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Por que pneus estouraram sem aviso prévio (de novo) no GP da Grã-Bretanha

Lewis Hamilton checa o pneu estourado de sua Mercedes após vencer o GP da Inglaterra em Silverstone - Bryn Lennon/Getty Images
Lewis Hamilton checa o pneu estourado de sua Mercedes após vencer o GP da Inglaterra em Silverstone Imagem: Bryn Lennon/Getty Images

Colunista do UOL

02/08/2020 16h21

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Lewis Hamilton já venceu muitas vezes na carreira - 87 só na F1 - mas pela primeira vez venceu correndo só em três rodas. Com a sorte que costuma aparecer para os mais talentosos, ele viu seu pneu dianteiro esquerdo estourar na última volta, depois que o mesmo já tinha acontecido com seu companheiro e único rival na corrida, Valtteri Bottas. E depois, também, que a Red Bull tinha chamado Max Verstappen para o box para colocar pneus macios e buscar a volta mais rápida da corrida.

Seja como for, uma coisa é certa após o GP da Inglaterra: vamos ouvir falar muito sobre pneus nesta semana, antes que a F1 corra novamente no circuito de Silverstone e (pelo menos esse é o plano) com compostos mais macios do que os usados neste domingo, em que três pilotos sofreram com delaminações praticamente sem aviso prévio.

Carlos Sainz e Valtteri Bottas tinham reclamado de vibrações, e todos sabiam que estavam levando o pneu duro ao extremo em termos de desgaste, até porque fariam pelo cerca de 10 voltas a mais do que o inicialmente planejado porque tinham parado cedo devido ao SC causado pelo que já tinha sido uma batida estranha de Daniil Kvyat. Mas uns foram mais cautelosos em termos de ritmo do que outros, e também foram "protegidos" pelo fato de seus carros gerarem menos pressão aerodinâmica.

É preciso explicar algo aqui: desgaste não é o mesmo que degradação, que é o que acontece normalmente nas corridas da F1. Degradação é mais fácil de detectar porque o tempo de volta vai caindo. Desgaste, ou seja, ir usando a borracha até ela acabar, causa falhas que vêm de uma hora para a outra. E foi isso o que aconteceu neste domingo.

Após a prova, o diretor esportivo da Pirelli, Mario Isola, indicou que o mais provável é que as delaminações - que já aconteceram em Silverstone em 2013 e 2017 - tenham sido resultado da combinação entre o desgaste e detritos na pista. "Pode ser desgaste porque foram muitas voltas no pneu, pode ter sido pelos detritos de outros carros. O nível de desgaste é muito alto, isso é um fato. Vimos isso no pneu de Grosjean, usado por 37 voltas, e em outros também: o desgaste chegou perto de 100%. E é claro que, se o pneu está mais desgastado, é mais fácil ter uma falha se o piloto passar por cima de um detrito porque você não tem tanta borracha para proteger o pneu", explicou o italiano.

O que fazer, então, para a segunda corrida em Silverstone, já no próximo domingo, para a qual a Pirelli vai levar pneus mais macios, na tentativa de dar uma chacoalhada (bem-vinda, aliás, pois a corrida era morna até as falhas) na prova? Como não há um composto mais duro ainda, parece que o jeito vai ser a Pirelli limitar o número de voltas com cada composto, missão difícil uma vez que os limites são diferentes dependendo da maneira como cada carro usa os pneus.

Antes que os pneus estourassem?

Sobrou pouco para se destacar da corrida em si, a não ser um time que deu um passo adiante, mesmo que tímido, e outro que andou para trás. O terceiro lugar da Ferrari no final foi, é claro, devido às delaminações, mas o time teve um ritmo melhor do que era esperado para Silverstone. Isso, pelo menos com Leclerc, que teve um final de semana sem problemas, ao contrário de Vettel (que pouco treinou e ainda sentiu o carro muito diferente, como ocorrera na primeira prova, entre o sábado e o domingo). A saída do time para compensar a falta de potência em um circuito de alta velocidade foi andar com pouca carga aerodinâmica, e o déficit que era de 1s na pista curta da Áustria diminuiu mesmo nos quase 6km de Silverstone. É mais um tapa-buraco do que uma solução em si, mas pelo menos dá mais confiança ao time no próximo final de semana.

Por outro lado, o resultado ruim da Racing Point, com Lance Stroll em nono, andando mais lento que as McLaren e Renault, mostra o risco que eles assumiram ao copiar o carro da Mercedes, abandonando uma filosofia aerodinâmica, mais próxima à Red Bull, que eles vinham adotando há anos: eles não conseguiram direcionar o carro para a condição de pista que mudou de sexta para domingo, e nem para funcionar melhor com os pneus mais duros, que seriam usados pela maior parte da corrida. São esses detalhes operacionais que estão distanciando o que o carro promete em termos de ritmo e a realidade dos resultados.

Mas é claro que há a chance de entender o que aconteceu e tentar de novo no próximo final de semana em Silverstone, para o qual é esperado calor. E muito provavelmente dois pit stops e, com eles, grandes chances de uma prova mais aberta.