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Rafael Reis

Máfia fraudava exames para Maradona escapar do doping: verdade ou lenda?

Maradona, na época em que jogava pelo Napoli, clube pelo qual fez história - Dave Cannon /Getty Images
Maradona, na época em que jogava pelo Napoli, clube pelo qual fez história Imagem: Dave Cannon /Getty Images

14/05/2020 04h00

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Diego Maradona viveu o auge da sua carreira no Napoli. Entre 1984 e 1992, transformou uma equipe até então pouco expressiva do sul da Itália em potência do futebol mais poderoso da época, conquistou dois títulos da Serie A, venceu uma Copa da Uefa (atualmente, Liga Europa) e virou o maior nome da história do clube.

Usuário de cocaína desde meados da década de 1980, o camisa 10 foi flagrado em um exame antidoping realizado em março de 1991 e acabou proibido de entrar em campo durante 15 meses.

Mas como o astro argentino demorou tanto tempo para ser pego em um teste de utilização de substâncias proibidas, mesmo sendo viciado em cocaína e tendo sido, ao longo da vida, internado inúmeras vezes em clínicas de reabilitação?

A versão mais difundida para essa questão é a Camorra, a máfia napolitana, passou anos e mais anos adulterando os exames realizados por Maradona para que ele não fosse suspenso e fizesse desabar o desempenho do clube da cidade.

Mas será que essa história é realmente verídica? Ou essa é apenas mais uma das várias lendas urbanas que tanto sucesso fazem no mundo do futebol, como o autismo de Lionel Messi e a transexualidade de Marco Verratti?

Bem, não é segredo para ninguém que Maradona tinha uma relação próxima com o grupo que comandava o submundo do crime em Nápoles na década de 1980. Seu companheiro mais próximo na época, Carmine Giuliano, era integrante da Camorra.

Como bem mostra o documentário "Diego Maradona", do diretor britânico Asif Kapadia, lançado no ano passado, cabia a Giuliano fazer com que o argentino não se cansasse da cidade (e do clube). E isso incluía lhe fornecer cocaína, prostitutas e presentes nada modestos.

"De segunda a quarta, eu estava em festas com cocaína. Voltava para casa drogado. Quando via a minha filha, eu ficava com medo e me trancava no banheiro", disse o ex-jogador, em depoimento reproduzido no longa-metragem.

Apesar das festinhas patrocinadas pela Camorra, não há nenhum registro em veículos conceituados de imprensa de que a máfia tenha fraudado exames feitos por Maradona. O que existe é uma declaração do presidente do Napoli na época, Corrado Ferlaino, admitindo que o próprio clube falsificava as amostras.

Em 2003, o dirigente italiano deu uma entrevista ao jornal "Il Mattino" e revelou que a urina de Diego era frequentemente trocada pela de outros atletas quando havia risco de ele ser flagrado no antidoping. De acordo com o cartola, o esquema era de conhecimento de dirigentes, membros da comissão técnica e integrantes da equipe médica.

"Se alguém estava sob risco, pegava um vidro com a urina do outro. Quem ia para o antidoping escondia o vidro por baixo do calção. Em vez de urinar, colocava no recipiente a urina 'limpa' do companheiro", declarou Ferlaino.

O curioso é que mesmo hoje, muito tempo depois de admitir ser um dependente químico, Maradona ainda afirma que foi vítima de um complô quando foi pego no doping em 1991.

Em sua autobiografia, "Yo soy el Diego de la Gente", ele diz que estava limpo na partida contra o Bari, quando foi testado, e que os italianos fraudaram o resultado do seu exame como vingança pela vitória argentina na semifinal da Copa do Mundo do ano anterior.

O doping para cocaína marca o início de uma das fases mais conturbadas da vida de Maradona. Ainda em 1991, ele foi preso em Buenos Aires por porte da droga. No ano seguinte, após o fim da sua suspensão, ele retornou ao futebol para defender o Sevilla. E, em 1994, testou novamente positivo, mas para estimulantes, durante a Copa do Mundo.

O argentino pendurou as chuteiras três anos mais tarde, no Boca Juniors, seu time de coração. Depois, voltou a ter problemas com drogas, teve algumas overdoses, passou por novos tratamentos e, aparentemente, está limpo já há alguns anos.

Apesar de não ter uma carreira tão expressiva assim como treinador, comandou a seleção argentina na Copa de 2010. Desde o ano passado, está à frente do Gimnasia La Plata, que terminou a última edição do Campeonato Argentino na 19ª posição.