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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Quem foi o rei africano que dá nome a Kanté e inspira trajetória do astro?

Kanté tem o mesmo nome de ex-escravo que virou rei na África - Getty Images
Kanté tem o mesmo nome de ex-escravo que virou rei na África Imagem: Getty Images

15/06/2021 04h00

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Duas vezes campeão inglês, recém-vencedor da Liga dos Campeões pelo Chelsea e com uma taça de Copa do Mundo no currículo, N'Golo Kanté inicia hoje a corrida que pode fazer com que ele "zere a vida" de um jogador de futebol de primeiro escalão.

O título da Eurocopa é a conquista relevante que falta ao tímido e carismático meio-campista da seleção francesa, que estreia na competição contra a Alemanha, às 16h (de Brasília), na Allianz Arena, em Munique, casa da adversária.

Descendente de imigrantes malineses que se mudaram para a França na década de 1980 e que passaram a ganhar a vida cantando lixo na região metropolitana de Paris, o camisa 13 vive hoje uma profecia feita há 30 anos, logo que ele nasceu.

Seu pai desejava que o filho tivesse um futuro glorioso e não passasse a vida fugindo de guerras e lutando contra a fome. Por isso, resolveu batizá-lo com o mesmo nome de um antigo rei africano, que até hoje é tratado como herói por lá.

N'Golo Diarra foi o comandante do Império Bambara entre 1766 e 1795, período em que conseguiu resgatar do caos seu povo (os habitantes da região onde hoje ficam Mali, Guiné, Burkina Faso e Senegal) e levá-lo a uma fase de grande prosperidade.

Antes de assumir o trono, o N'Golo original era um escravo a serviço do império. Ainda criança, ele foi dado por seu tio ao rei como pagamento por impostos atrasados. Mas uma das mulheres do monarca se afeiçoou pelo menino e resolveu criá-lo dentro da corte.

O rei que empresta seu nome ao hoje astro francês foi o fundador da dinastia Diarra (ou Ngolosi, como ficou mais conhecida), que comandou os Bambaras até a segunda metade do século 19, quando eles foram derrubados e anexados por um outro império africano, o Tuculor.

Mais de 200 anos depois da morte do monarca que inspirou seus pais, Kanté também veio de baixo no mundo do futebol antes de conquistar seu império.

Ao contrário de boa parte dos jogadores do primeiro escalão, ele não foi formado em um clube importante do cenário internacional. Pelo contrário, precisou passar pela terceira e pela segunda divisão francesas antes de começar a brilhar entre os grandes.

A fama chegou junto com o surpreendente título inglês conquistado pelo Leicester em 2016. Na sequência, o meia se transferiu para o Chelsea e se fixou como peça essencial da seleção francesa.

Neste ano, Kanté foi o protagonista da reta final da Champions, conquistada pelo clube londrino. Seu sucesso nas partidas mais importantes da temporada o credenciou como candidato natural aos prêmios de melhor jogador do mundo (The Best e Bola de Ouro), cujas votações serão realizadas depois da Eurocopa.

França e Alemanha estão no Grupo F e ainda terão Portugal e Hungria como adversárias na primeira fase. Os dois times que mais pontuarem em cada chave, além dos quatro melhores terceiros colocados, avançam para a reta final da competição.

O sucessor de Portugal no posto de campeão europeu de seleções será conhecido no dia 11 de julho. O estádio de Wembley, em Londres (Inglaterra), receberá a decisão.

Originalmente, o torneio era para ter sido disputado no meio do ano passado. No entanto, a pandemia da covid-19 fez com que ele fosse adiado em 12 meses.

A novidade desta edição é que não há uma sede fixa. Para comemorar os 60 anos do continental, a Uefa decidiu realizar a competição em 11 cidades espalhadas por 11 países diferentes (alguns que nem classificaram suas seleções).

Além da Inglaterra, sede da última partida, a Euro-2020 (sim, ela manteve esse nome mesmo com o adiamento da data) passará por Itália, Azerbaijão, Dinamarca, Alemanha, Escócia, Espanha Hungria, Holanda, Romênia e Rússia.