Topo

MMA


Por que Anderson x Conor é bom pros dois; só que há mais risco pro irlandês

Anderson Silva x Conor McGregor? A escolha é boa para os dois lados - Jon Roberts/ Ag Fight
Anderson Silva x Conor McGregor? A escolha é boa para os dois lados Imagem: Jon Roberts/ Ag Fight

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

29/05/2020 04h00

O desafio foi lançado e não demorou pra ser aceito: Anderson Silva quer enfrentar Conor McGregor e já recebeu sinal positivo do irlandês. Mas...isso não é tudo. Resta o UFC topar armar essa luta, e que os estafes se entendam entre eles e com a organização para viabilizar essa luta show.

Esse combate é uma ótima pedida pros dois lutadores, sobretudo para o brasileiro, que tem menos a perder no duelo. Com 45 anos e vindo de uma cirurgia no joelho, o Spider já não apresenta mais competitividade para lutas que o coloquem no caminho de uma disputa de cinturão nos médios, categoria na qual reinou por muitos anos. As duas lutas que tem ainda a cumprir por contrato teriam que ser escolhidas a dedo no quesito dificuldade técnica e entretenimento. E um embate contra o falastrão irlandês já junta o útil ao agradável.

Anderson demonstra estar lutando por prazer e não estar nem aí pro que possa acontecer com seu currículo já há algum tempo. Assim foi ao se candidatar, sem camp de treinamento, para substituir o então dopado Jon Jones contra Daniel Cormier, em 2016, dias antes desta luta ser cancelada, contra um rival fortíssimo e em categoria acima da sua. O mesmo quando topou encarar o hoje campeão dos médios, Israel Adesanya, 15 anos mais jovem, quase que como um prêmio ao nigeriano por tê-lo tanto tempo como principal referência.

A chance de Anderson voltar com vitória desses combates era muito pequena, mas ele até que fez bonito com bons momentos ao levar as duas pra decisão dos juízes e mostrar conhecidadas habilidades de sua velha forma. Este último combate, contra Adesanya, é o mesmo cenário de um duelo contra McGregor: o brasileiro entra como azarão, bem mais velho (14 anos a mais), diante de uma estrela atual que não para de lhe rasgar elogios. E isso somado ao estilo: é muito melhor para o brasileiro se deparar contra um trocador do que um oponente de luta agarrada, que aniquilaria facilmente seu jogo.

Entrar no octógono nessas condições é muito melhor do que enfrentar um lutador mais jovem de sua categoria, já que serviria apenas de escada para este oponente escalar a divisão. Num cenário contra Conor, Anderson desfruta de uma super luta contra um fã, e possivelmente sendo o evento principal da noite, algo que dificilmente conseguiria contra alguém dos médios. E baixar para o peso casado de 80 kg creio que é mais favorável para Anderson do que para Conor subir.

O irlandês já competiu antes nos penas, até 66 kg, e fez sua subida de peso máxima no MMA pro último combate, nos meio-médios, para chegar aos 77 kg. Pra luta contra o brasileiro, seria um novo acréscimo --mais uma subida, já que fez dos penas pros leves, dos leves pro meio-médio, e agora um casado entre meio-médio e médios.

O peso já é algo, no meu entender, um pouco mais sensível pra Conor do que para Anderson. E como risco a mais, o peso da pressão toda em cima dele; muito mais jovem, ativo e fisicamente melhor, mais ágil e com muito mais tempo de carreira pela frente. O irlandês têm que ganhar esse duelo pelo momento profissional dos dois.

Mas, apesar disso, nem pra ele é tão ruim assim. Desde que virou um popstar, Conor sempre forçou muito mais para super lutas do que pra combates que o desafiem tecnicamente. Foi assim ao fazer duas lutas com Nate Diaz e até a escapada pro boxe no histórico duelo contra Floyd Mayweather. Ele nunca escondeu que gosta de grandes promoções que possam encher seu bolso de dinheiro; em detrimento a combates que realmente desafiem sua evolução.

A última luta, diante de um já veterano Donald Cerrone, foi assim. O americano já não é mais um lutador top, mas Conor queria um trocador de golpes com quem tinha promovido trash talk (provocações). Assim como com o que acontece com Anderson, é muito mais favorável duelar contra um striker do que contra alguém da luta agarrada.

Ele já provou do veneno que mais incomoda o seu jogo (lutar contra wrestlers) na histórica derrota pra Khabib Nurmagomedov. Levou um amasso na grade, nas quedas e no chão, áreas de baixo domínio e no qual é quase impossível imaginar ocorrer num duelo contra Anderson, seja de um lado ou de outro. Todos viram o quão difícil foi pra a luta contra o russo sair do papel, já que o irlandês sabia que aquele duelo não era nada favorável. E, agora, não parece tão disposto e querer se provar de novo nessa situação.

Conor, assim, ganha tempo com mais uma luta com caráter de exibição até esperar uma oportunidade de disputa de cinturão em alguma categoria contra um oponente que tenha estilo mais favorável. Já Anderson faz novo duelo de boxe e muay thai, sem pressão, e riscos do rivais que querem o derrubar e o colocar na grade.

É só o UFC topar, as partes se entenderam, para começar o show de falação entre ambos, área onde também dominam bastante.