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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Hipismo mundial não reconhece comando da confederação brasileira

27/02/2021 04h00

A Federação Internacional de Hipismo (FEI, na sigla em francês) decidiu não reconhecer o resultado da eleição da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) realizada com muito burburinho há um mês. A entidade internacional, assim, não reconhece Kiko Mari, declarado eleito, como o mandatário do hipismo nacional.

"Decidimos, por enquanto, não reconhecer o resultado dessas eleições. Embora a FEI esteja preparada para fazer tudo que for possível [para] contribuir para uma solução que resolva esta situação o mais rapidamente possível, somos obrigados para aguardar o resultado dos processos judiciais antes de tomarmos qualquer outra iniciativa", disse o presidente da FEI, Ingmar De Vos, em carta endereçada a Doda Miranda e encaminhada também a várias autoridades regionais do hipismo.

"Tenha certeza de que estamos plenamente cientes de que esta situação precisa ser resolvida com urgência a fim de limitar os danos desta disputa para a comunidade e indústria equestre no Brasil e que, por meio de nossos vários canais, estamos tentando exercer a pressão necessária", afirmou De Vos, completando que a FEI está preparada para mediar os diálogos e, no caso de novas eleições serem organizadas, tem a intenção de nomear um observador independente para supervisionar o pleito.

A CBH diz que foi pega de surpresa com essa postura e que a votação foi legítima. "A CBH vem trocando correspondências com a FEI desde o dia 3 de fevereiro no sentido de explicar que a eleição da nova diretoria foi integralmente de acordo com seus estatutos e com a legislação brasileira", comentou a entidade, em nota, ressaltando ter "absoluta convicção de que o entendimento da FEI será revisto e que o devido processo legal irá prevalecer".

Parte significativa da comunidade do hipismo no Brasil não reconhece Kiko Mari como presidente da CBH. No fim de janeiro, o grupo de oposição, que diz que teria maioria se todas as federações filiadas e todos os atletas do colégio eleitoral pudessem votar, se retirou da sala onde acontecia a assembleia eletiva se queixando que eleitores de seu grupo estavam sendo impugnados.

Do lado de fora dessa sala, no corredor, mas dentro do centro de convenções citado no edital de convocação da eleição, a oposição fez uma votação e elegeu Barbara Laffranchi como presidente. Dentro da sala, o grupo de situação também realizou uma votação e elegeu Kiko Mari. Ronaldo Bittencourt, do mesmo grupo político de Mari, deu posse ao seu aliado.

O episódio incomodou atletas, proprietários e criadores de cavalos. A Federação Paulista chegou a cancelar todo seu calendário, como forma de pressão, mas o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do Hipismo determinou que as competições precisavam obrigatoriamente acontecer.

"Diante dos fatos comprovados nos autos, malgrado até a incoerência entre realizar a primeira etapa do evento e não as seguintes, tendo como único fato nesse interregno a realização das eleições da CBH, dúvida não há de que o resultado das urnas está interferindo na realização do esporte, circunstância que, nesse juízo preliminar, indica a necessidade da providência liminar pretendida pelo requerente", escreveu o presidente do STJD, Marcelo Jucá, ao julgar a liminar.

Um Concurso de Saltos Nacional está marcado para a semana que vem, mas ao menos 300 cavaleiros e amazonas já anunciaram boicote.

Confira a carta da FIE:

Carta da FEI - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Carta da FEI, parte 2 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Confira a nota da CBH:

A Confederação Brasileira de Hipismo vem trocando correspondências com a Federação Internacional de Hipismo desde o dia 3 de fevereiro no sentido de explicar que a eleição da nova diretoria foi integralmente de acordo com seus estatutos e com a legislação brasileira.
Por isso, nos causa surpresa a manifestação da entidade no sentido de não reconhecer, até o momento, a escolha legítima de Kiko Mari para comandar a modalidade no país.
Importante destacar que o Comitê Olímpico do Brasil, órgão máximo do esporte no país, reconheceu a lisura do pleito e já trabalha em conjunto com a CBH na preparação de nossos cavaleiros para os Jogos de Tóquio.
O ofício da FEI a um cavaleiro específico, com forte inclinação política, causa espanto e gera preocupação de que o organismo internacional esteja irresponsavelmente querendo interferir na decisão soberana da comunidade do hipismo brasileiro.
Temos absoluta convicção de que o entendimento da FEI será revisto e que o devido processo legal irá prevalecer.