente", escreveu.

Ana acrescentou ainda que a decisão da Justiça deixa "claro que o debate democrático jamais pode servir de instrumento à propagação de ofensas".

Depois de um recurso negado, Ana Paula teve seu pedido acolhido pelo juiz Christopher Alexander Roisin, da 14ª Vara Cível de São Paulo. A Globo pode recorrer.

Na decisão, o magistrado ordenou que o GE.com republique ou atualize a resposta da ex-jogadora, já veiculada pelo site, seguindo os mesmos critérios da coluna de Casagrande — mesmo espaço, dia da semana e horário.

Procurada pelo UOL Esporte, a Globo declarou que não comenta casos sub judice, mas destacou que uma carta de Ana Paula Henkel foi publicada pelo GE.com no dia 13 de março.

Entenda o caso

A confusão começou em fevereiro deste ano, quando Casão se referiu a Ana Paula, apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como "defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade". A publicação foi feita no blog do ex-jogador no "GE".

No texto, direcionado a atletas, o ex-jogador pede "desculpas por ter posto no meio de vocês [atletas], e por muito tempo, uma pessoa intragável, prepotente, arrogante, defensora de armas, que se disfarçou de jogadora de vôlei".

Horas depois, a ex-jogadora de vôlei respondeu em seu perfil no Twitter, pedindo para o comentarista olhar "para sua vida e para um espelho" e para que ele a esqueça.

Ana Paula processou o comentarista e o Grupo Globo, pedindo o direito de resposta. Uma carta da comentarista da Rádio Jovem Pan foi publicada no site GE.com, mas ela entrou com recurso alegando que a publicação não teve destaque idêntico ao do primeiro texto.

Em outra ação, movida contra a TV Bandeirantes pelos comentários feitos pelo apresentador Neto, que saiu em defesa de Casagrande, o juiz Renato Acácio de Azevedo Borsanelli, da 2ª Vara Cível, julgou improcedente o pedido de direito de resposta.

Leia a nota de Ana Paula Henkel na íntegra:

Em 21 de fevereiro de 2021, recebi inúmeras mensagens de amigos alertando que eu havia sido vítima de ataques praticados pelo Sr. Walter Casagrande Júnior contra minha honra e minha imagem em sua coluna semanal publicada no sítio eletrônico do Globo Esporte.

Dentre as várias ofensas, chamou-me de 'uma pessoa intragável, prepotente, arrogante, defensora de armas, que se disfarçou de jogadora de vôlei,..'.

Não contente em me atribuir adjetivos infamantes, arrematou o ataque conclamando seus leitores a esquecerem 'que dentro do esporte existiu criatura como essa', novamente dizendo que sou 'defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade'.

Sem apresentar qualquer argumento contra minhas ideias, preferiu apelar ao achincalhe e a uma tentativa torpe de assassinar minha reputação. Participo do debate público já há bastante tempo e jamais me neguei a dialogar com meus interlocutores, sempre com respeito e fundamentadamente.

Surpreendida com as ofensas, solicitei à Rede Globo que publicasse meu direito de resposta, previsto no art. 5º, inciso V, da Constituição Federal. Publicaram a resposta como se fosse uma mera carta em página avulsa do site Globo Esporte, descumprindo a Lei de Direito de Resposta, que obriga que as respostam sejam publicadas com o mesmo destaque do texto ofensivo.

Recorri, então, por meio de meus advogados, Lucio Hoffmann, Júlio César Moraes dos Santos e Frederico Junkert, do Hoffmann e Moraes Advogados, ao Poder Judiciário para que me fosse reconhecido o direito de resposta a ser exercido nos exatos moldes garantidos pela lei.

Ontem, 12 de julho de 2021, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por meio do juiz Christopher Roisin, reconheceu que fui ofendida pelo Sr. Casagrande e que a Rede Globo não cumpriu a Lei de Direito de Resposta.

Com essa decisão, ficou claro que o debate democrático jamais pode servir de instrumento à propagação de ofensas.

Por fim, tenho a certeza de que, para o crescimento da sociedade, é imprescindível promover o livre debate de ideias e conceitos, respeitadas a dignidade da pessoa humana, a imagem e a honra alheia.