Topo

Inquieto e vibrante: amigos descrevem repórter Romeu César, morto por Covid

Romeu César, o "Fera", tinha 59 anos e não resistiu a complicações causadas pela Covid-19 - Acervo pessoal
Romeu César, o "Fera", tinha 59 anos e não resistiu a complicações causadas pela Covid-19 Imagem: Acervo pessoal

Diego Salgado e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

12/11/2020 04h00

Bons adjetivos não faltaram nas homenagens de ex-colegas ao repórter Romeu César, morto na madrugada de ontem (11), aos 59 anos, depois de complicações causadas pela Covid-19. Repórter de rádio desde a década de 1980, o "Fera", como era carinhosamente conhecido, trabalhou ao lado de nomes como Oscar Ulisses, Paulo Soares, Osmar Garraffa e Luís Roberto.

O quarteto falou à reportagem do UOL Esporte sobre os anos de convivência nos tempos em que houve uma parceria de trabalho na Rádio Globo de São Paulo. O narrador da CBN, Oscar Ulisses, por exemplo, relembrou o perfil de Romeu César como repórter.

"Trabalhei com ele durante anos na Rádio Globo. Ele era um repórter fuçador, inquieto, tinha uma voz marcante, uma voz muito forte e ele foi referência pra muitos aí naquele período. Eu guardo essa imagem do Romeu. Foi um companheirão, sinto saudade dele, eu estava muito tempo sem vê-lo, mas ficou marcado essa época. Na minha cabeça o trabalho que ele fez na Rádio Globo. Só tenho lembranças boas e foi um profissional e referencia para muitos", frisou.

Já Luís Roberto descreveu Romeu César como "amigo, companheiro, inquieto, apurador e talentoso". Ao UOL Esporte, o narrador do Grupo Globo ressaltou o papel de repórter no rádio esportivo brasileiro.

"O Romeu era um cidadão acima de tudo, tinha uma consciência política poderosa, era muito companheiro, era muito simples. O Romeu era um jornalista na concepção da palavra, ele tinha um faro apurador, era um cara que sempre estava ligado. Era muito difícil o Romeu tomar como a gente fala na linguagem do jornalismo, tomar furo, tomar bola nas costas, era muito difícil. Ele foi sempre assim contemporâneo, inovador", afirmou.

"A gente fez um rádio naquela época da rádio Globo que era um rádio meio louco no bom sentido, a gente inovou pra caramba na linguagem e no jeito de fazer. A gente não tinha esses avanços tecnológicos de hoje, então o Romeu sempre topou as maluquices. Além de ser jornalista mesmo, ele sempre teve uma relação com o rádio. Romeu era um repórter muito bom atrás do gol, sempre foi um cara que teve muita leveza, ele era atento no campo e tinha um humor muito picante", completou o narrador da Globo.

Para Paulo Soares, Romeu César tinha características bem marcantes bem ligadas ao rádio. O narrador e apresentador dos canais Disney mencionou, por exemplo, o olhar do ex-companheiro no trabalho atrás dos gols, onde os repórteres esportivos acompanham os jogos.

"O Romeu, como repórter, era muito dedicado. Ele era repórter de rádio mesmo, então tinha uma voz marcante. Ele era muito bom atrás da meta fazendo as transmissões esportivas, muito vibrante, muito técnico, muito limpo no seu linguajar, na forma como descrevia as jogadas. Ele levava o narrador com ele, junto, levantava o narrador. Era um cara muito envolvido com o evento, era um repórter de muita informação, era muito objetivo e além da técnica ele tinha um texto limpo, um improviso muito bom de vocabulário, sem repetição de palavras e sempre assertivo, na mosca, ele diagramava muito bem a forma de como passar a informação, a notícia", afirmou.

Companheiro de trabalho na Rádio Globo por 13 anos, o repórter da Gazeta, Osmar Garraffa, citou o começo da sua trajetória na emissora e o apoio que recebeu de Romeu César. Segundo ele, não havia vaidade, e ensinar os mais novos era prática constante.

"Um cara da velha guarda que me recebeu de braços abertos na Rádio Globo, foi um dos responsáveis pela minha chegada na Rádio Globo. O Romeu nunca teve vaidade, apesar do repórter gigante que sempre foi, ele nunca teve vaidade. Não nos temia num meio tão competitivo. Ele passava toda a sabedoria dele pra gente, um cara de um caráter ímpar, um cara extremamente amigo", afirmou

"É uma perda irreparável para o rádio. Se alguém pensa em fazer rádio esportivo, procure conhecer um pouco a história do Romeu César, que já é o primeiro passo para ser um bom repórter", completou.

Romeu César nasceu na cidade de Franca, no interior de São Paulo, e ficou reconhecido por seu trabalho em grandes emissoras do interior e, depois, na Rádio Globo da capital, onde permaneceu por 20 anos.

Quando deixou a rádio Globo e o jornalismo, Romeu começou a trabalhar como representante de fábricas de sapatos da cidade de Franca e foi assessor político.

Romeu César e a esposa Rosangela foram contaminados pelo coronavírus e ficaram internados juntos na Santa Casa de Valinhos, mas a situação do comunicador se agravou. Foram 20 dias de luta. O "Fera" deixa duas filhas, Luise e Elise, além de quatro netos e a esposa Rosangela.