Topo

Olhar Olímpico

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Canoagem descobre dívida de R$ 80 milhões e presidente renuncia

Jonatan Maia, agora ex-presidente da confederação de canoagem - Divulgação
Jonatan Maia, agora ex-presidente da confederação de canoagem Imagem: Divulgação

27/10/2021 12h39

Depois de ficar seus primeiros 22 anos com um único presidente, a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) deu posse ontem (27) ao terceiro mandatário em menos de um ano. Jonatan Maia, eleito em março depois da morte do fundador João Tomasini, por covid, renunciou ao cargo depois de descobrir que seu antecessor deixou uma dívida considerada "impagável", de cerca de R$ 80 milhões.

"De imediato, quando assumi este posto, decidimos que era necessário a contratação de uma auditoria externa independente para obtermos uma real situação da entidade e buscar uma transparência em todo o processo. O relatório apresentado pela auditoria externa identificou um passivo de mais de 80 milhões de reais e infelizmente a inviabilidade financeira para o pagamento destas dívidas", explicou Maia em carta. Procurado pela coluna, ele não aceitou dar entrevista.

A carta de renúncia do dirigente gaúcho foi entregue na sexta-feira da semana passada, quando Rafael Girotto, eleito vice-presidente, assumiu o cargo de presidente deixado por Maia. Ontem, uma assembleia virtual confirmou a posse de Girotto, que tem apenas 31 anos, foi atleta de canoagem descida, modalidade que não é olímpica, e vem do Mato Grosso do Sul, estado sem tradição na canoagem de alto rendimento.

Ele vai comandar uma confederação quebrada e que, há menos de dois meses, informou que estava encerrando suas atividades administrativas. Todos os funcionários foram demitidos — alguns seguem colaborando sem receber salários — e a funções de gestão do esporte de alto rendimento passaram para o COB, no caso das modalidades olímpicas, e para o CPB, nas paralímpicas.

Fundador e presidente da confederação desde 1989, João Tomasini morreu em janeiro, vítima da covid. Nos últimos anos de gestão dele, principalmente graças ao talento de Isaquias Queiroz, a entidade recebeu enormes verbas públicas e conquistou medalhas olímpicas e mundiais. Mas ele comandava a confederação como um feudo e a comunidade não tinha ideia do tamanho do buraco financeiro no qual a canoagem se enfiou.

O grosso da dívida apresentada em um relatório financeiro entregue ontem às federações vem da época dos bingos, quando confederações olímpicas tinham permissão para operar locais de jogos de azar e repassavam essas chancelas a empresas privadas. No fim da década de 1990, dois bingos que, para fins legais, pertenciam à CBCa, não pagaram impostos municipais, em dívidas que hoje somam R$ 72 milhões, de acordo com o relatório.

Tomasini e a confederação nunca acionaram legalmente os reais proprietários desses dois bingos localizados em São Paulo, o Plaza e o São João, e é a CBCa que tem sido executada. Em um dos processos, a dívida é de R$ 39 milhões.

Mas há várias outras dívidas também, mais recentes. Só para terceiros a quem pediu empréstimo a confederação deve R$ 1,1 milhão. A fornecedores, mais R$ 300 mil. Em impostos, a dívida é de mais de R$ 4 milhões. Além disso, uma entidade de fachada aberta para receber dinheiro do patrocínio BNDES, de nome Academia Brasileira de Canoagem, que não tem atividade desde 2018, deve mais pelo menos R$ 750 mil.

A CBCa não tem fonte de dinheiro privado, exceto inscrições de campeonatos e taxas federativas, que não chegam perto de serem suficientes para começar a quitar as dívidas.