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Adeus a Maradona tem multidão na Casa Rosada, lágrimas e enterro intimista

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/11/2020 23h15

O mundo acompanhou hoje a despedida de um dos maiores gênios da história do esporte. Se dentro de campo Diego Armando Maradona emocionou uma legião de fãs, o adeus após a precoce morte aos 60 anos não poderia ser diferente. O último ato da brilhante história teve uma multidão reunida, lágrimas e um país inteiro com os olhos no que acontecia na Casa Rosada nesta quinta-feira.

Foi na sede da presidência da Argentina que aconteceu o velório do eterno camisa 10. A cerimônia começou cedo, às 6h (horário de Brasília) e, após lágrimas, sangue e confusão, só teve fim após mais de 12 horas com um enterro em cerimônia intimista. O UOL Esporte detalha, abaixo, tudo o que rolou na emocionante despedida de "Dios".

Velório começa com fila e confusão

O velório de Maradona na Casa Rosada — a primeira vez em dez anos que o local teve uso para um evento do tipo — começou com enorme fila e muita confusão. Isso porque alguns fãs acabaram ultrapassando grades de proteção delimitadas pela polícia local na Plaza de Mayo, que fica em frente à Casa Rosada.

O saldo do tumulto, segundo a imprensa argentina, foi de uma pessoa ferida — ela teve o rosto ensanguentado no meio da confusão.

Confusão - RONALDO SCHEMIDT / AFP - RONALDO SCHEMIDT / AFP
Torcedores argentinos e polícia entraram em conflito durante velório de Maradona
Imagem: RONALDO SCHEMIDT / AFP

Ex-namorada é barrada

Outro momento de confusão foi quando Rocío Oliva, ex-namorada de Maradona, afirmou ao jornal Clarín que foi impedida de entrar na parte íntima do velório, destinada a amigos e familiares do argentino.

Após desentendimento nos corredores, Oliva foi orientada por um segurança a voltar minutos depois de o público comum ser autorizado a entrar. O casal ficou junto por seis anos e terminou no início do ano passado.

Mais polêmica: funcionário de funerária é demitido

Um homem que trabalhava na funerária que preparou o corpo de Diego Maradona foi demitido após posar para uma foto com o argentino dentro do caixão.

Segundo o site da TV Todo Notícias, a foto, que mostra Diego Molina fazendo um sinal positivo com uma mão enquanto toca a testa de Maradona com a outra, viralizou em grupos de WhatsApp durante a cerimônia de despedida do astro.

Funerária - Reprodução/ Redes Sociais - Reprodução/ Redes Sociais
Funcionário de funerária é demitido após postar foto com corpo de Maradona
Imagem: Reprodução/ Redes Sociais

Médico evita declarações

Por volta das 10h, o médico pessoal de Maradona, Leopoldo Luque, compareceu à sede do governo argentino. Ao ser rodeado por jornalistas, Luque apenas lamentou a morte de seu paciente e não quis responder sobre as acusações de Matías Morla, advogado do ex-jogador — ele disparou contra a suposta demora no atendimento ao argentino, considerando o ato como uma "idiotice criminal", em publicação no Twitter.

O médico era uma das pessoas mais próximas de Maradona em seus últimos meses de vida. Ele foi o responsável por publicar a última foto pública do ex-jogador, fato que gerou uma grande rusga nos familiares.

Presidente da Argentina se emociona no velório

De helicóptero e usando máscaras contra a covid-19, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, marcou presença no velório por volta das 11h.

Visivelmente emocionado, ele chegou a colocar uma camisa do Argentinos Juniors em cima do caixão de Maradona — o clube foi o primeiro profissional do astro. Logo depois, ao abraçar familiares e amigos, Fernández ficou alguns minutos de pé observando o caixão, já rodeado de artigos deixados pelos fãs.

Presidente argentina - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Alberto Fernández se emociona durante velório de Diego Maradona
Imagem: Reprodução/YouTube

Filas crescem e aglomeração aumenta

A multidão só aumentava ao longo do dia em Buenos Aires. Uma enorme fila que começava na porta da Casa Rosada se formou nas ruas. O Canal 5 Notícias informou que a espera para passar por cerca de dez segundos perto do caixão era de até cinco horas.

A temperatura, na casa dos 24° C durante o dia, também não colaborou com os fãs, que acabaram se aglomerando em tempos de pandemia enquanto esperavam para entrar na sede do governo.

