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Rafael Reis

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Desvalorização do real "mata" busca por reforços e esfria Mercado da Bola

Rafael Santos Borré era o sonho do Palmeiras para 2021, mas a grana não permitiu - Getty Images
Rafael Santos Borré era o sonho do Palmeiras para 2021, mas a grana não permitiu Imagem: Getty Images

24/03/2021 04h20

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Na semana passada, o Palmeiras anunciou que desistiu da contratação do atacante colombiano Rafael Santos Borré, estrela do River Plate nas últimas temporadas e principal alvo do campeão da Libertadores no Mercado da Bola deste início de 2021.

A alegação da diretoria alviverde é que a proposta originalmente apresentada pelo jogador, cerca de US$ 11 milhões, sem contar os impostos, por quatro anos de contrato, ficou pesada demais para sua situação econômica.

Também pudera: a oferta palmeirense pelo centroavante equivale hoje a quase R$ 61 milhões. Se ela tivesse sido apresentada há exatamente um ano, em março de 2020, o valor que o clube teria de desembolsar para ter o badalado reforço seria de R$ 55,2 milhões.

Essa diferença de quase R$ 6 milhões corresponde ao pesado processo de desvalorização enfrentado pela moeda brasileira, o real, no mercado internacional ao longo dos últimos 12 meses.

Entre março de 2020 e março de 2021, o preço do dólar aqui no país subiu 10,2% (de R$ 5,02 para R$ 5,53). O valor do euro disparou ainda mais: incríveis 22,5% (foi de R$ 5,37 para os atuais R$ 6,58).

Como o Mercado da Bola global funciona à base dessas duas moedas, isso significa que contratar qualquer jogador (especialmente aqueles que estão jogando em outros países) ficou consideravelmente mais caro para os clubes brasileiros no último ano.

Ao lado da queda de receitas provocada pela pandemia da covid-19 (que atingiu todos os países, não só o nosso), essa é a principal razão pela qual os times da elite nacional estão contratando tão pouco nesta temporada.

Mesmo o São Paulo, um dos times que mais têm se reforçado nesta janela de transferências, sentiu o impacto da desvalorização do real e não conseguiu trazer ao Brasil um dos seus principais objetivos da temporada.

Para liberar o volante Gabriel Neves, o Nacional, do Uruguai, pediu ao clube do Morumbi 2,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 16,5 milhões). O time tricolor achou a pedida muito alta e se dispôs a pagar, no máximo, R$ 14,2 milhões.

Só que, na cotação de 12 meses atrás, a proposta são-paulina equivaleria a mais de 2,6 milhões de euros. Ou seja, estaria dentro daquilo que a equipe uruguaia gostaria de receber.

A desvalorização do real também tem atrapalhado os planos de retorno ao Brasil de alguns jogadores que estavam no exterior, recebendo salário em euros e que não parecem muito dispostos a faturar dentro da nova realidade nacional.

O centroavante Diego Costa foi oferecido a vários clubes brasileiros depois que deixou o Atlético de Madri, mas não encontrou ninguém disposto a arcar com seus ganhos. O lateral direito Rafinha, recém-saído do Olympiacos, da Grécia, chegou a negociar com o Flamengo, mas não conseguiu chegar a um acordo financeiro para ser recontratado.

Na contramão do conservadorismo de um mercado abalado por questões econômicas está o Atlético-MG. Impulsionados por investidores externo ao clube, os mineiros ignoraram a desvalorização do real para contratar dois pesos-pesados neste ano: o atacante Hulk e o meia argentino Nacho Fernández.

O primeiro está recebendo cerca de R$ 1,2 milhão mensais, entre salários e luvas. Já o segundo, ex-companheiro de Borré no River, irá custar mais de R$ 70 milhões ao longo dos próximos três anos.