Fila - Ivan PISARENKO / AFP - Ivan PISARENKO / AFP
Uma fila quilométrica se formou nos arredores da Casa Rosada durante o velório de Diego Maradona
Imagem: Ivan PISARENKO / AFP

Mais confusão e velório é prolongado

Com previsão inicial de término do velório às 16h, a polícia argentina acabou bloqueando algumas partes da fila, já que nem todos os presentes conseguiriam entrar na Casa Rosada antes do encerramento.

A iniciativa não deu certo e desencadeou uma confusão generalizada, com direito a invasões na sede do governo argentino — que ficou fechada por alguns minutos.

De acordo com informações do Canal 5 Noticias, os policiais atiraram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar as pessoas. A polícia ainda usou hidrantes para jogar água nos torcedores, enquanto alguns fãs arremessaram garrafas e latas nos policiais.

Alberto Fernández, posteriormente, convenceu a família de Maradona a estender o velório para até às 19h, três horas depois do planejado pelos familiares do argentino.

Multidão - REUTERS/Ricardo Moraes - REUTERS/Ricardo Moraes
Torcedores pulam o portão e invadem a Casa Rosada no velório de Diego Maradona
Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes

Cortejo leva corpo para enterro

Apesar do prolongamento no horário, o encerramento oficial do velório se deu por volta das 17h (de Brasília) por conta de novas confusões. Mesmo assim, a multidão se manteve reunida em frente à Casa Rosada. Os presentes cantavam e resistiam às investidas da polícia para tentar abrir caminho em frente ao local.

O corpo de Maradona foi levado em um cortejo fúnebre para enterro no cemitério Jardín de Bella Vista, a cerca de 35 quilômetros de Buenos Aires. O velório havia sido prolongado para durar até às 19h, mas foi interrompido por conta das confusões.

O circuito do cortejo teve início na Casa Rosada e passaria pela Avenida 9 de Julho, uma das principais vias de tráfego da capital argentina. O trajeto acabou alterado para evitar o prolongamento do aglomeramento público em meio à pandemia do coronavírus. A alternativa escolhida foi a Autopista 25 de Mayo.

O corpo de Maradona deixou a Casa Rosada às 17h45 em um carro, enquanto uma multidão cantava no adeus ao ídolo. A saída se deu sem tumulto. O veículo foi acompanhado de perto por motos e diversas pessoas corriam atrás do carro ao longo do percurso, que teve clima de estádio com cantoria e papel picado.

cortejo - AFP PHOTO / TELAM / LEANDRO BLANCO - AFP PHOTO / TELAM / LEANDRO BLANCO
Cortejo que leva o corpo de Diego Maradona a caminho do cemitério
Imagem: AFP PHOTO / TELAM / LEANDRO BLANCO

Obelisco homenageia craque

Entre as muitas homenagens, uma delas foi bastante emblemática: o Obelisco, situado na avenida 9 de Julho, um dos símbolos de Buenos Aires, foi iluminado com as cores da bandeira argentina e foi projetado o rosto de Maradona com a frase "Obrigado, Diego".

Enterro tem cerimônia intimista

O corpo de Maradona foi enterrado na noite de hoje, na presença apenas de amigos e familiares, no cemitério Jardín de Bella Vista, situado na periferia de Buenos Aires. O local fica no bairro de Bella Vista e é o mesmo onde estão enterrados os corpos dos pais do ex-jogador.

Diferentemente do que aconteceu durante o translado até o cemitério, em que uma multidão foi às ruas se despedir do ídolo, o enterro foi acompanhado por cerca de 30 pessoas. Uma cerimônia religiosa e um clima de dor marcaram o enterro do ex-jogador. Assim como nas ruas, o enterro foi marcado por aglomeração.

O cortejo chegou ao cemitério de Bella Vista por volta das 19h, após mais de uma hora de translado desde a Casa Rosada, sede do governo argentino na capital Buenos Aires, onde mais cedo foi realizado o velório.

A família decidiu mudar a data do sepultamento — que poderia acontecer no fim da semana — nesta manhã. Durante o translado do corpo de Maradona ao cemitério em Bella Vista, uma grande quantidade de pessoas esperava a passagem do ídolo nas ruas, com carros parados e celulares em mãos para um último registro do adeus a Maradona. Por um momento, não parecia haver pandemia, pessoas se aglomeravam, muitas vezes sem máscaras, nas ruas e pontes.